Four Seasons - JJK

293 50 8
                                    

T W O

I N V E R N O

" É rápido como uma sombra, curto como um sonho
Breve como um relâmpago na noite fria
Que com melancolia revela tanto o céu quanto a terra
E antes que o homem consiga dizer "Veja!"
Os dentes da noite o devoram.
E assim, depressa, tudo o que é luminoso
Desaparece em meio à perplexidade."-William Shakespeare

...

Desde que selamos aquele pacto, unindo nossas mãos em um sinal de total comprometimento, eu prometi a mim mesmo que daria o máximo de mim, entregaria todos os meus esforços às tentativas de ensinamentos de Harmony e finalizaria aquele verão com a música na ponta dos meus dedos.

Um dia depois estávamos lá, naquele velho auditório, Notlin simplesmente largou o piano em minhas mãos e ordenou que eu tocasse, expusesse a completa vergonha das minhas tentativas falhas. Apesar de hesitar eu acabei por acreditar que poderia confiar na musicista e com os dedos trêmulos eu arrisquei, confiando no pouco que sabia e quando percebi meus dedos canhotos estavam se emaranhando enquanto meus destros se enfiavam em meio a eles, inconscientemente impondo a condição em que nasci. Aquela tentativa havia sido um fiasco e apesar da vergonha, não me restava muito além de rir do meu completo desastre.

Parei com meus movimentos, tendo completa certeza de que a garota estaria rindo junto a mim e sendo pego pelo meu grande equívoco. Harmony estava encostada nas cortinas, olhando diretamente para minhas mãos sem a mínima sátira no olhar. Uma longa respiração deixou seus lábios, ela se aproximou sentando ao meu lado e ali deu início ao nosso acordo.

A garota usava de todas as tentativas possíveis para me ensinar, começando pela imitação, seguida por coordenadas orais e repetições pausadas. Até o dia em que deixou que eu tentasse sozinho, estava saindo bem, mas no primeiro erro eu perdi toda concentração. Sem que eu esperasse senti Harmony se aproximar por trás de mim, passando com seus braços a minha volta e tocando suas mãos na minha, uma nova sensação tomou meu corpo, como uma pequena euforia que corria dos meus dedos para todos os meus membros. Eu sentia sua respiração tranquila e compassada no topo da minha cabeças, servindo como um calmante.

Quando suas mãos começaram a atuar sobre as minhas, foi como um momento mágico, algo único e magnífico, os movimentos que meus dedos eram incapazes de fazer sozinhos aconteceram junto aos seus. Eu estava perto de finalmente conseguir, vencer aquilo que havia me vencido, antes mesmo que o verão chegasse ao fim.

Eu seguia ao encontro da musicista, a qual curiosamente disse que estaria me esperando nas margens do Rio Sena assim que sua aula terminasse. Minhas aulas hoje foram no conservatório de dança, quando sai me permiti voltar ao dormitório e tomar um banho, mesmo que apressado e atrapalhado. O dia estava abafado, mas uma leve brisa corria pelas ruas da turísticas de Paris, resolvi vestir uma camisa de botões branca e larga. Quando me dei conta do horário peguei minhas chaves e sai em passos largos ao encontro de Harmony.

Sem muitos esforços eu consegui encontrar a garota que vestia uma blusa listrada sentada às margens do rio, entregue a paisagem, assim como eu estava no dia em que nos conhecemos. Quando me aproximo percebo que seus dedos correm sobre o chão, o dedilhando como se marcassem uma música. Harmony levanta seu olhar no exato momento em que meu corpo tampa o sol que tocava sua pele.

-Eu ficaria grata se pudesse dividir o sol comigo. - resmunga batendo com sua mão, que antes marcava ritmo no chão, no espaço vago ao seu lado.

-Me desculpe pelo meu egoísmo Srta. Notlin! - me sento recebendo seu olhar apertado e logo rindo junto a ela. -Não quero ser chato, mas não deveríamos seguir para mais uma aula?

As cores de uma vozOnde histórias criam vida. Descubra agora