Existem certas situações na nossa vida em que dar um comunicado não é uma tarefa simples. Depende muito do tipo de mensagem que você vai entregar e para quem você vai entregar esta mensagem. Por exemplo: Você já se viu em uma situação de completa aflição, onde precisava dar um comunicado muito importante para você e o destinatário era ninguém menos que o diabo em pessoa? Bom, lá estava eu, em minhas memórias. Relembrando aquela data.
Fazia três meses que tinha completado dez anos de idade, uma criança pequena você diria, mas para Nora Caliman, já tinha idade o suficiente para tomar um rumo na vida. E eu tinha tomado, eu seria detetive, estudaria no Instituto Caliman e me tornaria a melhor de todas. Era isso que eu estava indo comunicar ao diabo e ver se conseguia sua aprovação, o que de fato eu não consegui totalmente uma vez sequer na vida, é claro.
Ela estava sentada em sua habitual poltrona em frente à lareira, jogava xadrez com minha irmã mais velha, Agatha. Ao olhar para ela pude perceber porque todos diziam que era a mulher mais deslumbrante que já tinham visto na vida. Mesmo agora concentrada, anotando mentalmente todos os movimentos de minha irmã no jogo, ela exalava aquele ar de soberania, uma das mãos no queixo, como se estivesse horas pensando. Ela era uma mulher de beleza imensurável, como uma imperatriz. Celine, a única pessoa no mundo que conseguia arrancar um pouco de afeto de Nora, estava sentada no sofá do outro lado da lareira. Estava lendo Les Misérables, de Victor Hugo. Ela levantou a face em minha direção com grande curiosidade, deixando sua leitura de lado ao perceber o que eu estava prestes a fazer. Interromper o jogo da minha mãe.
- Mãe? Eu tenho um comunicado. – chamei a atenção de Nora.
- Diga, querida. – ela respondeu, ainda encarando o tabuleiro enquanto Agatha decidia se movia o seu cavalo ou não.
- Eu vou para o Instituto Caliman, vou me formar no Departamento de Agentes Atemporais. – eu respondi e ela ergueu a cabeça para me encarar.
Agatha soltou uma risadinha debochada, mas não ousou falar nada, ainda mais quando Nora fez o sinal universal de silêncio para ela.
- Detetive? – ela perguntou e eu balancei a cabeça firmemente em concordância. – E você acha que tem as habilidades necessárias?
A risada baixa de Agatha ecoou outra vez pela sala. Segurei o impulso de soca-la.
- Você quer comentar alguma coisa, querida irmã? – me virei para ela, já que adorava me irritar poderia fazer logo de uma vez.
- Não acho que Regina tenha as habilidades necessárias, mãe. Mas é apenas a minha opinião. – ela respondeu com falsa polidez ao me encarar.
Agatha era cinco anos mais velha do que eu, isso significava que ela tinha quinze anos naquela época. Já tinha começado a namorar com Joseph. Faltavam três anos para ela se formar no Departamento de Advocacia do Instituto e entrar para a Advocacia Caliman. O orgulho de Nora, óbvio. Faltavam também quatro anos para ela descobrir que estava grávida do meu sobrinho mais velho, Joe. E que ela e Joseph deveriam se casar o mais breve possível. Sim, na minha época as pessoas ainda ligavam para esse tipo de coisas.
- A sua opinião não interfere nas escolhas da sua irmã, Agatha. Se concentre no seu jogo. – Nora disse, ainda a me encarar. – Regina, um detetive precisa ser, bem, como eu poderia dizer..
- A senhora vai me chamar de desequilibrada de novo, não vai? – perguntei.
Ela suspirou. Era evidente que eu tinha ficado aborrecida com a sua constatação. O que só confirmava o que ela dizia. No ponto de vista dela.
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A Garota Impossível
Fiksi IlmiahRegina é uma viajante, não uma viajante qualquer. É a mulher que visitou eras, monarquias e ditaduras, presenciou guerras, grandes conflitos e quedas de impérios. A grande espiã de um futuro distante, acostumada a lidar e investigar o terror e fatos...