O Soar De Uma Harmonia Ígnea - KTH

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Capítulo 03 - No compasso da nossa harmonia, por toda a extensão dos nossos universos.

A música estava forte, eu sentia uma energia eufórica queimando todo o meu corpo, fluindo das pontas dos dedos direto para o meu coração. Não sei dizer quantas vezes ensaiamos todo o espetáculo. Muitas não parece o suficiente, mas mesmo tendo sido tantas, eu ainda consegui me arrepiar com cada detalhe, mais uma vez. O som das flautas e dos violinos, o contraste do violoncelo com o piano e os trompetes ao fundo, lentamente dando espaço para a harpa. Ah, todo o nosso esforço valeu mesmo a pena e tocar nessa orquestra me faz sempre lembrar do porquê escolhi a música.

Porque enquanto toco piano, sinto como se cada tecla fosse criada para que eu a tocasse. Porque quando ouço a harmonia de todos os instrumentos juntos, verdadeira e inteiramente, não faz a menor diferença se eu posso ver ou não, pois o que importa é ouvir e sentir... E por isso a música é o meu refúgio.

Quando a última nota foi tocada, eu me senti ser puxada para a realidade e carregada pelo som das palmas. Dois minutos se passaram e as palmas pareciam não acabar mais, a última apresentação da nossa mini turnê havia sido um sucesso e eu podia sentir a felicidade emanando de todos no palco.

Trabalhamos tão duro nesses últimos meses. Em pouco tempo muita coisa aconteceu e o nosso time se abalou por diversas vezes. O professor Waltman, que sempre foi o nosso líder e sempre nos manteve nos eixos, teve problemas em manter a motivação da orquestra alta até mesmo com seus discursos. Ele havia acabado de perder seu pai e com a mini turnê, obviamente ele não estava tendo tempo para viver seu luto. Mas, pedir que ele parasse era o mesmo que ofendê-lo da pior forma, então estávamos apenas ali pra ele. Entretanto, todo mundo precisava de um tempo também.

Na orquestra havia muita tensão, foram quase dois meses de apresentações pelo Reino Unido e a Grã-Bretanha e quando voltávamos para casa ainda tínhamos o que fazer, dar aulas, assistir aulas, seguir com trabalhos paralelos, uma série de coisas. A apresentação de Londres foi a única que tivemos sabendo que ao fim, enfim estaríamos de férias, mas não mudava o fato de que o último semestre fora longo e difícil.

Mas, sinto que ter Taehyung na orquestra tornou tudo um pouco mais leve. Pra começar, quando descobriu que Romeu não era um cão guia como ele havia pensado, Taehyung resolveu se tornar o meu "humano guia" como ele mesmo gosta de se chamar e não saiu do meu pé por nada no mundo. Ele ainda me dava espaço, mas estava sempre ao lado para qualquer coisa, ele aprendeu o momento certo para me ajudar e até que eu me acostumei com isso, principalmente por conta das viagens. Irlanda, França, Itália, Gales, tantos lugares novos e repletos de pessoas e estabelecimentos que não estavam prontos para me receber... Ainda assim, Taehyung se empenhou no roteiro turístico da orquestra em todos os nossos destinos e montou vários passeios para todos nós, passeios em que eu me sentia segura de arriscar andar sozinha, que não havia muitas escadas ou subidas e descidas íngremes e difíceis.

A cada novo país, toda a equipe se sentia ansiosa para o próximo roteiro, para o jantar de comemoração ao fim das apresentações e tivemos tantos momentos especiais. Mas, ali em meio a todas aquelas palmas, eu me perdi num momento específico em Gales. Taehyung havia me levado a um dos maiores castelos medievais do país, eu pude tocar muitas coisas e sentir muitas texturas diferentes, mas esse ainda não é o ponto...

"O que você está vendo agora, Tae?" eu pedi, durante toda a vida gostei de pedir isso as pessoas para tentar compreender como o mundo é de verdade, mas eu nunca gostei tanto e isso nunca significou tanto como quando peço para Taehyung.

"O céu está cheio de nuvens, mas o pouco azul contagia o olhar e o castelo é tão grande que mesmo daqui consigo ver algumas partes, por exemplo, as torres compridas e as janelas bem desenhadas." ele fez uma pausa. "Atrás de nós temos um campo bem verde e um caminho de pedras trazendo até a ponte, essa ponte é cheia de pequenos detalhes gravados nas pedras, acho que se você passar a mão pode sentir." ele explicou e eu sorri, ele sempre soube fazer de uma forma que tudo ficasse bem claro na minha mente. "Tem alguns pássaros no céu, eles não estão em grupo, mas mesmo separados formam uma bela visão. E você... eu vejo você."

As cores de uma vozOnde histórias criam vida. Descubra agora