30 de Junho de 1914

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  Notei um movimento incomum na vila neste dia.
  O jornaleiro vendia suas notícias como água. Passos largos com feições inconformadas durante a leitura que o jornal proporcionava.
  Eu como um bom intrometido, não tardei a comprar um para ver o que assombrava as ruas.
  O herdeiro do trono austro-húngaro, Francisco Ferdinando, e sua esposa Sofia, haviam sido assassinados no dia 28 de junho de 1914, em uma viagem para Saravejo, capital da Bósnia.
  Logo me encontrei nas mesmas feições. Em toda minha pequena vida, nenhuma notícia havia circulado tão rápido assim.
  No botequim mais próximo, os homens dados com política tentavam prever o que aconteceria em consequência da tragédia.
  "Vira e mexe alguém da monarquia há de ter um fim incomum. Isto não vai dar em nada, sou velho e sei o que digo", disse Malthus, antigo amigo de papai e de quase todos da vila.
  "É aí que você se engana meu velho. Isso não é uma simples briga de colégio. Estamos falando de um descendente de trono, de uma linhagem interrompida. Ainda ouvi das más línguas que este foi assasinado por eslavos fanáticos. O nacionalismo, a política em si, está extravasando das veias da monarquia e começando a ocupar a do povo. E tenha certeza, não é bom.", falou Gabriel, meu velho amigo que aspirava política desde que o conheço por gente.
  Algo muito estremecedor também me percorreu as veias, e não era a política. Era o medo dela. Nenhum homem do botequim entendia bem o por quê.
  Em lapso recordei-me de Santa Joana D'arc. Padroeira da guerra. Calafrios me tomaram e suplicaram a santa que Malthus estivesse certo.

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