16. A Flor do Rastro de Fogo

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As folhas das árvores vermelhas balançavam sobre sua cabeça

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As folhas das árvores vermelhas balançavam sobre sua cabeça. Petris piscou os olhos sem vida, sentindo um desconforto nos ossos. Então, levantou o corpo, apalpando o pescoço. Depois, sentiu o peito subindo e descendo. Levou a mão à cabeça, franzindo o cenho. A mente vagava nas lembranças recentes. Em um momento, estava sendo envolvido pela floresta, arrastado para um abismo de escuridão. E agora... Estava são e salvo.

O garoto olhou ao redor. Sentava-se sobre um chão de terra, no meio da Floresta Carnívora. Olhou para seus braços. Viu as marcas dos tentáculos de vegetal que o tentaram tragar para o chão. Seu coração disparava ainda. Estava inquieto, impassível. Lembrou o som que tinha escutado — um coração também, de outra pessoa. Batendo longe, longe, debaixo de toda aquela terra. Petris pensara que ia morrer...

Virou-se para o lado e se deparou com Fíbia deitada no chão, os braços estirados acima da cabeça. A espada estava a seu lado. Petris arrastou-se até a irmã, os braços e pernas fraquejando de medo. O rosto dela estava pálido e suado, mas seu peito subia e descia. Ele engoliu em seco. Fechou e abriu os olhos, deixando um suspiro escapar pelos lábios. A garota parecia bem, apesar dos arranhões. Eles estavam bem.

Mas como? — A voz dele saiu quase inaudível.

Petris se levantou com dificuldade, ainda meio zonzo. A floresta estava silenciosa e não havia sinal daqueles globos oculares sinistros nos troncos, nem das raízes vivas que os tentaram tragar. Um vento batia nas árvores preguiçoso, fazendo as folhas dançarem. O sol aparecia mais majestoso através da cortina de copas vermelhas. Nada parecia ter acontecido.

O garoto levou a mão de maneira instintiva até o abdômen por debaixo da camisa. As bandagens estavam secas. Os ombros dele relaxaram.

Ele deu alguns passos adiante, em direção às árvores. Estava numa pequena clareira, dos poucos locais onde era possível enxergar o chão. A toda volta, as plantas carmesins ocupavam cada centímetro de floresta, devorando o ar. O menino franziu o cenho. Havia marcas escuras no chão, ao redor da área onde ele e Fíbia estavam. Parecia com algo queimado.

— É Rastro de Fogo — disse uma voz, sobressaltando Petris.

Ele se desequilibrou, rolando para o chão. Quando se virou, mordendo o lábio, seus olhos viram duas botas de couro marrom. Acima, pernas brancas e limpas, parecendo esculpidas. Terminavam em uma saia acima dos joelhos, de pelagem espessa e felpuda. A túnica era azul, solta, e não possuía mangas. A capa bege pendia dos ombros, com um laçarote dourado no meio. Os cabelos desciam por trás, lisos da cor do fogo. Lábios protuberantes, cerrados. O nariz era fino e sisudo, sério e compenetrado. Os olhos lembravam uma floresta. Uma floresta de verdade.

— Ra-rastro de Fogo? — ele gaguejou.

A menina se aproximou com tranquilidade, olhando do garoto para as marcas de queimado na terra. A mão dele estava diretamente sobre o rastro.

O Presságio do Sineiro: Rastro de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora