13. Cassian

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Skylar estava sentada à mesa quando entrei no quarto, a atenção voltada para o que quer que estivesse escrevendo no caderno. Ela me olhou por meio segundo quando a porta foi aberta, mas era nítido que seu interesse era outro.

Os gêmeos tinham saído há pouco tempo, e apesar de terem ajudado muito Skylar com sua estratégia de guerra, sabia que ela ainda passaria horas revisando cada palavra de suas anotações para ter certeza de que não havia algum erro.

Skylar era uma estrategista habilidosa, sempre sabia o que fazer e como, com um raciocínio muito mais rápido do que o meu. Foi com essa capacidade de pensar depressa e seu conhecimento em estratégia militar que ela não só havia conseguido uma chance de participar do Ritual de Sangue, como também havia chegado até o topo da montanha Remiel usando apenas a própria inteligência e técnicas de sobrevivência humana em um tempo mais curto do que eu, Rhysand e Azriel havíamos feito anos antes. Era óbvio que Skylar havia nascido para a grandeza, e por isso eu sabia que não havia ninguém melhor para comandar possíveis ataques de uma guerra como ela. O problema era a hora em que ela fazia isso.

O sol já havia abandonado o céu há um bom tempo, e ela não saiu do quarto da Casa do Vento nem pelo jantar na casa da cidade. Haviam me perguntado por ela quando cheguei à noite, mas nem mesmo eu sabia exatamente o que fazia. O importante, no entanto, era convencê-la a adiar o trabalho até a manhã seguinte. Não tinha certeza se conseguiria, infelizmente.

— Há quanto tempo está aqui?- perguntei puxando uma cadeira para perto da sua diante da mesa, tentando enxergar os papéis sob seus dedos para tentar descobrir o que ela fazia.- Voltei da casa da cidade e está exatamente onde a vi da última vez há horas atrás. Há quanto tempo você está trabalhando?

Ela deu de ombros.

— Que horas são?

Virei o relógio de mesa na sua direção. O ponteiro indicava o quanto estava tarde. Quase meia-noite. Tinha certeza de que ainda havia sol lá fora quando ela se trancou nesse cômodo.

— Então faz umas 5 horas?- Ela tentou, mas não parecia preocupada com o que isso significava.- Tenho certeza que é perto disso.

— Você pelo menos comeu?- Quando Skylar entrava em um desses estados de obsessão por algum trabalho, sabia bem que ela não era capaz de pensar em mais nada, e se deixava até passar fome ou sono, não queria ver isso acontecer outra vez. Ficava mesmo preocupado quando ela fazia isso.

— Não?

Foi sua única resposta.

— Tudo bem, pode largar isso agora e vamos lá embaixo para que eu possa preparar uma janta para você.- Pedi, estendendo uma mão em sua direção.- Deixa isso para mais tarde.

— Não, estou ocupada.

— Nada disso vai fugir daqui se você se permitir descansar por alguns minutos.- Insisti.- Por favor, venha comigo.

— Dormir e comer são coisas que podem esperar, preciso terminar isso.- Skylar nem me olhou, a mão ainda agarrada aos papéis sobre a mesa.- Tem uma guerra em curso e eu sei como minhas armadilhas na mata podem funcionar ao nosso favor.

Suspirei.

— Nenhuma guerra vai acontecer essa noite.- Tentei argumentar.- Deixe isso para amanhã. Ninguém vai morrer se você comer alguma coisa e descansar.

— As minhas ideias, sim.

Ela falava com seriedade, tão preocupada com seu trabalho que nem cogitava minhas sugestões. Era isso que me irritava quando Skylar tinha alguma investigação em andamento. Nada mais importava até que tivesse certeza do que havia acontecido, e tinha medo de que ela continuasse assim até essa possível guerra acabar, mesmo que durasse anos.

Corte de Ventos e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora