Cinese - KSJ

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Cinese - do grego: movimento; mudança; agitação da alma; movimento da alma.

One

"Hold onto hope if you got it
Don't let it go for nobody
And they say that dreaming is free
But I woudn't care what it cost me"
- 26, Paramore

Ano 2013
Liana O'Connor com 12 anos.

Dou minha última pirueta no momento em que a música acaba e ouço as palmas, mas principalmente os gritos de dona Helena - minha mãe. Encontro-a no meio da multidão de pais aplaudindo eufórica e orgulhosa, enquanto tia Ana chora e sorri. Agradeço saindo rapidamente do palco improvisado no auditório da escola. Ballet clássico não é uma das danças que mais gosto, prefiro as danças contemporâneas, as que me dão mais liberdade de expressão, mas minha mãe gosta e fazer esse esforço de vez em quando não faz mal.

A apresentação termina e após todos que apresentaram se reverenciarem em agradecimento, os convidados começam a sair e os pais ou responsáveis vem até nós.

 - Minha garotinha estava tão linda com aquele figurino, aquela atuação, aqueles passos na dança! - Minha mãe chega orgulhosa falando em português fazendo com que as pessoas a nossa volta nos olhem com uma expressão estranha. Eu normalmente sentiria vergonha, mas parei de pensar e a abracei quando vi seu sorriso enorme, que me fez rir junto com ela.

- Parabéns Lia, você foi incrível. - Ana diz e me abraça também. - Vamos na...

- Liana! - Zac surge com seu sotaque em inglês entre a multidão com sua mãe e um buquê de flores laranjas. - Você foi incrível hoje! Aqui. - Diz sorrindo e me entrega as flores. Ele não se apresentou, mas veio me assistir.

- Querem ir conosco na pizzaria do sr. Marcus comemorar por essa apresentação? - Tia Ana os convida e eles aceitam. Nós temos como tradição de quando acontece uma apresentação ou algo importante com qualquer um de nós três, comemoramos comendo pizza, e dessa vez não seria diferente.

Saímos da escola em direção ao estacionamento e cada um vai em seus respectivos carros. Minha mãe e tia Ana contam como foi o dia de cada uma delas, e quando paramos em um sinal vermelho, tia Ana liga o rádio e começamos a cantar. Quando o sinal fica verde, mamãe está distraída demais por estar cantando junto com sua irmã, e o carro detrás buzina. Olho para o lado e Zac estava tentando chamar minha atenção pela janela do carro, então aceno para ele. Mamãe acelera devagar, e começamos a andar outra vez.

Não sei exatamente o que - um carro ou algo maior -, mas com faróis fortes e buzina alta, se chocou contra a lateral do nosso carro, nos fazendo capotar muitas vezes e antes de apagar só consegui ouvir o barulho alto que o carro fazia, os gritos das mulheres nos bancos da frente e - talvez tenha sido coisa da minha cabeça -, a voz de Zac me chamando.

Acordo um pouco, ainda me sentindo muito sonolenta, mas não consigo abrir meus olhos direito e penso estar no meu quarto - que divido com minha mãe e minha tia por conta do apartamento ser pequeno.

- Mamãe... Que horas são? - Resmungo baixo e tento me virar de lado, mas não consigo me mexer direito e imagino ser por conta do sono. - Mãe...

- Senhorita O'Connor, está me ouvindo? - Ouço uma voz masculina desconhecida no sotaque britânico e tento novamente abrir os olhos, conseguindo dessa vez, mas mesmo assim enxergando quase nada, sendo apenas o suficiente para conseguir ver o homem à minha frente e as paredes brancas.

- Sim. - Tento focalizar seu rosto. - Por que não consigo me mexer? - Pergunto ainda lentamente, me sinto dopada e já desconfio que não seja sono, já que estou no que parece ser um hospital. - Cadê minha mãe?

As cores de uma vozOnde histórias criam vida. Descubra agora