24. Skylar

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Eu havia cobrado de Taellie nosso acordo. Por um lado preferia não ter que chegar a esse ponto, mas sabia que era necessário. No entanto, era com alegria que via meu povo voando em direção a batalha, como já vinham treinando há séculos. Sabia que estavam animados com isso, mas também tinha consciência de que nem todos voltariam para casa.

De cima daquela colina, via o campo de batalha com perfeição. Kallias, felizmente, havia concordado em ajudar, e agora seguia minha estratégia para cercar Hybern justamente onde havia falhas. Meus olhos estavam procurando pelos meus amigos da Noturna no campo, me certificando de que continuavam vivos. Era bom aproveitarmos enquanto ainda havia luz para acabar com aquilo de uma vez por todas. Ainda me surpreendia que fosse justamente Beron, e não mais Tamlin, quem estava com o inimigo agora. Talvez o inútil Grão-Senhor da Primaveril finalmente tinha aprendido a lição no último ano, mas ainda estávamos muito perto de sua fronteira. Ele pretendia ficar sentado observando mais uma vez?

Meus pensamentos se desviam bruscamente quando vejo Cassian lutando ao longe. Ele era um guerreiro brutal e formidável, cortando as fileiras com facilidade, mas sentia que estava distraído desde que voltei com os reforços. Provavelmente chamei sua atenção pelo laço, porque o vi desviar a atenção na minha direção rapidamente. Queria dizer que se concentrasse, mas antes que pudesse me mover, só pude assistir um dos soldados de Hybern perfurar a armadura de Cassian, a lâmina atravessando na altura de suas costas. Não o suficiente para abrir um buraco nas suas costas, mas senti sua dor e gritei. Gritei muito alto, chamando seu nome, amaldiçoando-me por estar tão longe. Xingando-o por não se concentrar.

Uma parte minha mantida muito escondida se rompeu naquele momento. Olhos reptilianos brilharam na escuridão, estilhaçando a muralha de gelo em minha mente. Senti, sem poder controlar, quando o demônio viu-se livre outra vez, meu corpo mudando, transformando, de maneira cruel e rápida, de forma que nenhuma transmutação de feitiçaria seria capaz de fazer. Gritei ao ver meus braços se fundirem às asas nas minhas costas, e logo soube em que havia me transformado: aquela forma favorita do demônio que habitava meu corpo e minha mente, escamas de dragão negro e enormes chifres retos despontando na cabeça, logo acima das orelhas ainda pontudas, mas coriáceas.

Sabia que meus olhos haviam mudado de cor também, mas ainda mantinha controle suficiente naquela forma para decidir o que fazer em seguida, com o demônio agora quieto em minha mente, mas assumindo a forma física a partir de mim. Ele permitiu que eu extravasasse minha raiva no campo de batalha, queimando o inimigo onde eu pudesse ver. Estava cega pela raiva e pela dor, a única imagem fixa em meu cérebro era aquela espada maldita perfurando as costelas do meu parceiro.

Qualquer um em meu caminho se afastava gritando quando passava, mas nunca ia longe, pois um dos aliados sempre estava ali. Voei até alcançar Cassian, voltando ao meu corpo normal antes de tocar o chão. Foi com pés feéricos cobertos de botas illyrianas negras que pousei, as asas retraindo. Corri em direção a Cassian, segurando-o, tirando seu corpo do campo sujo e coberto de sangue e pele. Minhas asas se fecharam ao seu redor, mantendo-nos seguros das flechas que ainda voavam lá fora.

Segurei-o em meus braços, minha mão direita tocando sua bochecha ainda sem ferimentos.

— Não faça isso, Cassian.- Funguei.- Não vou deixar que morra. Não. Não assim.

Ele tosse, esforçando-se para alcançar minha mão contra seu rosto, mas ainda era um milagre que estivesse consciente.

— Não vai me deixar.- Comtinuei, quase como uma ordem. Como uma Comandante dando as ordens às tropas.- Vai continuar acordado e vai sobreviver.

Uma lágrima escorreu do meu rosto e pingou sobre o dorso da minha mão quando a apoiei sobre a armadura no peito de Cassian, meu olhar ainda focado em seu rosto quando uma luz dourada iluminou suas feições.

Corte de Ventos e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora