Corte de Ventos e Magia

9. Cassian

Passei boa parte da tarde deitado na cama, apenas observando Skylar trabalhar com o feitiço de portal. Com todas as minhas atenções voltadas para essas ameaças de guerra, tudo que eu tinha para fazer era ficar com ela, mesmo que minha ajuda se limitasse a breves conversas banais e então levá-la algo para comer quando já estava sentada naquele quarto por muito tempo.

Livros e cadernos de anotações estavam espalhados na mesa do meu quarto na Casa do Vento, e eu estava feliz vendo-a à vontade ali entre papéis e canetas, percebendo que aquilo era algo que ela gostava tanto quanto as armas. Magia e luta não eram tão diferentes assim, e era bom ver como Skylar era boa em ambas. Além disso, dividir o quarto com ela despertava algum tipo de orgulho masculino que há um bom tempo eu não sentia. Em algum momento, acabei caindo no sono enquanto ela lia algo naquele livro velho, aproveitando um pouco de descanso, já que tinha certeza de que não voltaríamos tão cedo para casa, considerando que Tom havia exigido que o encontrássemos tão tarde.

Ao pôr do sol, a illyriana me acordou de um sonho muito agradável com ela e me entregou um copo com um líquido alaranjado, gelado quando o tirei de suas mãos, notando que as unhas agora estavam bem mais curtas e lixadas.

— Beba tudo.- Ela pediu sentando-se ao meu lado na cama. Aceitei o que me oferecia, apoiando-me nos cotovelos. Mesmo assim, hesitei, com medo do que podia ser aquela coisa. Skylar suspirou, desaprovando minha reação.- Isso vai te impedir de vomitar as tripas quando passarmos pelo portal dimensional. Não é como Atravessar, é mais forte e perigoso, tem que imaginar que estará cruzando espaço e tempo, uma magia que nunca experimentou antes.

— Então isso não vai me matar?- Ela negou com a cabeça, rindo.- É muito ruim?

— Beba.

Era uma ordem. Sabendo que não diria mais nada, fiz o que ela me pediu, e até que não era tão ruim quanto eu imaginara. Tinha gosto de laranja e alguma coisa agridoce, mas preferi não perguntar do que se tratava. Depois do jantar, Skylar pegou o livro outra vez e voltamos para o acampamento permanente. Tom, Rhysand e Feyre nos esperavam em uma clareira perto do litoral, onde Sky explicou que era o nosso ponto de encontro. Todos se vestiam de maneira estranha, Rhysand, Feyre e nós dois com as roupas estampadas e tecidos de algodão e algo mais resistente que Skylar havia entregado ainda em Velaris, explicando que no lugar onde estávamos indo, era assim que as pessoas se vestiam. Era mesmo preferível não chamar atenção com roupas de outras terras, já que nossa aparência já era suficientemente incomum para aquele lugar. A illyriana tinha nos dito para esperar por humanos, mas os que eu conhecia não eram assim, então não sabia o que pensar a respeito.

Rhysand usou sua magia para esconder as asas de todos e Skylar abriu na página certa do livro, deixando-o aos seus pés enquanto recitava um encantamento. Suas mãos brilharam em tons de azul e dourado, e a fêmea usou fogo para traçar um símbolo que flutuava no ar. Durou por alguns segundos e então expandiu, abrindo um portal dourado no exato lugar onde se desfez. Do outro lado, apenas um redemoinho, sem nada que pudesse nos dizer para onde estávamos indo.

— Para onde vamos, não há magia.- Skylar avisou com o cabelo solto sendo jogado para o alto com a ventania que vinha do portal. Aquela coisa era bastante chamativa, o que explicava porque queria estar afastada das outras pessoas quando fizesse esse feitiço.- Devem tentar agir como humanos e fazer o que eu mandar. Não queremos chamar atenção como demônios ou o que quer em que aqueles mortais acreditem. Não existem criaturas mágicas lá, mas a maioria das pessoas acredita que sim. Façam o que eu mando, e vou mostrar o que eu puder dessa dimensão, depois iremos embora. Cada hora lá é tempo que perdemos aqui. Procurem pela minha magia no portal. Se não se concentrarem, podem acabar perdidos em uma fenda temporal para sempre.