Capítulo 19

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Carol entrou apartamento adentro. Não poderia negar que seu coração tinha titubeado com o pedido. Ver Gabriela falando derretida daquela forma a lembrara da última festa na casa, quando a viu chorar."Só de saber que a gente não vai ta mais aqui, acordando... O seu abraço... Essas coisa tudo.", ouviu a voz da percussionista em sua mente. Fechou os olhos e respirou fundo. O que Carol sentiu naquele momento era difícil de explicar. Sua vontade sempre fora que continuassem na vida da outra, dando quantos abraços fossem possíveis. Era a mesma sensação que passava agora, ouvindo Gabriela pedir que ficasse.

– Eu não vou ficar Gabi. Nem aqui, nem na sua vida. – disse, abrindo os olhos. Assustara-se com tamanha tranquilidade que exprimiu em sua voz, afinal sua garganta estava incrivelmente fechada naquele momento. – Eu tava saindo, sabe, nega? E parei pra me perguntar que porra eu tava fazendo da minha vida. Você não quer me querer. Sabe? Cê acha insuportável a ideia de gostar de mim. Eu não sei porque e, sinceramente, não quero saber. É que eu mereço mais que isso. Eu mereço alguém que além de gostar de mim, goste do que sente. – Carol encarava as costas da mulher que não se virou quando ela entrou. Engoliu a seco, numa tentativa falha de umedecer a garganta. – Eu já reparei que você só gosta de ficar comigo nesses quartos de hotéis, escondida. Você tá se escondendo de quem, Gabi? Não dá pra fugir de você. Não dá pra fugir daí de dentro.

Gabriela estava imóvel, ouvindo tudo que a baiana tinha para dizer. Tentou manter seu peito parado, se assim permanecesse talvez Peixinho fosse embora. Quem sabe ela desistisse de dizer o que voltara para avisar? A paulista não queria ouvir, porque ao ouvir  tornaria real. O fim estava ali, a espreita, esperando para ser anunciado. Se visse Peixinho choraria e não era essa a lembrança de si que deixaria para a mulher.

– Eu errei muito com você, Peixinho. Mas errei muito comigo também. Se eu tive sido sincera desde o começo, se tivesse assumido pra mim o que eu queria, teria evitado tanta dor... – Gabi falava, com as mãos no rosto. Não aguentou e olhou Peixinho. A pequena estava séria, reta, intocável. Gabriela procurou qualquer sinal que fosse em seu rosto, algo que lhe tranquilizasse, mas não achou. Seus olhos eram tão negros e tão profundos que Gabi nem pode achá-la ali. – Eu causei tanta dor aqui dentro pelo que eu fiz...

– Vei, cê tava lá beijando tua ex e eu que nem uma retardada pensando em você na praia! – Peixinho desmontou. Como pó, sua armadura se desfez e ela quase gritava. – Cê nem falou que tava com ela, Gabriela! O que foi? Se desse certo cê ia ficar com ela e ia só dizer que não dava pra vir? Qual o teu problema?

– Desculpa. – Gabi falou baixinho, envergonhada. Sabia que não tinha o que dizer, nada que saísse da sua boca revelaria o que carregava em seu coração. Pediu desculpas apenas para não parecer uma completa idiota. Ela não esperava que Peixinho a perdoasse.

– Não, Gabriela. Não vou te desculpar. Eu queria uma vida com contigo, velho. Mas quando eu saí daqui me perguntei se ainda ia confiar em você. E não dá pra ficar com quem a gente não confia.

– Cê tem razão, Carol. Sério, eu queria poder dizer algo, queria lutar por você, mas não acho que você merece essa bagunça que se instalou em mim. – Gabriela chorava copiosamente e suas palavras eram interrompidas pelos soluços de seu choro. – Eu te entendo. E não fiz isso por querer.

– Se você quiser ficar aqui, fique o quanto precisar. – Carol quis encerrar o assunto. – Ainda podemos sair pra algum lugar, não sei, lhe mostrar a cidade...

– Não faz sentido. – Gabi interrompeu. – Tudo aqui me lembra você.

– Então posso arranjar uma passagem pra você.

– Pode ser.

– Então eu vou indo. – Carolina caminhou para a porta. – A gente se vê por aí.

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