A Garota Impossível

Presentes e promessas de Natal antecipados

Começo de dezembro, a época mágica. Em minha família o feriado natalício costumava a ser bem criticado. Nora cresceu em uma família bastante religiosa, porém os mesmos diziam que o Natal era um feriado pagão e que servia apenas para tirar dinheiro dos trouxas. Já Celine era apaixonada por história, então sempre se empolgava nessa época. Mais pelo prazer de contar inúmeras vezes todas as tradições e celebrações pagãs que deram início ao Natal. Ela podia falar por horas sobre a Satúrnalia ou a celebração da passagem de Osíris para o mundo dos mortos. Sim, eu fui criada em meio a essas crenças de Natal. Sem presentes, sem árvores, sem Jesus. Digo, acreditávamos em Jesus, mas não na relação entre ele e o Natal.

Bom, agora falando do Natal de uma família cristã do século XX, acho que nem preciso continuar. A sala de visitas estava lotada de tudo quanto é tipo de enfeites de Natal: meias nas lareiras, guirlandas na janela e o menino Jesus na manjedoura sobre a mesa de centro. Vemos que Mary Rosewood definitivamente levava o Natal muito a sério. Então ela fez o favor de encarregar Emma, Anne May e eu a uma missão impetuosa de montar a gigante árvore de Natal dos Rosewood.

Emma e eu estávamos de bem, aparentemente. Eu ainda não tinha criado coragem para lhe contar os detalhes sobre a minha breve visita de volta ao meu tempo, ela sabia apenas que o meu chefe tinha me convocado e que eu não entreguei a ele os detalhes do nosso desagradável encontro com Richard Gardner na Igreja sinistra. Eu havia deixado a mágoa e os ciúmes de lado, não foi muito fácil, mas pelo menos consegui não guardar rancor. Era evidente que Emma desprezava algo em Gardner, ela mesmo havia admitido isso na presença dele. Mas ainda assim ela conseguia confiar nele para guardar os seus segredos, ela mantinha com ele um salto de fé. E Gardner parecia querer proteger Emma de alguma coisa, o meu palpite era obviamente a Santíssima Morada e o seu Mestre misterioso. Eu havia contando a Marco detalhes preciosos sobre Emma e o que ele poderia fazer com essas informações só Deus sabe. Apesar de tudo meu chefe não tinha a informação que poderia prejudica-la de vez. Isto eu guardava para Gardner e faria ele me esclarecer tudo isso, custe o que custar. Era só torcer para não demorar a ver o maldito miserável mais uma vez.

Mas voltando ao Natal, todos estavam muito mais do que ansiosos. Mary Rosewood ia de um lado para o outro por toda a pensão dando ordens a todos que via pela frente, a jovem Judy ia seguindo os passos dela. Se Mary já estava assim faltando duas semanas para a véspera, imagina quando chegasse o dia das festividades. Após cansativos minutos de decoração da árvore a jovem Anne May decidiu abandonar o barco, pois a senhora Rosewood disse que Judy e ela iriam assar biscoitos. Emma ressaltou que Anne May, mais que tudo pensava com a barriga. O que eu pensava obviamente não era no Natal em si ou em biscoitos, e sim em quem iriamos receber para o Natal: Alonso Montanari. A peça chave para todo o nosso plano dar certo. Eu esperava de coração que Emma estivesse certa sobre a visita dele, porém a própria Mary havia confirmado que “O primo italiano de Emma” já havia confirmado sua presença este ano.

- Você parece estar em outro lugar. Por onde anda seus pensamentos? – Emma chegou até mim, me oferecendo sua taça de vinho branco.

- No nosso plano de Natal. – eu respondi, depois de aceitar a bebida.

- Não precisa se preocupar com isso. – ela assegurou.

- Por que eu devo acreditar que Montanari é idiota o suficiente para cair no nosso jogo? – ironizei.

- Você não o conhece como eu. Alonso adora ser bajulado, o ego dele é a sua fraqueza. – ela dizia enquanto enrolava os enfeites no pinheiro. E então ela parou, me encarou e sorriu. – E você é uma mulher de chamar atenção, Regina. De imensurável beleza.

- Você está bem poética hoje. – apontei segurando o riso. – Quantas taças de vinho já bebeu?

- Não o suficiente. – ela alegou erguendo a taça para mim.