Coffe & Sunflowers - KNJ

107 19 15
                                    

As estações passaram por entre meus dedos sem que eu pudesse perceber o quanto o tempo tinha corrido, eu já não estagiava na floricultura a bons seis meses nem por isso eu deixava de ser um frequentador. MyungHee me dava o prazer de conversar mais do que sobre flores e foi incrível como ela se sentiu impulsionada desde aquele relato e eu estava a caminho da floricultura exatamente para convencê-la a tentar algo mais difícil.

Caminhava na minha rotineira despreocupação, observando tudo ao redor. Era metade do outono e já ventava muito frio e a paisagem passou a ser alaranjada com folhas espalhadas pela calçada, achei engraçado como aquilo me lembrou aquele primeiro encontro, o chão estava coberto por pétalas quando a vi. Suspirei e balancei os braços com as sacolas fazendo barulho. Meu sobretudo preto pareceu pouco para as brisas que passavam por mim, mesmo assim estava com um sorriso no rosto com meus côncavos bem aparentes.

Empurrei a porta do estabelecimento e pude ouvir as vozes das duas mulheres no fundo, caminhei cauteloso me deliciando com a voz de Myung, mesmo que fosse indelicado escutar a conversa. Nem mesmo eu saberia explicar como não derrubei nada a caminho da copa-cozinha, mas me escorei no batente observando as duas.

- Tem certeza sobre isso, querida? - A voz de halmeoni se fez presente em um tom preocupado.

- Tenho, quero tentar e ele disse que me ajudaria não me deixando sozinha. - O tom decisivo me aqueceu do lado esquerdo do peito. - E ele não conseguiu fazer um buquê decente ainda. - Escutei sua risadinha.

- Eu melhorei bastante! - Fiz um bico e ela pulou sentada no lugar.

- Melhorou, mas ainda não está muito apresentável. - Senhora Choi interviu divertida, e me deu um abraço aquecido mesmo que estivesse emburrado.

- Trouxe capuccino? - Myung perguntou animada, sorri assentindo.

Já fazia algum tempo que sua voz já era audível para mim, era baixa, mas saiu dos sussurros, ela ainda não aceitava minha mão, contudo estava satisfeito, porque crescíamos juntos e eu apreciava os detalhes com esmero e cuidado para que nenhum passasse despercebido por mim.

- Pensou no que te falei, Myung? - Perguntei enquanto aceitava um pedaço do bolo que halmeoni tinha feito. Ela assentiu enquanto mastigava, seu cabelo havia crescido um pouco e ela estava de vermelho naquela manhã. - E o que pensou?

- Queria tentar, se fizer como prometeu. - Seu encolher instintivo estava ali e sua voz saiu engraçadinha por sua boca ainda estar cheia.

- E quando não cumpri minha promessa? - Arqueei uma das minhas sobrancelhas, era incrível como eu era atingido por qualquer coisa que ela dizia.

- Não faltou, é somente para lembrá-lo. - Sorriu me dando seus preciosos eye smiles.

Sabia disso, mas às vezes meu consciente me pregava peças dizendo que eu tinha vacilado e a magoado. Conversamos sobre tudo que poderíamos conseguir e eu quis apresentar todos os prós enquanto ela via somente os contras e mesmo assim me senti feliz de ver que ela vendo apenas essa parte e decidira tentar.

Resolvi ficar e ajudar com as coisas, já havia finalizado o trabalho com as palavras aquele dia. E como sempre lá estava eu carregando vasos para todos os lados, isso quando não me colocavam para fazer buquês só para me espezinhar e rir do meu "bico fofo", como diria halmeoni. E a tarde e lá estava eu absorto nos movimentos de Myung enquanto cantarolava regando algumas sementes novas, nunca me cansaria daquilo.

Ela estava com um casaco abaixo dos quadris e aquilo a deixou com um ar mais maduro, ela tinha seus momentos menina, mas as recentes tentativas dela de não ceder ao medo a tornavam uma mulher espetacular, não só porque ela era bonita aos meus olhos, mas porque ela era maravilhosa de alma. Suspirei audivelmente, e sorri pela zilhonésima vez naquele dia.

As cores de uma vozOnde histórias criam vida. Descubra agora