Um ano de casados.
Foram os 365 dias mais cheios e felizes de minha vida. Hoje, amo Charlotte mais que ontem e amo menos que amanhã. Os dias hão de seguir sempre assim. Prometi naquele altar, no nosso dia santo, com nossos olhos se tocando por carícias.
Tudo nela sempre me agrada, me acalma. Mesmo que ela seja o oposto disso. Charlotte é tempestade depois de dia ensolarado.
Hoje, quando retornei a casa, lá estava ela correndo em alta velocidade com Trovão, mais rápida que um raio, mais indomável do que qualquer equino que já tratei.
Ela sempre faz isso, mesmo com minhas súplicas de não querer ser viúvo tão cedo. Mais uma vez adiando os passos para ela não captar nenhum sermão meu. Acho que os ovos jogados no casarão da vizinha quando moleque me fizeram mal; o meu castigo é lidar com um moleque de saias e cabelos louros ao vento todos os dias.
Nunca consigo conter o sorriso, quando vi, já estava eu em uma de nossas éguas tentando alcançá-la. Ela. Minha esposa.
Descemos até o riacho e, como determinado, Charlotte não demorou a tropeçar e encharcar-se nas águas. Nunca sei se é proposital ou não seus desastres. Talvez lhe seja tão proposital marcado no peito, que acidentes venham a calhar para marcar locais.
Tão logo ela estava me puxando como criança impotente, me marcando com as águas que antes dançavam somente entorno dela. Os nossos risos acompanhado o bailado.
Logo pousei os olhos em como as águas tinham-na marcado. Digo, literalmente. Com as vestes molhadas, sua silhueta estava totalmente desenhada. Quis percorrer tudo com os dedos, tal como um pincel. O meu peito arfando e quando dou por conta, ali já estava seu beijo para acalmar a selvageria. Senti-me um tolo, de volta a mocidade que tanto a desejava. Amostrava a esse Dominique que agora esta mulher era toda minha.
Nos despedimos do riacho com nosso amor. Com vestes largadas e nossas peles coladas. A dança das águas tornando-se cada vez mais frenética.
Decidimos que viajaríamos para a Espanha, no meu tão sonhado cargo de doutor. Era uma nova vida se aproximando, com a minha eterna vida aos braços.
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Diário de um Soldado
Historical FictionDominique Carpentier é um homem distinto comparado a outros do tão falado século XX; tem sempre seus achismos sobre tudo e não há quem retire isso de sua mente. Nas folhas de um diário, narra o encontro com seu único e imutável amor: Charlotte Barbi...