Consumido por inteiro

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De madrugada e eu ainda me lembrava de nosso encontro, das palavras de minha filha, de como me chamou de pai, e dos olhos de Sakura.

Foi esperando quase nada que um quase tudo apareceu.

Os olhos dela com o tempo tinham ganhado ainda mais cor, como grandes esmeraldas, sentir vontade de desenhá-los, de eternizá-los além da minha memória.

Não sabia como transferir perfeitamente, a perfeição era-se sim impossível de copiar, mas, eu precisava tê-lo ali, naquela folha de papel. Eram olhos gigantescos, que cobriam quase todo o espaço em branco, e em meu desenho pareciam até animados. Ao terminar somente os olhos eles me observavam, me passavam sensação de paz, de alegria por reencontrar em mim mesmo um sentimento guardado, escondido, mas que ainda me fazia bem. Desenhando na minha mesa da sala com um café espumado ao lado, sentia um frio na barriga, interrogações deslizavam pelas minhas mãos geladas em uma urgência em saber se aquilo era ou não pra ser. Um dia alguém nos ensinou que quando é pra ser a gente sente, eu sempre quis que fosse, mas nunca foi.

Larguei o lápis de cor na metade de terminar os cabelos em tom de rosa pastel, os sons da neve se chocando freneticamente com o vidro anunciavam um temporal bem forte; Estava tão frio, um frio que em muitos anos não se via invadir Nova York, levantei-me reforçando as vidraças duplas.

Olhava o horizonte, onde eu exatamente me encontrava?

O branco reluzia além das colinas da cidade, e refletia ao fundo minha imagem. Eu tinha uma impressão horrível de mim mesmo, de ter envelhecido 10 anos em 2, embora ainda esteja no inicio dos 20 anos. O tempo era irrealizável. O tempo tinha passado bem mais que o normal para mim. Nunca ignorei suas ameaças, como também tentava ignorar que meu passado definia a minha abertura para o futuro.

O meu passado era a referência que me protegia de ultrapassar os limites, nele estava presa minha ignorância, meus sentimentos, minhas necessidades, e o meu corpo.

Como tentei me entregar ao futuro, esquecer o passado!

Como tentei achar no passado dos ponteiros o mesmo Sasuke de 18 anos. Hoje, que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade? Eu era um escravo dele.

Não conseguia esquecê-la, não conseguia me livrar daquele sentimento destruidor que poderia acabar com muitas vidas.

E escrevi, debaixo do desenho dela;

"Eu me lembro, amor, de tudo, lembro de pensar que o amor era perfeito, que bobeira, o amor é pura imperfeição. Lembro de ficar triste só por te deixar triste, lembro de me sentir mal com isso. Lembro dos momentos em que a gente foi bobo e feliz. Lembro de me sentir feliz a maior parte do tempo, pelo simples fato de você existir em mim. Lembro da tua mão, que sempre achava a minha. Lembro dos teus pequenos dedos entrelaçando sobre meus fios, os puxando enquanto sentia prazer. Lembro da tua boca, do gosto de nossos beijos. Lembro do teu rosto de menina, que me olhava como se ainda fosse aquela nossa primeira vez."

- Ah que coisa boba, que coisa idiota, que coisa burra, que coisa débil – divagava sorrindo feito um garoto idiota que eu ainda era.

E então larguei tudo e fui ler antes de dormir. Apaguei as luzes e caminhei até o quarto com o celular em mãos, abri sua foto no Whatsapp, eu agora tinha seu contato, me deitei na cama, sobre os lençóis gelados, e senti falta de calor, de um calor de corpo de mulher, do calor de seu corpo.

Olhava e as admirava como uma pintura, como uma obra de arte, você estava com Sarada no colo, e aquela era a primeira foto que tinha de minha filha.

Tentei esquecer que agora podia a qualquer hora do dia ou da noite lhe contatar, precisava dormir, e pensar na frustração de não tê-la comigo toda vez acabava com meu sono.

StigmatizedOnde histórias criam vida. Descubra agora