Agora vou recomendar que você, caro leitor, se acomode o melhor que puder. Pegue uma xícara da sua bebida preferida, ou um punhado dos biscoitos que você mais gosta. Se acomode em um lugar confortável, pois a história que vou contar é uma narrativa que talvez lhe agrade. Minha irmã, Rebecca, costumava contar para mim a história de onde surgiu o nome dela, ela adorava essa história.
Então, há mais ou menos dois mil anos atrás (da minha época claro, isso seria um pouco mais de três mil anos do seu presente, se você lê isso na época que imagino que lê) uma velha senhora criava seus netinhos em uma pequena casa afastada. Seu marido tinha sido um grande cientista, e consequentemente seu filho seguiu a profissão do pai. O marido dessa senhora morreu pela idade, mas seu filho perecera em uma terrível catástrofe no laboratório que trabalhava. Então a senhora ficou encarregada de cuidar das crianças e depois do que aconteceu levou as crianças para bem longe da cidade, a senhora não tem um papel tão fundamental assim, porém a criança mais nova, Rebecca Threston, é a nossa protagonista. Desde cedo a criança se interessava de uma maneira fora do habitual, sobre a catástrofe que levou a vida do pai. Recortava notícias, lia entrevistas de ex-funcionários, estudava as hipóteses e desmentia as possíveis causas da explosão, sempre buscando pistas. Ela dedicou toda sua adolescência a estudar o caso, se tornando detetive apenas para isso. Na época em que ela estudava, um outro jovem cientista tornava realidade um sonho muito antigo da humanidade, com seus estudos sobre viagens intertemporais. John Bonneville foi o primeiro ser humano a viajar no tempo, ou pelo menos foi o que pareceu. Acontece que os estudos de Rebecca revelaram que a catástrofe no laboratório se originou de uma viagem no tempo mal planejada, o que resultou em uma explosão, mas não fora só isso. Os cientistas conseguiram fazer a viagem e estavam trabalhando para desvendar um antigo mistério da época, mas na hora de voltar para casa algo deu errado e a explosão aconteceu. Rebecca Threston, considerada a pessoa mais inteligente de seu século, se juntou a Bonneville nos estudos científicos e juntos fundaram a Academia Threston-Bonneville, a primeira agência criada para resolver crimes intertemporais, ou seja, se eu tenho um emprego hoje é graças a essa mulher. Além de agente criminal Rebecca Threston teve milhares de cargos, foi professora, escritora e até mesmo bailarina. Mas o mais surpreendente é que seu estudo mais famoso foi um simples estudo com lâmpadas elétricas que tinha a finalidade de testar o quanto de carga elétrica ela poderia aguentar se fosse construída com um material novo, o estudo certamente não ficou conhecido pela engenhosidade do caso, e sim porque foi a causa de sua morte. Rebecca Threston morreu aos 59 anos, eletrocutada por uma de suas lâmpadas.
E era esse o conto de fadas que minha irmã me contava antes de dormir. Moral da história? Não importa o quão brilhante seja o seu cérebro, a vida vai rir da sua cara reservando uma piada em forma de catástrofe para matar você.
E foi pensando na trágica história de Rebecca Threston que eu avaliava o quarto fracamente iluminado pela luz de uma lâmpada elétrica. É de se imaginar que em 1938 a eletricidade não fosse tão potente assim, então eu não estava muito surpresa e também aliviada, claro.
Eu estava sentada em minha cama (ou a cama do quarto destinada a minha estadia) com o meu tornozelo estendido sobre ela. Emma se encontrava ao meu lado com suas compressas, falava mais do que meus ouvidos podiam aguentar.
- Você nem tocou na sua comida. – ela observou.
- Talvez porque o assunto esteja interessante. – declarei com um breve sorriso.
De fato, Emma me contava sobre as desventuras de sua vida. Soube que era professora primária e a escola em que ensinava não ficava muito longe dali, e o que fazia no seu tempo livre era ajudar senhora Rosewood na pensão. Dizia que era o mínimo que poderia fazer para pagar sua moradia, já que não recebia muito como professora. Estava me falando agora sobre uma de suas alunas, Caitlyn, que não assistia as aulas desde que ficara doente e que ainda não tinha tido tempo nem oportunidade para visitar a criança.
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A Garota Impossível
Ciencia FicciónRegina é uma viajante, não uma viajante qualquer. É a mulher que visitou eras, monarquias e ditaduras, presenciou guerras, grandes conflitos e quedas de impérios. A grande espiã de um futuro distante, acostumada a lidar e investigar o terror e fatos...