Capítulo 53

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Margarida

Estava no hospital havia já algum tempo quando me lembrei de ligar ao João. Tinha sido tudo uma grande complicação, pois, mesmo apesar do estado crítico do Zé, não queriam intervir de imediato; apenas o fizeram quando fui falar com um médico meu conhecido. Liguei ao João a noite toda, por várias vezes, mas ele nunca me atendeu...
Todos os meus amigos estavam mais calmos e tinham ido para casa exceto eu e a Inês que tinha ficado para não me deixar sozinha. Toda esta situação e o stress me estavam a consumir e tinha a perfeita noção disso... Apenas não conseguia impedir que isso acontecesse, indiretamente estava a conformar-me com tudo e a aceitar o estado em que vivia ultimamente.
O João não se dignou a ligar-me de volta nem a atender as dezenas de chamadas que lhe fazia. Neste momento sentia-me perdida, desamparada, à beira do precipício. Hoje não fui às aulas e não estou a pensar ir até que tudo se recomponha outra vez.
Margarida- Zé como te sentes?- Perguntei com a cara lavada em lágrimas assim que entrei no quarto onde ele estava.
Zé Maria- Tenho dores para caraças mas já me sinto ligeiramente melhor... Ei, porque é que estás a chorar? Eu estou bem! Olha para mim pronto para levar outra surra de um touro!- Disse na tentativa de me animar.
Margarida- Não digas essas coisas Zé Maria, não brinques comigo nesta altura...
Zé Maria- Queres falar? Sabes que estou aqui para tudo, sempre estive desde pequeninos e sempre estarei.- Disse acariciando-me a mão.
Margarida- Eu sei que sim... Obrigado, a sério, mas eu não quero falar neste momento... Posso abraçar-te?
Zé Maria- Anda cá peque.- Disse abrindo os braços como conseguia. Eu apenas me aconcheguei nos braços dele sem o magoar e chorei...
Peque era uma das maneiras como o Zé me tratava. Peque, pequeñaja... Era um apelido carinhoso, mas em espanhol e o facto de ser em espanhol traduzia o meu fascínio, e o dele, pelo país. Íamos imensas vezes a Espanha todos juntos e por isso eu e o Zé aprendemos a falar espanhol quando éramos muito pequenos, daí o facto dele me tratar sempre com apelidos em espanhol quando não quer dizer o meu nome.

João Félix (dia seguinte)

Não falava com a Margarida havia já dois dias e sinceramente não sabia se tinha vontade de o fazer. Todas as chamadas que recebi da sua parte foram rotundamente ignoradas e agora ela já nem telefonava.
Diego- Mano tenta falar com ela... A Margarida já te ligou tantas vezes e tu não atendes, porque é que não ligas tu?
Neste momento estava em casa com o Diego e a Isilda e estávamos a falar sobre tudo o que tinha acontecido,e já tinha levado um raspanete bem grande por parte da Isilda por ela considerar que estava a ser um parvo que ia perder a sua amiga. Sim, ela e a Margarida eram amigas e arriscava mesmo dizer que a mulher do Pizzi e a Isilda já tinham atingido, ou mesmo ultrapassado, o "patamar" em que a Inês se encontrava. Para dizer a verdade a Margarida e a Inês já não estavam tanto tempo juntas devido ao estágio no hospital, onde tinham turnos diferentes, e devido ao estágio no Benfica, por isso a sua relação tinha-se ido dissipando aos poucos apesar de continuarem grandes amigas e eternas confidentes uma da outra.
João- Eu não lhe consigo ligar, a sério... Estou mesmo muito magoado.
Isilda- E achas que ela não está? João eu já lhe liguei imensas vezes e ela não atende, a Maria também já ligou, o Pizzi... Ela só quer falar contigo! Tu és o abrigo dela!
João- Mas rapidamente deixei de o ser quando o amiguinho dela chegou! Porra, nós não estávamos juntos havia não sei quantos dias, aquele era o nosso momento! Assim que a Inês lhe ligou saiu e só se dignou a ligar-me horas mais tarde.
Diego- Ela ficou desesperada! A única reação dela foi sair para o tentar ajudar.
João- Eu percebo isso...
Isilda- Então abre os olhos de uma vez por todas e liga-lhe!
Instantes depois estava a pegar no telemóvel quando recebo uma chamada.

Chamada on
Inês- Não sei se estás interessado em saber, mas a Margarida foi internada hoje a meio da manhã.- Disse com voz chorosa mas de maneira fria, muito provavelmente ressentida por estar a ignorar a sua amiga.
João- O quê? Internada?- Perguntei aflito, causando a aflição no Diego e na Isilda.
Inês- Desde que o Zé veio para aqui ela ainda não foi a casa, não vai às aulas, não quer falar com ninguém, não come... Ela está esgotada João e tu feito ciumento ou sei lá o quê, estás feito estúpido em casa sem fazer nada para a ajudar!
João- Inês...- Disse com lágrimas nos olhos. Neste momento a Inês já tinha desabado e chorava.
Inês- Quando aqui cheguei e perguntei por ela disseram-me que estava internada, porque teve que levar um medicamento para se acalmar e tiveram que arranjar forma de a alimentar. Ela desmaiou de fraqueza, teve vómitos devido ao stress apesar de não ter vomitado, teve tonturas, deitava-se no chão do quarto do Zé a chorar desalmadamente. Ela estava desesperada, estava esgotada!
João- Eu vou para aí agora.- Disse depois de engolir em seco.
Chamada off

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