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   — Isso tudo é culpa sua! — Ben gritava com Allen, o híbrido apenas abaixava a cabeça, escutando tudo. — Você estava atrás deles!

   — Eu falei que mudei de ideia, estou tentando levar vocês até eles, eu posso salvá-los, eu sei onde fica o laboratório, por favor me escutem...

   — Por que a gente deve confiar em você? — Joe perguntou cruzando os braços.

   E Allen acabou lembrando da conversa que teve com o irmão.

   "Assim que descobrirem que você é o 121 eles vão te chutar fora".

   — Por que vocês disseram que eu poderia confiar em vocês... — Ele disse com a voz quase desaparecendo.

   — Gente ele está tentando ajudar, por favor. — Gwilym interferiu. —  Talvez essa seja a única chance que nós teremos de salvá-los.

   — Certo, não temos outra escolha a não ser confiar no namoradinho do Gwilym... — Ben respirou fundo, sentando no balcão no meio do Hall. — E então, você é o agente duplo, o que podemos fazer?

   — O único laboratório do projeto H que está de pé fica em Manchester, vamos pegar a van e irmos até lá, eu sou o código 121, eu vou conseguir entrar me passando pelo meu irmão.

   — Você e seu irmão se passarem um pelo outro acontece com quanta frequência? — Joe arqueou uma sobrancelha.

   — Geralmente quando ele quer foder a minha vida. — Allen levantou. — Eu tenho armas lá em casa, é uma das regras para os cientistas ou para híbridos espiões portarem e usarem armas.

   — Vocês são cientistas ou mafiosos? — Foi a vez de Gwilym perguntar.

   — Fazemos experimentos com humanos e animais, se for necessário matar, estamos preparados. Acho que somos cientistas que se comportam como mafiosos. — Ele se levantou. — Vamos até a van, temos muito o que fazer em Manchester.

   — E se um de nós morrer lá? — Ben cruzou os braços.

   — Não vou permitir, tem outra parte do plano.

•••

   Roger estava um pouco tonto, ele se lembrava de escutar o barulho de carro, e também se lembrava de ver o rosto de Allen. Quando foi tentar se mover, estava algemado a uma mesa de metal, e assim que abriu os olhos, lá estava Allen, olhando para ele com indiferença.

   — Allen... O que é isso? — Roger perguntou com a voz rouca.

   — O que é isso? — Ele escutou a voz de Lucy,  mas não conseguia se mexer para ver onde ela estava. — Allen o que...

   — Pelo amor de Deus parem de me chamar de Allen. — Ele disse revirando os olhos. — Eu tenho vergonha daquele chorão.

   O híbrido percebeu que ele usava um jaleco, de acordo com o crachá, era Paul Prenter Leech, ou 122, e provavelmente eles estavam em outro laboratório da HGL.

   — Só pode ser brincadeira... — Roger suspirou. — Ele tem um irmão gêmeo do mal?

   — Ah por favor, vocês são idiotas demais. Ele era o 121, o perseguidor, e vocês não suspeitaram de nada, mas aí ele quis parar de trabalhar e eu tive que dar um jeito nele...

   — Você matou ele!? — Lucy quase gritou.

   — As vezes eu tenho vontade. — O homem respondeu com naturalidade

   — Eu falei que só tem psicopata nessa operação. — Ele escutou Brian, e levantou as orelhas.

   — Brian?! Você está bem?!

   — Estou. — Brian respondeu, mesmo que estivesse amarrado a um poste de ferro. — A Lucy está amarrada comigo, o Rami tá desmaiado e acorrentado pelo pescoço no canto da sala, tem um filho da puta armado nos vigiando, tudo numa boa.

   Ele não viu, mas Paul deu um chute em Brian.

   — Você é irritante cabeludo. — Ele disse, andando até alguns armários de ferro no canto da sala.

   Nesse meio tempo, mais alguém entrou na sala, e Roger não conseguiu ver quem era.

   — 122 coloque o Canis Lupus Familiaris em modo ofensivo, eu vou cuidar da filha da 773.

   — Espera, o que vão fazer comigo?  Quem é você?

   — Edward Golden, o líder de todo o projeto H.

   Roger fez um esforço para olhar para ele, era um homem de meia idade, com olhos castanhos cansados, um rosto flácido e esquecido, o perfil de alguém que tinha fugido de um manicômio. Usava um jaleco branco e carregava uma arma, assim como todos os outros.

   — Há três anos, o projeto quase foi arruinado, culpa do gatinho e do cabeludo aí. Precisávamos de novos híbridos, para testes e para trabalharem pra nós, como no caso do 121. Porém, é muito difícil, entre tantos bebês e animais mortos, não conseguimos mais nenhum resultado além daqueles três, quando o Canis Lupus Familiaris estava aqui, tentamos cruzar ele com outra fêmea da mesma espécie.

   — Ele nunca me disse isso... — Lucy disse com a voz sumindo.

   — É claro que não, eu acompanhei o processo, ele estava dopado. Mesmo tentando fazer ele cruzar com outras cadelas, os filhotes nasciam mortos, queríamos começar os testes para cruzar ele com humanas, mas ele fugiu antes que pudéssemos começar os testes.

   — E o que isso tem haver comigo?

   — É mesmo filha de sua mãe. — Ele sorriu. — Você, Doutora Boyton, fez todo o trabalho que levamos anos para concluir, você tem dois híbridos do tipo agressivo no seu útero.

   — Como sabe que ela está grávida?

   — Doutor May, escaneamos todos vocês quando chegaram aqui. — Ele se afastou de Lucy. — Vocês são nossos prisioneiros agora, sabem demais para saírem por aí, e 122, eu quero que traga o 121 de volta e dê choques nele até vê-lo desmaiar como punição pela rebeldia.

   — Às suas ordens. — Ele respondeu com naturalidade.

   — Vocês são loucos?! — Roger disse. — Você vai fritar os miolos do seu irmão, e você vai torturar uma mulher grávida, porque insistem nisso?

   — Sabe por que? Governos, forças especiais, serviços secretos, todos eles pagariam uma fortuna pelos híbridos. Como vocês viram com o 121, eles podem ser agentes, recolher informações, fazem o que lhe for mandado quando seguem a adaptação cerebral. Agora híbridos como o Canis Lupus Familiaris são para a guerra, ele pode equivaler a dez homens em sua melhor forma, ele rasga carne e derrama sangue, até acha graça disso, os híbridos do tipo dele são os mais procurados, e já temos um comprador pra ele.

   — Espere! Ele é meu marido!

   — Então vai ter que se despedir dele doutora Boynton. — Foi tudo o que 001 disse antes de sair da sala.

   — Inferno! — Brian suspirou.

   Enquanto isso 122 deu uma injeção em Rami, e se afastou com o mesmo sorrisinho cínico que fazia todo e qualquer ser humano ter vontade de quebrar os dentes dele.

   — O que você deu pro Rami? — Lucy perguntou apavorada.

   — Ele vai acordar virado no demônio, eu me afastaria se eu fosse vocês. — Ele pegou o revólver e cruzou os braços. — Se não calarem a boca, eu vou jogar alguma carne pra ele rasgar.

Meow!? Yes, Again. Onde histórias criam vida. Descubra agora