6. Acima do Conselho

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A sala do Conselho Quimerano era uma grande cúpula com oito pilares de pedra descendo do teto em forma retilínea, quatro de cada lado, até desembocar numa escadinha de cinco degraus que subia até a mesa

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A sala do Conselho Quimerano era uma grande cúpula com oito pilares de pedra descendo do teto em forma retilínea, quatro de cada lado, até desembocar numa escadinha de cinco degraus que subia até a mesa. Os quatro membros do conselho ficavam sentados em cadeiras de encosto alto observando todo o salão, os olhos diminutos penetrando as almas dos aldeões, viajantes e convidados que subiam ao púlpito de apresentação.

Danúvio soltou um bocejo, coçando a cabeça, apoiado no último pilar à direita, quase escorregando para o chão. À frente do conselho, um senhor discorria há pelo menos uma hora sobre um problema com as alfaces no condado de Serpentário, lendo de um pergaminho enrolado em suas mãos magérrimas. A voz era baixa e parecia pronunciar todas as palavras exatamente da mesma maneira, o que deixava o garoto louco. O príncipe lutava bravamente contra a vontade de tirar uma soneca.

— Por isso queremo' uma nova medida pra distribuição de água em Serpentário — prosseguia o velhinho, elevando o dedo indicador. Até os membros do conselho pareciam entediados. — O desvio do Rio Aorto precisa passar também pros condados do norte, ou num teremo' como abastecer as novas plantação que tamo' fazendo na região.

Ludovitco, o membro com rosto alongado e nariz pontudo, passou as unhas longas pela mesa.

— O desvio do Aorto foi uma medida para facilitar a navegação a leste, permitindo que as missões de expansão pudessem acontecer como planejado. — Os lábios secos pareciam zumbir toda vez que o sujeito pronunciava um 'v' ou um 'f'. — Não vejo como seria possível uma continuidade do projeto com outras intenções.

Os ombros do velhinho caíram.

— Além disso, Serpentário conta com a Lagoa de Anêmona na divisa com os reinos do norte — lembrou Caruço, o homem de orelhas largas e sobrancelhas grossas de taturana. — O requerimento do senhor me parece simplesmente inviável.

Os membros do conselho olharam uns para os outros, assentindo.

— Optaremos por não repassar o requerimento à rainha — anunciou Utisses, o mais velho e respeitado dos membros, senhor de pele escura, olhos afundados em olheiras e os maiores lóbulos de toda Tomi-Sulim. — Agradecemos a sua presença.

O senhorzinho ficou reclamando quando um soldado o conduziu para fora do salão.

Danúvio, cujos olhos lutavam para tentar se manter abertos, deixou aquele bocejo escapar e Ludovitco se virou em sua direção.

— Alteza? — chamou-o. — O que faz na sala do conselho?

Os demais membros seguiram-no com o olhar, erguendo sobrancelhas para o jovem príncipe.

O garoto se descolou do pilar, esticando os braços.

— Ah, não liguem para mim, senhores — resmungou. — Estou aqui a pedido do meu mestre Cipriano, sabem? Ele disse que seria bom se eu visse como é o trabalho de vocês.

O Presságio do Sineiro: Rastro de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora