Estou numa fase da minha vida em que nada parece ter sentido. As coisas que antes me inspiravam agora trazem-me ansiedade. As coisas que eu gostava em mim desapareceram. Os meus portos seguros desabaram. E as pessoas que eu mais amo parecem não querer saber. Sinto-me a cair sem nunca realmente atingir o fundo. Todos veem isso. Mas ninguém me estende a mão. E eu aposto que também conheces este sentimento. Acho que é uma coisa "normal". E há de sempre vir alguém que nos dê mil desculpas para não ter estado lá. E nós vamos acreditar até porque uns tempos depois, acontece tudo de novo. E voltaram os ataques de pânico, voltaram os conjuntos de medicamentos incontáveis, voltaram as lágrimas que me embalam e as pessoas que me apunhalham constantemente as costas. E eu continuo aqui. Mostro um sorriso, recuso uma saída porque não me sinto fotogénica; visto calças em vez de calções porque não quero que vejam as minhas imperfeições. Imperfeições tão inúteis comparadas com as deles. As daqueles que abandonam e dizem amar; que magoam quando deviam proteger. Aqueles que são a razão de tudo isto. A razão da minha insegurança, da minha doença, da minha vontade de desistir de tudo. Desistir de mim, do que eu amo, de quem amo...
Aposto que sabes do que falo. Porque é "normal". É normal um mundo em que amigos passam a inimigos numa mensagem; em que a celulite é um problema maior que a fome; em que o "pneuzinho" nos impede de viver momentos felizes com os nossos supostos amigos; em que nunca estamos realmente bem; em que tudo nos leva a desejar a perfeição embora todos saibam que ela só existe na aceitação e ninguém nos ensina a aceitarmo-nos como somos... Um mundo em que as famílias se atacam entre si, e assim nem famílias são. Este é o mundo que temos. Somos nós que o tornamos tão merda quanto ele é. E somos tão merda quanto ele. Enquanto não soubermos viver com a humanidade que nos compete, não vai mudar. Nada vai mudar. Voltarão as cicatrizes, voltarão às lágrimas, voltarão os medos e os demónios que acabam por levar o melhor de nós. É isto que queremos ?
Claro que não. Por isso deixemos de ser fúteis, deixemos de ser falsos, hipócritas... Deixemos de ser quem não somos. É impossível que haja tanta gente má neste mundo quando eu já vi tão bons corações.