Corte de Ventos e Magia

18. Skylar

A Comandante Taellie Perrith nos conduziu pelo pequeno castelo da Fortaleza com um sorriso no rosto. Atualizou-me também de todas as notícias do refúgio que eu ajudei a construir.

Taellie era uma amiga antiga, uma illyriana que queria mais do que o próprio povo podia oferecer, assim como eu. Quando pedi sua ajuda para cuidar desse lugar, sabia que seria a melhor líder que essa pequena comunidade poderia ter. Quando pôde superar seus sentimentos por mim, percebi que nossa relação se tornou mais fácil, mas eu não queria estragar nossa amizade, apesar de nunca ter duvidado que cuidaria desse lugar com o amor de sempre, independente de como estivéssemos. Todos os moradores me cumprimentaram quando passamos por eles no caminho para o escritório de Taellie nos andares mais altos do castelo e me baseando na repentina quietude de Cassian, sabia que ele estava estranhando tudo aquilo.

— O que é exatamente esse lugar?- Ele enfim se manifestou, já no topo das escadas.- Por que nunca ouvi falar que isso existia?

— É um segredo, Cassian.- Expliquei quando Taellie o olhou brevemente ao caminhar à nossa frente.- Um segredo que não permito que vá muito longe. Só quem eu quero aqui tem permissão de vir. Se todos os illyrianos soubessem desse lugar, com certeza ele não mais existiria.

Quando notou a expressão confusa de meu parceiro, Taellie ficou feliz em explicar ela mesma. 

— Essa fortaleza é uma comunidade autossustentável e completamente fora das leis illyrianas. É por isso que existem grupos tentando derrubar esse lugar, para que voltemos para onde podem nos controlar.- Ela continuou falando normalmente mesmo depois de tantos lances de escada.- Aqui vivemos em paz e todos são tratados de igual forma. As fêmeas podem manter suas asas, voar e os machos são ensinados que todas as tarefas devem ser divididas. Sou a líder máxima aqui porque alguém precisa manter a ordem entre os adultos que chegaram aqui sob a visão dos acampamentos tão limitados e machistas. Aqui nós mudamos as tradições absurdas e ignoramos as leis que prejudicam alguma minoria. Nem todos os recém chegados entendem isso, então alguém precisa lembrá-los de sua nova realidade.

— Mas eu vi lavadeiras lá fora.- Cassian apontou.- E vocês têm criados.

— Não são criados, soldado.- Taellie atravessou o corredor do andar em passos largos e os Guardas não hesitaram em abrir a porta de seu escritório quando nos aproximamos. Fizeram uma curta reverência à mim antes de fecharem a porta atrás de nós depois que Cassian passou.- Trabalhamos com turnos e revezamentos. Todos os dias as tarefas são divididas em grupos, assim, cada dia um de nós é responsável por uma tarefa diferente. Inclusive eu.

— Por quê?

— Serve para lembrá-los de que não são melhores do que ninguém.- Contei.- Lavar as roupas, cozinhar, limpar os cômodos, varrer. São todas tarefas dignas, mas aqueles que não as fazem tendem a se sentir melhores do que os responsáveis por elas, pensando que criados são inferiores. Aqui não permitimos esse tipo de coisa. Aquele grupo de fêmeas que viu lavando as roupas no rio é só o grupo de hoje, amanhã as verá cozinhando ou varrendo ao final do dia, depois que saírem de seus treinos.

— Elas treinam?- Cassian pareceu mesmo surpreso.- Tenho tentado convencer os líderes de acampamento a deixarem algumas fêmeas lutarem há séculos e vocês fazem isso o dia todo?

— Sim, aqui todos treinam. Sem discriminações. Todos têm oportunidade de treinar, se é o que querem.- Taellie interrompeu, sentando-se à sua mesa do enorme cômodo de seu escritório.- Prezamos o direito de escolha de todos, mas também respeitamos aquelas fêmeas que preferem continuar trabalhando nas cozinhas, se é isso que preferem.

Assenti, mandando as imagens de minhas lembranças desse lugar através do laço, para que Cassian entendesse do que estava falando. Os machos sorrindo e conversando ao preparar o almoço, as jovens fêmeas aprendendo a voar acima da fortaleza, o grupo misto treinando com as espadas no pátio, correndo no circuito de aquecimento matinal. Liberdade. E igualdade. Da forma que eu sonhava quando idealizei esse lugar há séculos.