01

7.8K 627 239
                                    

Jaebum ajeitou a postura na cadeira de seu escritório e tentou se concentrar nos papéis à sua frente mais outra vez. Impossível. Seus olhos estavam se fechando involuntariamente. A abstinência das malditas drogas o fazia tremer. Ele se recusava a continuar. Elas o mantavam quase quanto o ajudavam. Não fazia sentido.

Antes dos seus dois anos de idade, seus pais logo perceberam que ele era um pouco diferente. Um bebê humano-lobo não deveria ficar rosnando para as coisas, grunhir ou ser tão raivoso. A maioria não apresentava traços do seu lado lupino antes dos cinco anos de idade. O lado humano deveria ser mais presente. Pelo menos era assim que funcionava naquela sociedade. Começou um tratamento temporário aos cinco anos de idade, o qual não obteve nenhum resultado. Teve que ter educação em casa, pois mandar um garoto cujo lado lupino era tão presente poderia assustar as outras crianças. Aos sete, começou a tomar remédios e mais remédios e, aos vinte e cinco, continuava tomando-os. Não precisava ser nenhum gênio para perceber que as drogas o desfruíam para manter seu lado humano no controle. Alucinações, insônia, insuficiência respiratória, problemas nos rins, disfunção hormonal. Os efeitos colaterais ao longo de seu desenvolvimento foram múltiplos.

O alfa apertou os olhos, contendo um grunhido de dor nas partes baixas. Não era seu heat. Nunca havia passado mais de um dia sem tomar as drogas. Olhou pela janela afora a chuva caindo. Apertou os olhos mais uma vez, tentando conter pensamentos não-humanos. Pegou seu celular e discou um número. Apertou os olhos de novo. A iluminação do lugar o incomodava.

— Jackson?

"Fala, Jaebum. 'Tava no meio de uma partida de Free Fire"

— Eu pa-parei.

"Jaebum! De novo isso! Vai para o jardim e tenta não quebrar nada no caminho. Eu já 'tô indo".

[...]

— Youngjae, meu amigo precisa da minha ajuda. — Revirou os olhos. Embora se preocupasse com o amigo, aquilo o dava nos nervos. Acontecia todo mês. Jaebum sabe o que acontece quando não toma as pílulas e, mesmo assim, insiste.

— Quem? — Perguntou o garoto, que havia chegado naquele dia de Mokpo.

— Jaebum. Ele é legal, só um pouco teimoso. Bom, eu não sei se eu volto hoje, então...

— Eu vou com você. — Youngjae levantou-se.

— Não acho que ele vai gostar. — Vestiu o casaco de chuva. — Muito menos você, ele tem o lado lupino digamos... exaltado.

— O quê? Eu nunca conheci alguém assim! Deixa eu ir, Jack! Deixa! — Fez um biquinho.

— Você vai se assustar. — Pegou as chaves do carro e abriu a porta da frente de sua casa, vislumbrando um trovão. — Fala sério! Olha esse tempo. — Andou apressadamente até o carro, entrou no mesmo e ouviu a porta, que não era a sua, bater. — Youngjae! Eu disse que você podia vim?

— Deixa, hyung!

— Aí, 'tá. Só porque não posso mais perder tempo. — Bufou, dando a partida no carro. — Mas você fica no carro. — Youngjae rolou os olhos

[...]

— Hyung? Hyung! — Youngjae deu uma volta em torno de si mesmo, com a lanterna do celular ligada apontando para frente. Os cabelos molhados caindo nos olhos e o moletom encharcado, ele estava perdido no meio daquele jardim gigante e escuro. Queria chorar. Encontrou o muro da casa que rodeava há alguns minutos, sem encontrar nenhum sinal de onde estava e encolheu-se, no chão, escorado nele.

Fechou os olhos e, depois de dois minutos, ouviu um barulho, sem ser o da chuva. Pareciam passos. Lembrou-se de Jackson falando que ele iria ficar assustado, então apenas fechou os olhos com mais força e colocou as mãos sobre o rosto. Sentiu alguém perto de si. Sabia que tinha alguém perto de si. Seu nariz de ômega farejava um cheiro ácido, com certeza um alfa.

— Está perdido? — Youngjae ouviu uma voz baixa perto de si e levantou a cabeça, mas sentiu uma tontura repentina e fechou os olhos, sentindo seu corpo amolecer.

DESTINO - 2jaeOnde histórias criam vida. Descubra agora