As cores de uma voz

Focus - PJ

                      FOCUS
            No, woman, no cry.

                        Jimin

Tentei ser sútil ao encarar o perfil de Joanna, mas como se tivesse algum tipo de radar, ela inclinou a cabeça e me olhou nos olhos, sorrindo.
Eu já havia visto mulheres bonitas, todas elas com suas singularidades e, apesar de rostos sempre roubarem minha atenção por alguns instantes, seja para fotos ou para uma simples apreciação, Joanna foi a única que me deixou fascinado.
E ela era linda, de todas as formas possíveis de se descrever, ela se destacava, porém, depois de considerar meu objeto de fascinação por um mês, percebi que o motivo de eu admira-la não era baseado em algo tão efêmero quanto a beleza física. Joanna de algum modo havia despertado em mim algo que poucos artistas poderiam um dia experimentar.
-Conversou com Yang Mi sobre isso?- ela perguntou quando estávamos no carro, éramos só nós dois naquela quinta e eu havia decidido fazer um ensaio ao ar livre. Min Hee estava na semana de provas da faculdade, então eu a havia liberado.
-Eu disse que fazia parte do meu processo criativo.- olho para frente, dirigindo com cuidado já que eu não tinha muita segurança no volante, mesmo sendo mais cômodo ir para o interior daquela forma.
-Não vejo consistência no seu processo criativo, Jimin.- usa o seu tom invariavelmente calmo.- Só tiramos fotos que poderiam ser usadas em book’s e eu não uso maquiagem em nenhuma delas.
-Acha que eu estou tirando fotos a esmo? Você é a nova garota propaganda da marca, são vários produtos, precisamos de várias temáticas...- paro quando percebo que não a estou convencendo.- Não sei fazer o que eles querem que eu faça.
-Acha difícil trabalhar comigo?- ela sabia que não era esse o caso, mas eu respondo mesmo assim:
-Não me sinto bem com a Ya.
-É uma coincidência e tanto, não é? Também não me sinto bem com a Ya.-ela fica reflexiva por um tempo e eu apenas espero.- Quando me disseram que queriam ser mais inclusivos, eu considerei as intenções por um tempo, só que depois eu li a proposta do projeto, li sobre a YaInclusive.
Fiz uma careta e ela riu antes de continuar.
-Se é uma marca separada da original, então não é tão inclusiva, estou errada?
-Não acho que esteja.
-Eu tive que pensar muito, Jimin. Pensar muito, de verdade.
-Você parece ainda estar pensando.
-É difícil pesar os prós e os contras, entende? Ao mesmo tempo que é algo que precisa ser feito, é algo complicado de se fazer. Porque eu sei das intenções deles, você também sabe, mas ainda assim é algo bom. Ao mesmo tempo que é insincero.
Ela suspira e olha pela janela, o carro avançava para um dos distritos rurais, a vista do lado de fora era um grande campo verde.
Joanna e eu formamos uma espécie de amizade no pouco tempo que trabalhamos juntos. Ela sempre dizia coisas interessantes e as suas perguntas eram sempre inteligentes, além de seus olhos, calmos e reflexivos, que me olhavam como se ela já tivesse vivido muito.  E talvez fosse esse o caso.
O que acontecia com a campanha da Ya a afetava mais diretamente do que a mim, durante os dias que passávamos juntos, vez ou outra eu a via com uma expressão de dúvida no rosto.
-Sabe para onde estamos indo?- minha pergunta a atrai novamente, os olhos escuros se espremendo, os cílios longos tocando as pintas no começo de suas bochechas.
-Para alguma locação, espero.
-É quase isso.- estreita ainda mais os olhos.- Você vai gostar, eu sei disso.
-Existem poucas coisas que eu desgosto.
-Espero que eu não seja uma delas.- mordo o interior da minha bochecha quando ela fica em silêncio.- Muito cedo para dizer?
-Ás vezes eu quero saber o que você pensa, Jimin.- se vira para mim.
-O que eu penso?- repito confuso.
-Não seria saudável entrar na maioria das mentes, certo? Mas ás vezes eu quero entrar na sua, acho que vou encontrar coisas boas.- eu sinto meu pescoço arder e ela sorri largamente com seus dentes perfeitos. Joanna havia descoberto o efeito que tinha sobre mim.- O que sua mente está preparando para hoje, sr. Park?
-Flores.- é o que eu consigo dizer.
-Flores? Bem, você tem razão, eu gosto disso.