10. Skylar

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Levei-os para um passeio por Nova York, mostrando-lhes como esse mundo podia ser inebriante a primeira vista, mesmo sem qualquer resquício de magia. Esses humanos eram diferentes dos de nossa terra, mas também eram mais perigosos, mais destrutivos. Tinha medo de acabar com o encanto quando descobrissem a verdade, eles não precisavam ver além da beleza. Não havia necessidade de expô-los ao resto. A menos que me questionassem o motivo de querer ir embora. Eu precisava voltar para casa naquela época. Se esses mortais descobrissem quem eu realmente era, poderiam me transformar em cobaia de laboratório ou então me prender em um hospício.

Só havia um dia do ano em que podia ser eu mesma, mostrar minhas asas e a magia, e mesmo assim me veriam como monstro. Os mortais só acreditavam que meus poderes eram truques bem planejados e que minha real aparência era uma fantasia, e enquanto esse dia não chegava, precisava guardar todo resquício de poder que me sobrava para manter minha aparência igual a deles. Não permitiria que um dos meus acompanhantes deixasse escapar qualquer evidência de suas características imortais, tanto as orelhas pontudas quanto as asas e a magia. Feyre entendia como se comportar ali, mas os três illyrianos por muito pouco não acabaram atropelados ou assaltados por muito pouco, distraídos como estavam.

Por fim, a lembrança do que aqueles portais fazia com os nossos corpos voltou, e me vi inesperadamente faminta, como se não comesse há dias, então os levei para procurar um lanche, explicando-lhes como atravessar dimensões exauria os corpos até o limite, drenando a energia em poucos segundos. Podíamos ir a um restaurante qualquer, mas tinha um lugar que eu sentia muita falta em meu mundo e achei que não seria má ideia comer aquelas porções inúteis- e deliciosas- de açúcar outra vez. A cafeteria ficava perto da Broadway, e lhes expliquei um pouco sobre as peças de teatro e o cinema antes de alcançarmos a loja que queríamos. Um humano manteve a porta aberta quando estava saindo da cafeteria, me permitindo passar. Apenas acenei levemente com a cabeça, e quando Feyre me seguiu, viu o homem soltar a porta e sair, deixando para Rhysand segura-la. Notei o que Feyre pretendia e a cortei antes que dissesse qualquer coisa.

— Não precisa agradecer.- Eu avisei, mantendo a atenção nela enquanto o humano se afastava lá fora.- Ele não estava fazendo mais do que sua obrigação. Aqui é regra de educação, ninguém precisa ser elogiado por ser educado, já que é o mínimo que se espera.

Acenei para a porta, pedindo que entrassem.

— Venham, eu pago a comida dessa vez.

Escolhei um frappuccino e muffins, meus favoritos dessa cafeteria, e deixei os outros pegarem o que lhes parecesse melhor, depois paguei com o cartão de crédito no meu nome. Era uma sorte ter encontrado as coisas que levei daqui nos meus pertences, e mais uma ter conseguido voltar para a mesma época em que fui embora. Poucos dias haviam se passado nesse mundo desde que parti, pelo que vi nos jornais expostos nas bancas, e tudo que tive nos três anos em que precisei sobreviver ainda existia e ainda era meu, inclusive contas bancárias e um apartamento no centro da cidade. O celular que vinha carregando com um novo carregador portátil já estava ativo no meu bolso, recebendo notificações, como se esperava que acontecesse ao passar dias fora do ar. Para mim, quase 300 anos tinham se passado desde que estive nessa realidade pela última vez, mas viagem no tempo e espaço era algo complexo, e pude marcar a data da volta para pouco tempo depois de minha partida propositalmente, assim tinha certeza de que saberia o que iria encontrar desse lado.

Sentei-me à uma das mesas de madeira da cafeteria, esperando os outros voltarem com o que pediram. Aproveito a oportunidade para ver o que estava acontecendo nos últimos dias, e leio algumas mensagens das pessoas com quem tive contato quando vivi aqui. Só uma delas sabia quem eu realmente era, e a maioria apenas não entendia por que havia demorado mais do que algumas horas para responder, pensando que algo tinha acontecido comigo. A garota em quem mais confiei nesse mundo me dizia que imaginava o motivo de não ter dito nada por quase uma semana, e esperava que um dia pudesse reencontra-la, não importava quanto tempo demorasse. Sorrio, me lembrando do quanto fui próxima daqueles humanos durante 3 anos, um tempo considerável, em seus padrões mortais.

Corte de Ventos e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora