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   Os quatro estavam no carro de Brian, saindo da clínica depois do dia todo acompanhando, e claramente, Rami havia percebido que Lucy não estava bem. Ela estava quieta, e parecia triste.

   Na tentativa de animar sua esposa, Rami começou a cheirar o pescoço dela, aquilo sempre fazia ela rir. Ele se aproximou, sentindo aquele perfume doce que tanto gostava, ouvindo ela rir baixinho.

   — Tem gente aqui na frente assistindo viu. — Roger brincou, colocando sua mão no colo do namorado, enquanto o mesmo dirigia.

   — Eu adoro cheirar ela... — Rami sorriu, beijando o pescoço dela. — Eu gosto tanto de Lucy...

   — Deixa eles Roger. — Brian sorriu, voltando a olhar para a pista. — Eu vou deixar os pombinhos em casa e vou passar pra ver como está o santuário, parece que, desde que eu virei o vice diretor da ONG, aquele povo perdeu um pouco do respeito...
 
   — Não leve isso a mal. — Lucy disse, enquanto segurava a cabeça do esposo, que não queria parar com os beijos nos pescoço. — Eles te enxergam como amigo, o vice diretor que fica supervisionado a equipe, aí eles ficam a vontade com você.

   — A vontade como no dia que o Joe mandou um nude no grupo sem querer?

   — Isso foi engraçado. — Roger riu. — O Gwilym quase fez uma camiseta com aquele nude pra dar de presente pro Ben.

   — As pérolas da equipe. — Lucy sorriu, acariciando os cabelos do esposo, enquanto ele avançava cada vez mais sobre seu pescoço. — Querido eles estão olhando.

   — É que você não parecia feliz, eu queria te animar... — Ele se afastou um pouco, abaixando as orelhas.

   — Aconteceu alguma coisa Lucy? — Brian perguntou, achando que não teria nada muito grave como resposta.

   Lucy sentiu o peito doer de novo, não queria dizer para Rami que o caso dele era grave.

   — Minha mãe... Me ligaram do presídio pra falar sobre ela. — Mentiu, olhando para a janela.

   — 773... — Roger suspirou, segurando a coxa do marido com mais força.

   Ele ainda tinha medo daquela mulher.

   Ainda mais depois que quase perdeu Brian.

   — Vamos esquecer. — Lucy abraçou o esposo, beijando a testa dela com cuidado. — Já passou.

   Ela não iria falar sobre a ligação com Rami e Roger ali.

   Precisava falar sobre isso com Brian, sozinha.

•••

   — Venha cá, isso bonitinho.

   Joe estava observando um lagarto que tinha encontrado no caminho para o trabalho, subir em sua mão, o pequeno animal, com escamas avermelhadas e olhos grandes, parecia o encarar, Joseph se divertia com aquilo, adorava lagartos.

   — Seja bem vindo a sua nova casa. — Ele conversava com o animal, enquanto ia até uma das várias "gaiolas", construídas por ele mesmo, para abrigar os seus pequenos de sangue frio. As gaiolas não podiam ser quentes, algumas tinham até um laguinho para salamandras, ele adorava seu trabalho com répteis. — Prontinho pequeno... Vou arrumar mais amiguinhos pra você não ficar sozinho.

   — Falando com as lagartixas de novo?

   Joe se assustou no primeiro segundo, mas logo depois se sentiu aliviado, era a voz mais linda do mundo, que pertencia ao homem mais lindo do mundo.

   Benjamin Mazzello.

   O loiro estava atrás dele, encostado na porta, com os braços cruzados e um sorriso no rosto, usava uma regata branca com o símbolo da ONG no meio, deixando aqueles belos braços fortes a mostra, involuntariamente, Joseph mordeu os lábios.

   — Estava me espionando? Estava conversando com o meu pequeno novo.

   A sala dos répteis no santuário era meio escura, iluminada com poucas luzes azuis, as paredes eram pretas e tinham folhas verdes e galhos pintadas, Joe queria que os bichos se sentissem mais a vontade. As gaiolas eram espalhadas por toda a sala, em dias de visita, ele era obrigado a deixar os bichinhos nas gaiolas, mas as vezes gostava de deixá-los soltos no jardim do santuário pra eles pegarem um ar.

   — Já deu nome pra ele? — Ben fechou a porta e se aproximou do vidro. — Eu pensei em Flame, por causa das escamas avermelhadas.

   — Agora o nome dele é Flame. — Joe sorriu, cruzando os braços. — Eu queria saber de uma coisa, Urso Polar.

   — O que? — Ben abaixou a cabeça, tentando esconder o riso as bochechas vermelhas.

   Mesmo casados, Ben sempre seria o seu loirinho tímido do curso de biologia.

   A história de como eles se conheceram era bem bonita.

   Isso ainda será esclarecido.

   — Por que trancou a porta?
  
 

  — Porque eu gosto de carinho. — Ele respondeu, encostando a cabeça no peito de seu esposo. — E você sempre foi tão carinhoso comigo.

   — Casar com você foi a melhor coisa que eu já fiz na vida.

   — Você sempre diz isso.

   — E eu sempre vou dizer.

   Os dois selaram os lábios em um beijo suave e cheio de amor, por mais que Ben gostasse de quando o marido picava seu cabelo e usava a língua sem em todos os cantos possíveis de sua boca, aqueles beijos fofos faziam seu coração derreter, estavam casados a anos e ele não acreditava na própria sorte.

   Era muito difícil de acontecer, mas os beijos não saíram do calmo e apaixonado, eles ficaram minutos dentro daquela sala, apenas demonstrando através daqueles beijos que, cada dia juntos era maravilhoso, apesar das dificuldades comuns de todo o casal.

   O loiro se afastou um pouco, apenas para o olhar o belo rosto de seu esposo e sorrir.

   — Você é muito bonito mesmo, e eu achando que o Brian tinha casado com o gato.

   Os dois riram, todos na ONG sabiam sobre os híbridos, depois de várias autorizações governamentais é claro. No começo foi bem difícil, mas depois todos se acostumaram. Se Brian amava Roger mesmo ele sendo metade gato, eles não podiam fazer nada, o mesmo valia para Lucy e Rami.

   Os dois iriam continuar com os beijos, se Mary não tivesse aberto a porta, se deparando com os dois abraçados e com os rostos bem juntos. Os três se encararam envergonhando, a mulher segurou o riso e olhou para baixo, na tentativa de disfarçar a vergonha.

   — Toda a equipe no hall, ordens do diretor.

   — Achei que não teríamos reuniões hoje. — Joe comentou, se separando do esposo.

   — Essa é de última hora, ele acabou de convocar, eu não queria interromper mas vocês deveriam ter pensado nisso antes de começarem a se pegar em local de trabalho.

   — Cala a boca coelho da páscoa. — Ben saiu da sala, segurando a mão de Joe e sendo acompanhado por Mary.

   Quando finalmente todos da equipe estavam no hall, o senhor Dolson, diretor e fundador da ONG, começou seu pronunciamento, ele era um senhor muito simpático, seus cabelos grisalhos viviam despenteados, usava roupas simples até em palestras, e não se importava com as críticas que recebia, para ele, o importante era salvar os animais e sorrir enquanto fazia isso.

   Por isso a declaração dele foi tão chocante.

   — Brian May vai ser o novo diretor e dono da ONG.

Meow!? Yes, Again. Onde histórias criam vida. Descubra agora