Desejo indesejado

112 3 0
                                    




- Todas as pessoas têm direito a descanso, menos as mães. Por favor, mamãe, acorde, volte pra mim, acorde, venha conhecer a Sarada, venha abrir o coração de papai, a gente precisa de você – implorava contendo minhas lágrimas ao segurar sua mão no leito do hospital.

Sua pele estava tão fria, tão branca e sem vida, mas, seu coração batia, e batia numa luta infinita, dia após noite ainda me dando uma chance, ainda me dando misérias esperanças.

Ela estava praticamente morta, apenas aparelhos a mantinham daquele jeito, e os médicos deixaram a "inevitável" decisão em nossas mãos.

Nunca conseguiria ter a força de pedi-la para descansar, definitivamente, na minha mente perde-la seria levar parte de mim com ela.

Acariciei seus cabelos opacos antes de me levantar, soltei sua mão e fechei meus olhos rezando.

Antes de ir e fechar a porta a olhei naquele dia uma última vez, novamente a pedindo para não descansar, lutar pela vida.

Papai estava na porta com Sarada nos braços, ele se recusava em sua amargura não entrar no quarto para vê-la, mesmo eu o pedindo a todo o momento.

- Papai? – ao vê-lo desse jeito o olhei não conseguindo aguentar, meus olhos se lacrimejavam piedosos.

- Sakura, por favor, isso de novo não – negava.

- Ela vai ficar mais forte se você a ver, papai, faz isso por mim. Ela te amava, ela vai lhe ouvir, eu tenho certeza que o que a mamãe precisa para voltar é de você.

- NÃO SAKURA, PARA – gritava nervoso, todavia, agoniado – Vamos logo sair daqui, a Sarada não para de chorar, está com fome, você demorou demais.

Peguei então minha filha no colo.

- Abra seu coração papai.

- Se você continuar com essa história eu vou embora, e vocês vão almoçar sozinhas.

Limpei minhas lágrimas ao vê-lo me dar às costas a começar caminhar pelos corredores do hospital.

- Pronto amor, mamãe voltou – acarinhei o rostinho choroso de minha filha.

Seus olhinhos me olhavam saudosos.

- Mamãe estava vendo a vovó, só que seu vovô não deixa você também entrar – a explicava ao começar a caminhar.

- Vovó? – ela perguntou.

- Sim a vovó, ela está doente, mas, ela vai voltar para lhe conhecer, eu pedi a ela isso hoje. Vamos ter esperanças, não é? – lhe dei um beijinho na bochecha.

- "Eslança" - ela repete tentando falar a palavra esperança.

- Vamos ter amor, vamos ter muitas esperanças!

Saindo do hospital observei o carro de papai já com a porta aberta nos esperando, íamos comer em um restaurante da zona sul da cidade, e o hospital sendo próximo da onde estávamos indo o implorei para dar uma passada aqui e ver a mamãe.

Coloquei a Sarada no banquinho de crianças, e a prendi com segurança antes de me sentar ao seu lado no banco de trás.

- Parou? – papai questionou bufando lá da frente ao ligar o carro.

- Eu esqueci de trazer a mamadeira da Sarada, vou ter que dá-la de mamar – desviei o assunto tentando fazer papai sozinho ficar pensando nas palavras que lhe falei.

- Mas você viu?! É só voltar pra cá para começar a ficar desequilibrada e chorando por qualquer besteira.

- A mamãe não é besteira papai – o repreendi.

StigmatizedOnde histórias criam vida. Descubra agora