A verdade

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No sentido figurado a palavra prurida é um estado de hesitação ou dor na consciência, estava me sentindo assim, num looping de gana que me ludibriava dolorosamente, mas que me satisfazia como se minha vida toda estivesse a esperando. Segurava com força as alças de minha bolsa e fechava os olhos enquanto o vento gelado paralisava meu rosto.

Era o que não precisava, tudo o que me esforçava para esquecer.

Vontade era um impulso cego, sem sentido, o inconsciente chamava.

Cada impulso que tentava ignorar ao olhar para ele me germinava a mente, e me envenenava, suplicando para que meu corpo fosse libertado, e que naquele calor tenha finalmente de volta o enleio de meu coração.

Estava perplexa, perplexa com a face que me aprisionava a lucidez.

Talvez se me afogasse nele de novo faria com que sumisse de vez, no entanto, era certo, ele podia voltar ainda pior. Ver o sol brilhante em seus olhos em meio ao inverno congelante e não poder tocá-lo era um absurdo; pensava, não resistindo àquele sufocante sentimento.

Não há como resistir a ele, não havia como. O único meio que achei que poderia me livrar era ceder à vontade.

Em meus lábios enlevo de carência, no sabor do homem que ainda amava, longe das vazias e devassas vozes, dava-me voltas, voltas além do carrossel, fundindo-me no aroma da saudade, o infinito perfume que ainda estava vívido em meus sentidos.

Quando tomei a razão do que fiz, nada restou então a não ser a lembrança de um prazer.

Eu achava que tinha aprendido a viver dessa forma, na marra, no grito, no sufoco, na dor de ter perdido um grande amor, mas, como sempre imaginei, vê-lo seria meu desabar.

Sempre agi assim, no impulso, porém, nunca sequenciando remorsos, beijá-lo ali não me passou nada disso, mas, nesses últimos dias, após reencontrá-lo, mal conseguia reconhecer a mulher que mirava de relance no espelho, sentimentos suplicavam para sair de dentro de mim, e tudo que eu queria guardar e esquecer gritava como se previsse esse momento, o momento que mais uma vez eu dava a entender que o queria de volta.

Eu era uma tola, não foram apenas às idiossincrasias que nos afastaram, mas simplesmente, desconfortos maiores, emoções negativas além de pequenos acontecimentos, e claro, seu findamento do amor. E que por incrível que pareça, era o que mais enxergava naqueles olhos brilhantes.

Sasuke olhou para o lado após o beijo, e depois voltou a me fitar, eu continuei o admirando, entristecida.

Resfoleguei e peguei minha filha. Mesmo Sarada estando se divertindo no carrossel eu precisava de um tempo, um tempo para respirar e tentar não pensar em quão ridícula eu era em ter beijado Sasuke daquele jeito, naquele momento, e depois de tudo que tinha passado e que ainda passava por causa dele. Estava com vergonha de mim mesma, não arrependida, nunca sentiria arrependimento de algo que sei que vinha de meu coração.

Ao descer, eu sentir que ele desceu junto, e que logo depois me tocou entre os ombros. Virei e o olhei, eu não queria chorar, era somente isso que pensava e me concentrava naquele instante.

Sasuke estava nervoso, deu para perceber, ele olhou para os dois lados antes de falar;

- Não vai embora agora.

- Já está meio tarde, eu tenho que voltar com a Sarada.

- Sim, é... tudo bem, posso...

- Diga Tchau Sarada – disse a minha filha já querendo desaparecer dali.

- Eu queria combinar outro encontro, pra você poder levar a Sarada amanhã para me ver, queria que a gente acertasse tudo sobre ela com calma – Sasuke sobressaiu enquanto já caminhava para fora do parque.

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