Sofia narrando:
26 de Abril.
Já passa das vinte e duas horas, nesse momento estou sentada na varanda do meu quarto com uma garrafa de vinho na mão. Não deveria está bebendo, afinal recebi alta hoje, porém eu mereço isso, nunca gostei de beber mas nesse momento sinto como se isso pudesse aliviar e me fazer esquecer de tudo, sei que isso não passa de uma ilusão.
Assim que acordei essa manhã fui recebida pelas caras de preocupação da minha mãe e da Luana, e foi naquele momento que todas as memórias voltaram e foi impossível segurar as lágrimas, as contei tudo,cada detalhe, cada pensamento e tentei descrever com perfeição cada monstro que carrego, naquele momento senti o fardo aliviar e diferente do que pensei não recebi pena mais sim conforto. Porém por algum motivo assim que passei pela porta do meu quarto foi como se
toda dor voltasse. E foi ali que eu entendi, não importa o quanto as pessoas tentem te ouvir, só você é capaz de decifrar o seu silêncio.Não sei quanto tempo estou aqui, sentada olhando o céu, perdida em pensamentos, saboreando meu vinho. Sou desperta dos meus pensamentos por um barulho do outro lado da varanda.
- Você não deveria está bebendo - O Lucas fala sentado ao meu lado.
- E você não deveria invadir a casa dos outros - Falo olhando-o.
- Nada que não tenha feito antes - Ele fala com aquele sorrisinho idiota e tira o vinho da minha mão o bebendo.
- Idiota - Falo puxando o vinho de volta.
Ficamos ali um bom tempo, sentados, calados, olhando para o céu, cada um perdido em seu pensamentos, compartilhando uma garrafa de vinho.
- Minha mãe me falou que você foi me visitar, obrigada. - Falo ainda olham para o céu.
- O que aconteceu com você Sofia? - Ele fala e não preciso o olhar para saber que toda sua atenção está voltada para mim.
- Quando os monstros querem sair é difícil controlar. - Falo e já posso sentir o álcool agindo.
- Se você precisar falar, eu posso ser um bom ouvindo. - Ele fala e nesse momento o olho.
- Será que pode? - Falo em tom de desafio tentando desfiar o assunto e o vejo levantar uma sombrancelha.
- Não tente mudar de assunto Sofia. Do que você tem medo? - Ele pergunta e nesse momento desfio o olhar.
- Quando eu era pequena morria de medo de filme de terror e fantasmas. - Falo sorrindo depois de um tempo em silêncio.
- E não tem mais? - Ele pergunta
- Não, parei de ter medo quando percebi que os vivos são muito mais assustadores que os mortos.
- Então do que têm medo? - Ele repeti a pergunta.
- A pouco tempo percebi que eu era a protagonista do meu próprio filme de terror, na verdade eu era o monstro dessa história. Então comecei a ter medo mim mesma. - Falo e não recebo resposta.
- Você quer mesmo saber? - pergunto o olhando depois de algum tempo pensando.
- Se você quiser falar.
- Eu nunca fui muito sociável, na verdade nunca fui muito de fazer amizades, durante toda minha infância e começo da adolescência só tive um amigo, o Léo - Começo e sorrio ao falar aquele nome.
- O garoto da foto na sala? - Ele pergunta, e fico surpresa por ele lembrar da foto.
- Sim, ele era meu melhor amigo. Na verdade eu o amava como se fosse um irmão. Sempre sofrermos bullying na escola, ele por ser negro e nerd, e eu por ser a esquisita que só usava roupas largas e sempre gaguejava em público. As pessoas até tentavam disfarçar todo preconceito, mas era visível, todos os apelidos e piadinhas referente a nós, tirando o olhar de nojo ou indiferença que recebiamos. - Nesse momento lágrimas já dançavam no meu rosto - Porém tudo isso mudou quando o Igor chegou, ele era um dos caras mais populares da escola todas as garotas eram loucas por ele, e séria muito clichê dizer que ele olhou logo pra esquisita,não? Pois é, ele começou a se aproximar e tudo parou, os xingamentos, as piadinhas e todo preconceito, todos começaram a tratar a mim e ao Léo como seres humanos. E eu me apaixonei, me apaixonei de tal forma que fique cega. - Sinto um nó se formando na minha garganta, me impedindo de continuar.
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Recomeços
RomanceVocê já teve a impressão de que algo está faltando? E embora tudo esteja aparentemente bem,você continua triste sem saber o motivo? Já perdi a conta de quantas vezes saí na rua com um sorriso no rosto e um vazio na alma. Nunca fui boa em começos, n...