Sinto o calor subir-me pela garganta e amarrar-se num nó. Sinto os olhos arderem e o coração passa a bombear adrenalina em vez de sangue. As marcas negras nas pernas e os arranhões nos braços. Tudo por minha culpa. Olho-me ao espelho de novo e já não sei respirar. As costas das mãos inundadas de lágrimas que tento apagar em vão. Os olhos negros de raiva e medo. O cabelo e o suor caem juntos pela minha cara, misturam-se com as lágrimas e passam a ser um. Arrependo-me. Mas quero fazê-lo de novo. Toda a minha face encharcada, o meu corpo coberto de nódoas vermelhas, roxas, negras, amareladas. E pequenas poças de água. E acabo no chão outra vez. Acabo sempre. Sozinha, com o frio da pedra a atravessar o tecido da camisola. Com o vazio que fica em mim de cada vez que luto comigo. Com o vazio. Fecho os olhos e espero. Espero até poder lutar outra vez.