25. Cassian

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Acordei no meio da noite, sozinho no meu antigo quarto da casa da cidade. Skylar não estava a vista, e seu lado da cama estava frio quando estiquei a mão para seu travesseiro.

Tudo em mim doía, mas me levantei mesmo assim. Senti o mundo rodar ao botar os pés para fora da cama, uma pontada de dor cortando ao me mexer tanto. Apoiei a mão sobre as bandagens abaixo das costelas, esperando a tonturas passar. Talvez depois precisasse de mais analgésicos, mas eu devia estar bem em poucos dias, se a magia de cura illyriana estivesse ao meu favor. Me levantei, por fim, e não me importei em colocar uma camisa, apesar do frio.

Ao descer as escadas, ouvi a porta da frente se abrindo. Skylar estava em casa então, de cabelos bagunçados e soltos caindo no rosto e as asas fechadas atrás do corpo.

— Cassian!- Ela disse meu nome como uma repreensão, aproximando-se.- O que pensa que está fazendo fora da cama?

Skylar parou diante de mim, avaliando-me de cima a baixo, como que se certificando de que os pontos estavam no lugar.

— Eu acordei e você não estava lá.- disse, querendo que ela não pensasse que devia se preocupar comigo.- Onde você estava?

— Não importa.

E, no entanto, notei seus olhos brilhando e as bochechas vermelhas, como se tivesse acabado de chorar. Me perguntei o que a teria feito ficar tão triste ou chateada, porque Skylar simplesmente não chorava.

— Hey, importa sim. Sempre importa.- mancando, acabei com o espaço entre nós, puxando-a para um abraço. Skylar envolveu os braços ao redor da minha cintura, tomando cuidado com os curativos, e encostada em meu peito, senti quando seu corpo balançou, indicando que estava chorando de novo, apesar de não soltar um som sequer. Isso me preocupou mais do que qualquer coisa.- Por favor, fale comigo. Foi algo que eu fiz?

Ela balançou a cabeça, fungando, mas me apertou mais em seu abraço.

Levei uma das mãos ao seu cabelo, tirando algumas mechas do rosto, levantando seu queixo para me olhar. Algo tinha acontecido, com toda certeza.

O que foi? Perguntei em sua mente.

Ela baixou os olhos, incapaz de me olhar.

Minha mãe, disse ela.

Quando notou minha confusão, enviou-me uma imagem de um espectro feminino, brilhando em azul, quase translúcida. Os traços da fêmea eram da invernal, mas aqueles olhos eram familiares demais para que eu me confundisse. Apesar de serem azuis, não pretos, eram os olhos da minha parceira, e logo notei as semelhanças entre as duas. Não precisava de nenhuma explicação, já tinha entendido tudo. Soltei seu queixo e permiti que me apertasse de novo em seus braços, ignorando as pontadas de dor.

Skylar desabou, chorando e molhando minha pele com suas lágrimas, mas não me importei. Eu sabia como era crescer sem uma mãe, mas ela ainda teve ainda menos tempo com a sua. Sabia que seus pais haviam amado e desejado Skylar muito antes de ela nascer, mas eles tampouco viram ela crescer. Se um dia eu tivesse um filho, jamais deixaria que ele passasse por algo assim. Deixei que ela chorasse até os tremores pararem, e Skylar fungou, olhando-me atentamente, apesar dos olhos ainda molhados de lágrimas.

— Desculpa por ter pensado que tinha fugido.- soluçou.- Você não fez nada, mas ainda não devia estar aqui embaixo.

Passei minha mão em suas mechas escuras, sedosas, tentando fazê-la entender que não tinha com que se preocupar.

— Está tudo bem.- sussurrei.- Venha, vamos voltar para o quarto. Está tarde.

Ela assentiu e recuou. Apoiei minha mão em suas costas quando sumiu com suas asas, sempre as escondendo quando não havia necessidade de usá-las, então a acompanhei de volta para cama. Puxei-a para perto de mim, e, dessa vez, certifiquei-me de que Skylar estava dormindo antes de me permitir fazer o mesmo.

Corte de Ventos e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora