Capitulo 2.

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Gabriela levantou-se da cama, quebrando o tempo que estava paralisado. Não conseguia continuar quieta, mesmo que isso significasse a atenção de Maria Laura a si. O que falar? Andou despreocupada até a varanda acendendo outro cigarro. Sentia os olhos pesados de Maria em suas costas e ainda assim não conseguiu encará-la.

Esquece Carol Peixinho. – a voz da amiga ecoou em sua mente. "O que ela quis dizer com aquilo? Será se aquela situação era um teste? Maria Laura estava testando para saber a validade da relação das duas? E se aquela resposta determinasse o futuro da relação?"

– Você ta fazendo de novo. – Low quebrou o silêncio.

– O que? – Gabriela virou-se, tentando ganhar tempo antes de decidir o que responder.

– Ta pensando demais... Fala o que você ta sentindo, deixa fluir. Não tem câmeras aqui, ninguém ta te observando. – Low estava impaciente. Toda sua fragilidade fora exposta e Gabriela não confirmava o motivo de seus pesadelos.

"Você ta" pensou a negra. Tragou o cigarro com tanta vontade que era como se estivesse tentando prolongar toda ação antes de responder. Não havia decidido ainda se seguiria o conselho de Eliara ou se seria sincera com Low.

– La dentro é tudo muito confuso, linda. – foi vaga. – A gente não sabe se as pessoas estão sendo sinceras com você ou se é por interesse em não ser votada. Eu senti muita coisa, pensei muito também. Teve o desejo, sim. Mas não só por ela. Você sabe, os sonhos... A gente começa a fantasiar algo pra poder saciar a falta de... Não que eu tenha fantasiado algo com ela, digo isso no geral – "droga", pensou. Gabriela começou a se enrolar com as palavras e havia ido por um caminho que não planejara. Respirou novamente, segurando as palavras erradas. Precisava de cautela.

Maria Laura levantou-se e caminhou até ela, tomando o cigarro de suas mãos. Agora quem precisava se acalmar era ela. Tragava e olhava pela janela, sentido o olhar culpado da mulher que amava. Se perguntou por um segundo se aquele era mesmo o momento certo para aquele assunto, mas agora era tarde.

– O que eu quero dizer é que tinha um carinho, sabe? – Gabriela continuava falando. – O toque me mostrou que ali tinham pessoas reais. Então, era gostoso estar daquela forma com ela. Dava uma tranquilizada e uma relaxada porque eu via que não estava entre competidores o tempo todo, era como se... Eu não sei, de alguma forma, eu me sentia cuidada. Não era proteção... Era cuidado mesmo.

– Eu sei, você falou isso inúmeras vezes pra ela... Eu nem sei por que to perguntando isso, é que aqui fora as pessoas torciam tanto por vocês que eu comecei a me sentir insegura, sabe? – Low decidiu desabafar. – Mesmo Eli me tranquilizando, falando que era imaginação de gente que não te conhecia, eu senti medo.

– Medo de que?! – Gabriela começava a entender o porquê daquele aviso de Eliara quando saiu do programa. A amiga sabia que não teriam tempo depois daquele momento e precisou lhe alertar sobre o que viria a seguir.

– Sei não, amor. Você falou que se conheceu mais, da sua autoestima. Tantas coisas boas que eu comecei a me questionar se eu era boa, se eu te colocava pra cima o suficiente, sabe? – Low começou a chorar. Era um choro comedido, silencioso. Se acostumara a chorar assim antes de dormir.

– Ta doida?! Low, você sempre me enxergou como poucas pessoas! Meu deus, você sempre me exaltou, eu que não conseguia ver tudo isso em mim! – então era isso. Eliara sabia o quão despedaçada estivera Maria Laura e por isso falara em esquecer Peixinho. Gabriela abraçou a ex, e fez carinho em seu cabelo. Não acreditava que os seus sentimentos pela baiana estiveram tão explícitos a ponto de fazer com que Maria duvidasse de si.

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