Gabriela entrou no chuveiro depois que Low saíra do cômodo. Regulou a temperatura no quente para desatar os nós que aquela situação construiu em seus ombros. A água talvez estivesse mais quente que o necessário, mas ela não alterou; era uma punição quase que inconsciente. Não podia acreditar em si, o que causara? Estava decidida do seu caminho, mas aquela baiana bagunçou tudo... Por que era tão difícil se desligar dela?
Ficou ali por mais tempo do que deveria. Perdida em pensamentos, em frases de conforto e em autopunições. Pensou em todas as possibilidades de consertar aquilo, mas nenhuma lhe parecia perfeita o suficiente que não deixasse alguém magoada. Gabriela fechou os olhos e pediu tranquilidade para lidar com aquilo. Pensou em todos os momentos ruins que vivera com a namorada e percebeu que todos se resolveram, por mais impossíveis que se mostrassem de início.
Viu Maria Laura encolhida debaixo dos lençóis e reprimiu o impulso de acolhê-la. Não saberia se sua presença seria o conforto que ela precisava. Ainda assim, caminhou até ela, sentando na ponta da cama. Conseguia enxergar os contornos da amada, mas não podia ver seus detalhes. A única luz do ambiente era tão fraca que agradeceu mentalmente por não poder ver sua dor exposta.
– Linda... Cê quer conversar? – disse, tocando o que achou ser sua perna coberta pelos lençóis. A única resposta que obteve foi um leve balançar da cabeça de Maria Laura, em sinal negativo. Cobriu-se mais, desejando ser invisível.
Gabriela levantou, triste, e apagou a luz do banheiro. Deu a volta pela cama e deitou-se de frente para Maria Laura. Buscou juntar seus pés aos dela embaixo do edredom, mas ela os recolheu. Antes que Maria Laura conseguisse virar de costas para Gabriela, sentiu um toque gelado e trêmulo em suas mãos. Respirou fundo agradecendo por não poder ser vista. Sabia que seu rosto estava completamente inchado de tanto chorar só pela sua cabeça que pulsava em lugares diferentes.
– Eu sinto muito pelo que eu fiz. Você não merece nada disso. – Gabriela sussurrou, recebendo apenas silêncio em troca. – O que cê quiser que eu faça, eu vou fazer.
– Gá, eu não quero conversar. Me deixa quieta. – Low manteve a voz firme. Sabia que se vacilasse abriria margem para uma Gabriela chorosa e arrependida. O que ela não duvidava que fosse verdade, mas não estava pronta para lidar com aquilo. Sua vontade era chorar o que tivesse que chorar naquele momento.
– Eu sei que cê se fecha quando ta mal, mas eu preciso entender tudo isso. Preciso saber o que você acha, sei lá, você tem que me falar o que viu...
– Eu já te falei o que eu vi, o que eu senti, o que eu pensei... – falava pausadamente, respirando a cada palavra tentando não demonstrar suas fragilidades. – Cê sabia de tudo, ow. Agora, sou eu que quero saber. O que você viu? O que sentiu? Foi bom?
Sentiu a raiva subir dentro de si. Maldita hora em que concordou que seria bom elas conversarem. Gabriela era tão impulsiva que não deveria nunca ter duvidado do risco daquela situação. Mas de que adiantaria estar com alguém que sabe ter desejos por outra pessoa? Seria mesmo válido proibi-la de ver Carolina quando sabia que a sua vontade era justamente o contrário? Sabia agora, depois de vê-la chegando naquele estado, que tudo o que pensou de fato aconteceu. Afastou a vontade de saber detalhes, não havia motivos para se torturar aquela forma. As marcas no corpo de Gabriela já cumpriram esse papel.
– Isso não é necessário. Você não é assim, Maria.
– Olha o que você faz comigo, véi. – olhou para o teto, soltando-se das mãos de Gabriela. Conseguia enxergar alguns objetos no quarto e olhou pelas frestas da cortina. Dali a pouco amanheceria e aquela seria mais uma noite mal dormida. Situação comum em sua vida, mas o motivo daquela, em especial, era dilacerante. Estava em um buraco com Gabriela que parecia não ter saída. – O que você sente por ela? O que ela... Vocês conversaram?
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Teus Olhos
FanfictionGabriela Hebling e Carolina Peixinho tiveram um encontro único. Mas é preciso muito mais para permanecer.