28 de Julho de 1914

124 12 0
                                    


  Áustria-Hungria declara oficialmente guerra contra Sérvia. A Batalha do Atlântico está ocorrendo à quilômetros da França.
  Todos estão discutindo muito sobre, mas sem o receio de que essa pólvora está se espalhando.
  Gabriel é o único que compartilha meus medos. Estamos mais magros, com olheiras aparentes.
  Charlotte me indagou o por quê estava tão desolado e lhe contei todas minhas frustrações. Fora meu estopim. Sem notar, estávamos chorando aos abraços. Não entendíamos bem o motivo, mas sentíamos ele nas veias.
  Tentamos esquecer tudo com um jantar que Lotte planejou.
  Como crianças, beliscamos os quitutes ainda sendo preparados pelos empregados. Dona Maria esbragezava ameaçando demissão.
  "Duvido! A senhora não vive sem eu em seu peito Dona Maria!", minha esposa dizia rindo e mostrando a língua. Dona Maria por sua vez abaixava a cabeça tímida, dando-se por vencida.
  Lotte era ela com quer que fosse, principalmente com os empregados, que afirmava calorosamente já serem parte da família. Sem aviso prévio, recebiam presentes encomendados por ela mesma.
  Lembro-me do dia que Dona Maria apareceu entre minha mesa e lágrimas, mostrando o lindo tapete de crochê que Charlotte havia lhe presenteado.
  "Os pontos parecem de criança, mas ela aprendeu somente com os olhos no dia que eu crochetava em silêncio. Sua esposa é muito especial para mim, senhor Carpentier, assim como esse tapete passa a ser", Dona Maria ia falando.
  Era só um tapete mal crochetado. Às vezes me é difícil compreender o peito das mulheres. Por este motivo as amo tanto. Elas guardam aquilo que no homem já não cabia.
  "Ela também é especial para mim, Dona Maria. Assim como a senhora", retribuí com um sorriso.
  Quem ama minha esposa, logo também me conquista.
  Lotte é meu porto seguro. Não me lembro da vida sem ela. Na janta deste dia, minha atenção foi pescada por ela e nada mais.

Diário de um SoldadoOnde histórias criam vida. Descubra agora