Era uma Sexta-feira à noite.
Normalmente Laura e eu saíamos às Sextas-feiras para comemorar as vitórias e crimes resolvidos da semana. Digo normalmente porque apenas aquele dia específico da semana eu tinha paz, uma paz que era excessivamente tirada de mim pelo meu chefe quando por ventura recebia suas mensagens de "convocação urgente".
O aparelho em minha mão apitou pela décima vez.
- É melhor você ver a mensagem, se ele está tão ansioso assim deve ser importante Gina. - Laura, com sua doce ingenuidade de sempre, resolveu opinar.
- Laurinha, minha doce criança. - eu suspirei.
- Já falei para não me tratar como se eu tivesse dez anos de idade. - ela retrucou irritada.
- Você quer resolver esse caso? - perguntei estendendo o aparelho para ela.
- Claro que não, você é a mais velha aqui. - a safada ergueu as mãos em protesto.
Veja bem, eu a adorava. Laura era a melhor agente que o Marco poderia ter, ela era astuta, sabia lutar como ninguém e era viciada em história (coisa que para o nosso ramo era realmente algo de valor). Se Marco tivesse uma plaquinha de empregado do mês, ou de jovem prodígio com certeza essa plaquinha seria de Laura, a pequena miserável era brilhante. Mas vendo ela me afrontar daquela maneira, eu tinha muita vontade de voar em seu pescoço e cometer sororicídio.
E o aparelho continuava a apitar irritantemente.
Laurinha de pronto tirou o aparelho de minha mão e apertou o botão para receber a mensagem, impaciente que era.
Apareceu a imagem de um homem corpulento, olhos bem pequenos e de sorriso falsamente amigável em seu terno risca-de-giz pateticamente fora de moda. Era Marco Ferracini, nosso chefe de agência.
- Regina... - ele assentiu solenemente.
- Não posso descansar? - perguntei ultrajada.
- Não quando ainda temos Montanari para investigar. - Marco cuspiu as palavras em minha face, não literalmente graças a deus.
Explicando a situação desconcertante onde o meu chefe me encarava indignado e minha irmã caçula assobiava para o vento como se fosse a branca de neve.
É o seguinte, alguns meses atrás Marco me encarregou de investigar um caso específico, um caso de um mafioso super inteligente do século XX. Segundo Marco, esse caso seria uma mina de ouro para mim e para a agência dele, então eu teria porque teria que desvenda-lo.
Particularmente eu não sou muito fã de lidar com mafiosos, são chatos, sem planos fixos, prepotentes e se acham reis do mundo do crime. Eu gosto de lidar com criminosos organizados, criminosos realmente inteligentes. Gosto de desvendar os segredos e casos que ao longo da história fizeram a humanidade se arrepiar.
Você deve estar se perguntando: "Quem essa maluca pensa que é?". Por isso vou explicar o que somos e o que fazemos. Somos detetives. Detetives de uma agência ultrassecreta. Ok? Ok. Contudo não somos detetives comuns de agências ultrassecretas comuns. Nós somos a ARCIT (Agência Regente de Crimes Intertemporais), nosso trabalho é basicamente “Temos um problema e a causa desse problema está no passado, então teremos que visitar o passado com nossos dispositivos de viagem no tempo, tomar notas suficientes para desvendar o crime sem interferir em qualquer mínimo detalhe que seja”. Tem sido fácil para nós, somos detetives muito bem treinados. E eu venho me destacado nos últimos anos com casos maravilhosos e horripilantes. Até que Marco decidiu me encarregar do caso Montanari para me tirar dos “holofotes”, porque seria um grande problema para ele se os famosos criminosos do nosso presente colocassem os olhos na querida jóia da ARCIT. Não é para me gabar, mas Marco morreria se os malditos déspotas do nosso tempo interferissem na agência ou se algo acontecesse a mim e aos (mais que protegidos) detetives da agência.
Mas voltando ao caso Montanari, era apenas um contrabandista que seus feitos aterrorizantes causou grandes problemas em um banco famoso da época que acabou explodindo uma jóia famosa da época. Meu trabalho era apenas descobrir os planos de Montanari, descobrir a localização do banco e consequentemente da jóia e retira-la antes da explosão acontecer. Apenas isso, como tirar doce da boca de uma criança.
Eu implorei e implorei mil vezes a Marco para dar o caso a outro detetive, mas ele insistiu que não me daria nenhum outro grande caso se não resolvesse o caso de Montanari primeiro, e por esse motivo “estávamos de mal".
- Você não pode fugir desse caso para sempre Regina. – ele disse em voz forçadamente calma. – Veja bem, será bom para você ficar fora dos..
- Holofotes. – eu o interrompi. – Marco eu não preciso desse sentimentalismo todo.
Ele me encarou por longos minutos, ou a imagem dele me encarou por longos minutos e eu o encarei de volta, até que Laura resolveu dar a primeira palavra.
- É, tudo bem. Eu vou marcar uma reunião com o grupo já que vocês vão ficar aí nessa disputa de quem pisca primeiro até Regina desistir e falar que vai resolver o caso apenas nas condições dela. – ela disse com uma voz arrastada de impaciência.
- Tudo bem, eu vou resolver o caso, mas nas minhas condições. – eu respondi a Marco, ignorando totalmente o que minha irmã caçula acabara de dizer.
- E eu não disse? – ela suspirou.
A reunião começou no sábado de manhã bem cedo. O que fez os detetives que foram convocados insultarem Marco até a quinta geração. Laura estava animada como sempre, ela adorava as reuniões porque era a oportunidade perfeita dela demonstrar sua inteligência e os planos engenhosos de seu cérebro brilhante. E por deus, como ela era irritante quando recebia elogios.
- Então, esta é a ficha de Alonso J. Montanari. Nascido 26 de janeiro de 1902, em Florença. Morto em 19 de abril de 1943, na Inglaterra. – Laura declarava em alto e bom som para todos dentro da sala de reuniões.
- Pule para os fatos mais importantes, minha querida. – interrompeu Robert, um detetive tão antigo da ARCIT que provavelmente deve ter saído de um museu.
- Deixa ela terminar Carlyle. – defendeu August, um jovem playboy que dava em cima da minha irmã o tempo inteiro.
A ingênua Laura sorriu e continuou a sua palestra.
- Montanari se mudou para o Reino Unido ainda jovem, com o seu tio Fabian Montanari, que também era um grande lixo humano. – ela declarou. – Ele se casou umas três vezes em um período muito, muito curto mesmo. Ele era um homem passional, além dos casamentos ele tivera vários casos, tanto passionais quanto a sua alma impulsiva.
- O que isso vai ajudar no caso? – dessa vez fui eu que interrompi.
- Isso nos leva a última pessoa que teve contato com Alonso antes da explosão. – ela me respondeu.
- Ah ótimo, eu vou ter que ir atrás da ex do cara? – reclamei.
- A jovem, foi um tanto importante para Montanari, ela será bastante útil. – e quem salvou a pátria com a declaração desta vez fora Marco, a fim de quebrar todos os meus argumentos.
Laura entregou suas fichas e registros meticulosamente encapados e perfeitos, com diversos detalhes sobre a vida de Montanari desde seus primeiros passos à sua última refeição em 1943. Por vezes ela me irritava bastante com esse jeito nerd controladora, mas não posso negar que fazia um trabalho excelente.
- Então Robert cuidará da manutenção dos aparelhos e verificar a cada segundo as atualizações e progressos. – Laura continuou declarando as funções de cada um. – August o seu trabalho será despistar e apagar qualquer vestígio que Regina deixar para trás.
- Eu nunca deixo vestígios. – murmurei enquanto ela continuava o discurso sem me dar atenção.
- Marissa e eu ficaremos com a parte mais divertida, a papelada. – ela sorriu para a detetive mais jovem na sala que logo revirou os olhos para o conceito de diversão da minha irmã.
Eu por outro lado encarava atentamente uma das fichas em minha mão, onde tinha muitos detalhes de vida sobre a moça a quem tinha que espionar sigilosamente para conseguir informações. A foto mostrava a imagem de uma jovem mulher sorridente com seus cabelos loiros ondulados e lindos olhos verdes. Emma C. Swan, dizia as letras por cima da foto. Emma C. Swan era a porta para obter os meus grandiosos casos outra vez. Talvez com a ajuda involuntária da jovem Emma C. Swan o caso Montanari não fosse tão terrível assim.
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A Garota Impossível
Science FictionRegina é uma viajante, não uma viajante qualquer. É a mulher que visitou eras, monarquias e ditaduras, presenciou guerras, grandes conflitos e quedas de impérios. A grande espiã de um futuro distante, acostumada a lidar e investigar o terror e fatos...