11. Cassian

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O celular de Skylar tocou perto das 23h e a acompanhamos até um lugar marcado para reencontrar uma amiga dos anos em que viveu em Nova York. Me surpreendi ao descobrir como ela criou uma vida para si nesse mundo, como se tivesse aceitado que iria demorar para voltar para casa, isso se realmente acreditava que conseguiria.

Contas no banco, roupas, um apartamento, celular, emprego e até amigos. Talvez tivesse pensado que não voltaria para casa mesmo. E pensar que Skylar podia passar muito mais do que 3 anos nesse lugar sem magia e sem que nenhum de nós soubesse... Na época em que aconteceu podia não ser próximo dela para ter noticiais desse tipo, mas pensando no assunto, não sabia se poderia viver em um mundo em que Skylar Kannenberg não existisse.

Ao chegarmos no lugar que Skylar chamou de casa de festas, uma garota baixinha e de pele escura acenou na fila. Skylar sorri, indo até ela e nos ignorando por algum tempo ao se entreter na conversa. Estávamos sobrando ali, mas via que era uma amizade real entre elas.

Skylar nos apresentou, então, e me surpreendi ao descobrir que a garota sabia sobre o que éramos, embora nenhuma delas tenha usado as palavras exatas, considerando as pessoas ao redor. Espertas. Tudo de que não precisávamos era de humanos nos tratando como loucos.

Passamos quase uma hora naquela fila, mas sem documentos, fomos obrigados a deixá-la entrar apenas com a garota que a acompanhava. Por fim, era hora de voltar para casa. Percebi que ninguém realmente queria deixar esse mundo tão cedo, mas Skylar estava certa. O sonho precisava acabar, mais cedo ou mais tarde.

Ela comprou passagens só de ida na última balsa da noite, causando estranheza ao atendente de uma das principais atrações da cidade, mas ele nada disse. Do barco, já podia ver a ilha do outro lado do rio. Skylar chamou a imponente estátua de uma mulher com uma tocha no meio da ilhota de Estátua da Liberdade quando perguntei a respeito e nos pediu para ter paciência e esperar que o último humano daquele mundo partisse da ilha para que pudesse abrir o portal de volta para casa em segurança, tendo certeza de que ninguém iria interferir.

— Foi aqui que eu abri o portal da última vez.- Ela contou com as mãos iluminadas ao mexer no enorme livro de magia.- É possível que ainda persistam resquícios do feitiço o suficiente aqui para que seja fácil acessar nosso mundo. Pelo menos é o que espero.

Dando de ombros, ela deixou o livro aberto aos seus pés e recitou um feitiço parecido com o que tinha usado horas antes, e outro portal dourado se abriu diante de nós. Viajar através dele me causou uma sensação tão estranha quanto da primeira vez, e caí do outro lado diante da tenda de Thomas, bem longe de onde tínhamos saído. O acampamento estava silencioso e escuro, exceto pelo brilho do portal enquanto nos reuníamos outra vez no escritório do Illyriano. Agora que Skylar tinha cumprido sua parte do acordo, Tom se viu obrigado a fazer sua parte, e jurou manter a promessa de aumentar a segurança no litoral, assim impedindo a volta de Hybern, se fossem mesmo escolher o caminho mais curto. Teríamos que lidar com mais alguns líderes de acampamento mais tarde, se queríamos todas as linhas de frente protegidas, mas isso era trabalho para outro dia. Estar tão longe de Velaris me incomodava. Apesar de esse ser o meu povo, não gostava de passar tanto tempo em território Illyriano.

Thomas assinou um documento que Rhysand havia preparado, para garantir que sua promessa não tivesse comprovação só de palavras, e partimos de volta para a Corte Noturna, voando até um ponto estável o suficiente para podermos Atravessar com segurança, já que o acampamento onde estávamos não nos oferecia isso, sendo tão longe de tudo.

Voltei à Casa do Vento com Skylar, então. Vendo-a dormir tão calmamente ao meu lado no quarto que dividíamos há alguns dias, pensei mais uma vez na possibilidade de morarmos juntos. Desconfiava da parceria há muitos séculos, mas nunca tocava nesse assunto. Seria mais difícil para mim lidar com uma parceira, se ela nem parecia suspeitar dessa ligação entre nós. Depois de tudo que passamos, talvez ela nem sentisse o mesmo, mas agora que estávamos juntos de novo, não queria estar longe. Já estava muito velho para negar meus sentimentos em relação a Skylar. Eu a queria para um relacionamento de verdade, com Lobo gigante de estimação e tudo, mas talvez morarmos juntos fosse um passo para que isso acontecesse. E se fôssemos parceiros, talvez fosse uma ótima maneira de descobrir a verdade. Olhei o animal dormindo tranquilamente aos pés dela, em cima da cama. Ainda me sentia apreensivo perto daquela criatura, mas o lobo vinha se mostrando mesmo dócil, e até mesmo me deixava fazer carinho nele quando estava na sala ou conversando com Skylar no quarto. Apoiava a cabeça na minha perna para pedir carne quando estávamos almoçando em casa. Podia conviver com isso, era só questão de costume. Me virei na cama e tentei dormir, apesar do Lobo ocupando tanto espaço naquele canto.

Corte de Ventos e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora