Capítulo 16

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– Oh, linda, como que tá minha agenda pra agosto?

– Ah, não tem muita coisa marcada, não. Cê sabe que as coisas só aparecem em cima da hora. Cê recebeu alguma proposta? – Low animou-se ao pensar em algum trabalho grande. Gabriela levantou-se do sofá em que estavam sentadas e saiu para a área externa, onde os cachorros da ex brincavam. Acendeu um cigarro e viu a mulher vir logo em seguida.

– É um rolê que me ofertaram. Acho que seria umas duas semanas... – Gabriela falou, oferecendo cigarro para Low, que recusou. Era a segunda vez que se viam desde o término e reparara que a mulher sempre mantinha uma postura distante.

– Duas semanas? O que é? – estava cada vez mais curiosa com um trabalho grande como aquele. – Cê tá fazendo esse suspense todo, eu tô ficando nervosa...

– Não é trabalho, é algo pessoal.

– Ah. – murchou imediatamente, transparecendo em sua voz. – Acho que dá sim pra tirar essas duas semanas, ainda mais você falando com antecedência. Me diz as datas que eu não marco nada pra esses dias. – já tirava o celular do bolso da calça jeans para fazer as anotações. – Dependendo da cidade a gente já pode até conciliar algo, se você quiser misturar...

Gabriela respirou fundo. Não queria dizer a cidade porque sabia que ela entenderia tudo. Mas se não dissesse, ficaria sabendo de qualquer forma pela internet. Respeitava muito sua relação com Low, mesmo não lhe devendo explicações do que faria, não queria que ela soubesse de qualquer jeito como se fosse qualquer pessoa em sua vida. Ela não era.

– É em Salvador.

Maria Laura levantou o rosto e olhou para Gabriela, por uma fração de segundo. Se a cantora não estivesse esperando sua reação não teria visto o relance de dor em seus olhos. Logo voltou a olhar para seu celular, engolindo em seco. Sua voz saiu mais baixa do que o tom que usava anteriormente, mais contida também. Mesmo assim, não transpareceu nada do que sentia naquele momento.

– Tem umas empresas bem fodas lá. Alinhadas com o que você quer passar pro teu público. Vou preparar tua agenda de agosto e divulgar. Se aparecer alguma você vai querer aceitar?

– Na verdade, eu não quero divulgar isso agora. Ainda não combinei nada com a Peixinho, não sei as datas direitinho. – percebeu a mulher contrair-se a ouvir o nome de Carol, mas continuou falando, tentando soar o mais natural possível. – Não sei se é legal misturar esses dias com trabalho, mas posso analisar caso a caso.

– Gá, acho bom cê decidir logo. Não quero ficar te ligando no meio da tua viagem pra falar de empresa que quer fechar algo contigo. Pensa direitinho e me diz. – guardou o celular no bolso e abaixou-se para passar a mão em um dos filhotinhos que tentava morder seu calcanhar. – Cê já olhou o currículo das meninas que eu te mandei? São todas muito fodas, tão super empolgadas pra trabalhar contigo.

– Olhei, mas não gostei de nenhuma. – falava tentando ver o rosto da mulher. Doía-lhe muito ver Maria fria daquele jeito, não estava acostumada com aquilo. Queria saber o que ela estava pensando sobre sua viagem, sobre ter mencionado Peixinho, mas não iria perguntar. Ainda restava um pouco de bom senso, afinal.

– Cê tem que parar de colocar defeito em todas que vê. Tá dispensando mó galera por coisa pequena... Cê não é assim, meu. Que tá acontecendo?

– Sei lá, você é perfeita pra isso e eu não consigo achar ninguém igual a você. – desabafou.

– A gente já conversou sobre isso. – Low levantou-se, pedindo o cigarro que Gabriela tinha nos dedos. – Eu não tenho condições emocionais de continuar trabalhando com você.

Teus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora