Margarida
Hoje ia ser o meu último jogo como médica no Benfica. O meu estágio ia terminar e isso implicava a minha saída do clube, algo que me estava a deixar bastante triste. O João tentava sempre animar-me e começava sempre com os seus jogos para ver se me punha um sorriso na cara, mas o que era certo era que os melhores meses da minha vida estavam a acabar... Este estágio tinha sido uma oportunidade incrível que me tinha sido dada e ao logo dos tempos tinha começado a sentir-me tão integrada no clube que, a certo ponto, me esqueci que algum dia tudo ia terminar e a minha vida ia voltar à normalidade.
Como está mais que claro, ia continuar a ir ao estádio ver os jogos da equipa e esperava manter também a ligação que tinha com os jogadores, principalmente com aqueles que me eram mais próximos.
A minha vida, a partir de hoje, deixaria de ser uma correria e ia passar a ser algo monótono e parado como era anteriormente. Já tinha, inclusive, pensado em voltar a praticar ballet, mas pedir no conservatório para não ter uma prática tão intensiva de modo a poder concilia-la com os estudos. O João tinha-se mostrado bastante agradado com o meu regresso à dança e até já começava a fazer planos para o futuro dizendo que me queria ir ver dançar nos palcos dos teatros mais conceituados.
Neste momento estava a preparar-me no Seixal para seguir com a equipa para o estádio. Estava a conter o choro, esta era a minha última vez naquele escritório onde tinha feito coisas tão importantes para a minha carreira. Esta era a minha última vez num sítio onde tinha sido tão feliz e tão amada... Esperava com todas as minhas forças um dia poder voltar a esta casa apesar de estar consciente que para isso era preciso um trabalho muito árduo.
No caminho para o estádio não falei com ninguém e quando lá cheguei rapidamente me apressei em sair do autocarro para que ninguém me abordasse. O João já me tinha enviado mensagem a perguntar se estava tudo bem comigo, mas eu não respondi e ele percebeu o que se estava a passar e deu-me tempo. Era disso que eu precisava, tempo para assimilar tudo o que estava a acontecer.
O jogo tinha acabado com a vitória do Benfica e não podia estar mais orgulhosa de toda a equipa. No final do jogo todos os jogadores e elementos do staff me vieram abraçar e dar um beijo como forma de agradecimento por tudo o que tinha feito para ajudar a equipa. Esse gesto fez com que umas quantas lágrimas se escapassem dos meus olhos e o Pizzi, ao aperceber-se da situação, rapidamente me abraçou e me deu um beijo na testa.
Pizzi- Maninha não chores... Eu não te consigo ver assim. Tens que te orgulhar pelo percurso que fizeste aqui e não podes chorar pelas saudades, mas sim sorrir por teres mostrado todo o teu valor e por teres tido a oportunidade de estar neste clube. Tu és incrível!
Margarida- Obrigada! Tu é que és incrível! Sabes que é contigo que tenho uma das amizades mais fortes e nunca quero deixar de a ter. Tu, a Maria e os pequeninos já fazem parte da minha família e não sei o que é viver sem vocês...
Pizzi- Minha pequenina... Nós gostamos todos imenso de ti! Não digas essas coisas se não eu também choro!- Disse tentando animar-me com as suas brincadeiras.- Ali o menino João está desejoso de te poder agarrar, mas não sabe o que deve fazer.- Comentou rindo.
Quando olhei para o João ele abriu-me os braços e fui rapidamente para o seu encontro e aninhei-me nos seus braços sem vontade de alguma vez voltar a sair do meu ponto de abrigo, do João.
Quando nos afastamos vi a Maria e o Afonso a olhar para nós e fui também dar-lhes um abraço. Eles também eram um dos meus pilares e ajudavam-me em tudo o que precisava. Eram incríveis! Tal como o Pizzi dizia eu era a maninha dele e, por isso, toda a sua família também era minha.
O mister Lage quis falar comigo quando os jogadores se foram despachar e durante a nossa conversa esteve a dar-me várias palavras de gratidão e coragem para lutar sempre de forma a alcançar os meus objetivos e de forma a ultrapassar todas as adversidades que se poderiam por no meu caminho. Pediu para que continuasse a ser a menina que era e para nunca perder a minha essência. Por fim, confessou o quanto gostou de trabalhar comigo e pediu para nos juntarmos de vez em quando como bons amigos que éramos. O presidente também já se tinha despedido de mim e o seu discurso foi tão sentimental ao ponto de me levar às lágrimas... Tratou-me como se fosse sua neta e prometeu-me que nunca se iria esquecer de mim convidando-me já para estarmos juntos algumas vezes. Disse ainda que desejava poder voltar a trabalhar comigo e que, assim que acabasse o curso, caso estivesse interessada e caso ele ainda fosse o presidente, o clube tinha todo o interesse em me ter de volta. Todas estas palavras me emocionaram bastante e ficaram no meu coração.
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