Eu demorei a dormir naquela noite. E quando finalmente peguei no sono tive um sonho um tanto esquisito e apreensivo. Cisnes brancos com pequenas pedras de esmeraldas no lugar dos olhos, voavam por cima de mim e insistiam em me bicar (ou sei lá o que cisnes faziam). Logo o sonho mudou e a imagem de Nora Caliman surgia em minha frente, ela vestia um de seus preciosos terninhos azul-marinho. Sentada em frente ao tabuleiro de xadrez, me chamando com uma das mãos. Ela tinha cartas nas mãos, as cartas que quando eu e meus irmãos perguntávamos de quem eram, ela sempre dizia a frase que mais gostava: “São as cartas de ninguém”. No sonho ela parecia mais nova do que eu me lembrava, no rosto quase nenhuma expressão de ruga ou cansaço do tempo. O sonho se dissipou da minha mente e fui acordada por uma mão delicada, porém ansiosa, sacudindo o meu braço.
A claridade bateu em meu rosto e quando finalmente esclareceu a minha visão, o rosto de Emma Swan apareceu bem próximo ao meu. E ela sussurrava:
- Regina, vamos. Acorde!
- Swan! Pelos deuses, por que está me acordando essa hora? – murmurei ainda grogue, afundando o rosto nos travesseiros.
- Vamos sair em uma missão. Precisamos nos comportar como tal. – ela respondeu pulando para cima da minha cama.
Eu a encarei com a melhor cara de poucos amigos que pude fazer.
- Eu não gosto de ser acordada.
- Eu tentei bater na sua porta, mas faria muito barulho. Levantaria suspeitas. – ela declarou sem ao menos dar importância ao que eu tinha acabado de dizer.
- Emma, se controle. Nós só vamos buscar alguns papéis na esquina da rua. Não ocorreu nenhum assassinato que você precisa investigar. – esbravejei e ela fez um biquinho de decepção.
Eu a encarei por alguns segundos, depois de certos resmungos a contragosto sentei ao seu lado.
- Certo, pegue aquela mala para mim. – eu disse apontando para a minha bagagem vermelha bem ao fundo do quarto.
Ela se levantou no mesmo segundo, curiosa como era, estava louca para bisbilhotar minha bagagem outra vez. Ela depositou a mala em cima da cama e se sentou outra vez ao meu lado, me encarando ansiosamente como se esperasse que dentro da mala pudesse ter uma bomba relógio que eu tinha que desmontar. Eu abri a mala com um sorriso e tirei uma pequena pasta preta que continha vários documentos. Peguei um dos pedaços de uma folha de caderno, de um desenho animado qualquer (particularidades de Lauriana) e comecei a desdobra-lo. Emma encarava o papel atentamente. A minha criança interior estava se divertindo muito com aquilo tudo, eu confesso. Terminei de desdobrar o papel e o coloquei em cima da cama para que Emma pudesse ler o código:
.... .. -.-. / . - / -. ..- -. -.-.
- O quê é isso? – ela perguntou com a testa franzida.
- Isso se chama Código Morse, Swan. – respondi e ela me olhou com cara de deboche.
- Sim, eu sei o quê é um Código Morse. Mas o que significa? Qual é a decodificação? – ela perguntou impaciente.
- HIC ET NUNC. – eu continuei e ela cruzou os braços, enraivecida.
- Eu vou ter que pegar um dicionário de latim ou você vai traduzir de bom grado para mim? – ela perguntou, exalando todo o sarcasmo que conhecia.
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A Garota Impossível
Science FictionRegina é uma viajante, não uma viajante qualquer. É a mulher que visitou eras, monarquias e ditaduras, presenciou guerras, grandes conflitos e quedas de impérios. A grande espiã de um futuro distante, acostumada a lidar e investigar o terror e fatos...