Sofia Narrando:
Fazem exatos dois dias desde o meu "momento" com o Lucas, nesse tempo não temos nos visto muito. E por mais que eu não queria admitir, as suas palavras mexeram comigo.
- Sofia, você tá me ouvindo? - Minha mãe fala.
- Claro que tô. - Falo tentando não parecer tão aérea.
- Que ótimo, então você vai mesmo? - Ela pergunta.
- Sim - Respondo,mesmo sem fazer ideia do que ela está falando.
- A dona Lúcia vai ficar muito feliz em saber que você aceitou ficar quinze dias cuidando dos bichinhos dela. - Ela fala e não consigo desfaça a cara de espanto.
Dona Lúcia é uma senhora que trabalha como enfermeira no mesmo hospital que a minha mãe. Dois anos atrás ela pediu minha ajuda com seus bichinhos, ela iria fazer uma viagem e não tinha quem cuidasse deles, aceitei pensando que seria algo simples, porém eu não imaginava que ela teria tantos bichos, a casa da mulher parecia um zoológico, até cobra ela têm. Eu nunca vê tanto cocô junto e com certeza não pretendo ver novamente.
- Deus me livre, tá amarrado, eu prometi a me mesma que nunca mais entraria naquela casa. - Eu falo rápido.
- Eu só estava brincando com você Sofia. - Ela fala depois de algum tempo rindo da minha cara.
- Não teve graça. - Falo cruzando os braços como uma criança birrenta.
- Claro que teve. Como eu estava falando antes, terei que ir ao hospital, tenho que acompanhar alguns pacientes, voltarei logo. Você vá ficar bem? - Ela fala
- Sim, não se preocupe. - Falo firme tentando passar confiança.
- Certo, qualquer coisa me ligue. - Ela fala, me dá um beijo na testa e saí.
15hr30min.
Estou de cabeça para baixo, olhando para o teto entediada, não tenho nada pra fazer. Resolvo saí daquele quarto, assim que chego na metade da escada reparo no piano no canto da sala. Sinceramente, não tinha notado a sua presença ali, na verdade posso até ter notado, mas não dei importância. Minha mãe me ensinou a tocar quando eu tinha cinco anos, na verdade ela ensinou a mim e ao Léo. No final de quase todas as tardes sentavamos em frente ao piano e ficávamos horas tocando, aquele era o momento onde mais nos sentíamos conectados, era como se a música falasse por nós dois, em silêncio, perdidos na melodia de cada canção nos encontrávamos.
Depois da sua morte tudo perdeu o sentido, as notas já não eram tão precisas, a melodia parecia não se encaixa e não existia mais sentimento presente na canção. Então eu simplesmente parei, desde o dia de sua partida não tenho mais tocado. As vezes penso que quando o Léo se foi, uma parte minha se foi junto.
Balanço a cabeça na esperança de esquecer a presença do piano, porém nesse momento as palavras do Lucas vêm no meu pensamento."Não deixe quem você é de lado, só pra viver aquilo que seus monstros querem que você viva."
Por mais que eu odeie admitir, aquele Idiota tem toda razão. Eu não posso simplesmente parar de tocar, muito menos deixa de viver só porque a história não saiu do jeito que eu queria. É injusto trocar uma vida de sorrisos por alguns anos de lágrimas, o Léo não merece ser lembrado assim.
Com esse pensamento caminho até o piano, me sento e encaro as teclas, passando a mão lentamente, causando um som quase inaudível.
Vejo os olhos, começando a tocar e cantar:Tudo que sobe, desce
Tudo que entra, sai
Hoje você me vê
Amanhã talvez não veja maisTudo que nasce, morre
Tudo que vem, se vai
Hoje morreu um sonho
Que ele descanse em paz
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Recomeços
RomanceVocê já teve a impressão de que algo está faltando? E embora tudo esteja aparentemente bem,você continua triste sem saber o motivo? Já perdi a conta de quantas vezes saí na rua com um sorriso no rosto e um vazio na alma. Nunca fui boa em começos, n...