Carol e Gabi conversavam sobre a situação. A baiana queria prosseguir com a denúncia, para mostrar para as pessoas que não se deve sair falando qualquer coisa na internet, mas a cantora não concordava. Achava que quem ia pagar era a mãe das meninas, que possivelmente seria demitida do trabalho por um erro de terceiros.
– Você sabe que ela tá errada em ter te abordado no corredor no horário de trabalho dela, né? E pelo que Natália me falou, isso era comum já que a menina fazia tititi com as amigas sobre outras pessoas que estavam hospedadas lá.
– Eu sei, mas não acho justo que ela seja demitida por querer fazer um agrado pra filha... – Gabriela deitou novamente, olhando para o teto. Detestava a situação em que estava.
– Você não acha justo porque se sente culpada pela demissão dela. – Carol deitou-se de bruços ao lado da mulher. – E nem sabemos se isso vai acontecer mesmo.
– Claro que vai, Carol. – passou a mão pelo rosto. – Cê acha que o hotel vai deixar isso passar assim de boa? Eles não vão querer associar a imagem deles com um processo. Vão deixar ela se ferrar sozinha. Ela deve ter trabalhado a vida toda com isso e ninguém vai mais querer aceitar ela em lugar nenhum.
– É, mas ela precisa entender que divulgar coisas dos outros, mesmo que pra filha, não tá certo... Sei lá, Gabi, fico pensando em quantas pessoas passam por isso, sabe? – Carol rolou pela cama, deitando-se. – Imagine aí, quantas pessoas tiveram seus segredos vazados por causa de pessoas assim? Coisas pessoais que os outros julgam saber, apostam, como se não fosse nada? Pô, é a tua vida ali!
– E se eu conversar com ela? Sei lá, falar pra ela parar com isso... – Gabriela se sentia muito mal com toda aquela situação. – Eu fico mal... Mal pra caramba, porque sei que é uma família que depende daquilo, sabe? E perder tudo assim.
– Cê tá viajando, nega. Você não sabe se elas dependem só daquilo, se é só elas duas, enfim... Também não é assim. – Carol olhava para a mulher que não a olhava de volta. Gabriela estava com os olhos fechados e quando os abriu estavam cheios de lágrimas.
– Eu já vi muita gente nessa situação. É é foda... Argh! – suspirou. – Eu sei como é pra uma mulher preta ser julgada por um erro. Não consigo fechar os olhos pra isso, é deixar que ela se vire sozinha, porque eu sei que a gente não pode vacilar em nada.
– É, mas aí eu que vou me foder por um erro que não é meu. – Carol respirou. – Veja pelo meu lado, também.
Gabriela levantou-se, coçando a cabeça. Estava agoniada com tudo aquilo. Queria que Peixinho a entendesse mas também entendia o lado da baiana. Procurou seu cigarro, não se preocupando em ainda estar nua. Aliás, essa era a última das suas preocupações. Viu Carol surgir ao seu lado com sua cartela nas mãos e sorriu sem graça. Acendeu o cigarro com sua camisa entre os dedos, preparando-se para vesti-la.
– É tão ruim pra você saberem que esteve comigo naquela situação? – falou com o fumo entre os lábios.
– Quê?! – Carol foi pega de surpresa. De todos os questionamentos que rondavam sua cabeça, aquele nem chegara perto de ganhar destaque. – Não é isso. Pare de insinuar coisas nada a ver, bicho.
Saiu de perto da cantora, balançando a cabeça negativamente. Gabriela só poderia estar de brincadeira. Dissera que estava apaixonada por ela e era isso que recebia em troca? Desconfiança? Ora, Carol se achava mulher o suficiente para assumir para qualquer pessoa o que sentia pela paulista. Por que Gabriela insistia em achar o contrário? As vezes, parecia que quando estavam juntas tudo estava bem, mas sempre que o mundo real entrava na equação a suas vidas não eram tão próximas como gostaria. A bolha delas era perfeita demais, porém tão frágil quanto.
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Teus Olhos
FanfictionGabriela Hebling e Carolina Peixinho tiveram um encontro único. Mas é preciso muito mais para permanecer.