9. Reminis

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No passado, no lugar onde terminava o Costão da Quimera, costumava ficar uma pequena praia

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No passado, no lugar onde terminava o Costão da Quimera, costumava ficar uma pequena praia. Agora, o pedregulho dourado era negro na parte onde tocava a água e, acima, os degraus da escadaria terminavam numa varanda de ferro que havia sido construída como um memorial. Um busto do rei Dônico fora colocado no centro, encarando para cima, onde ficava o castelo. Seus olhos pareciam repletos de nostalgia.

Danúvio passou pela estátua e apoiou os braços no guarda-corpo, perscrutando o poderoso Lago Mediastino. À luz da manhã, a água ganhava contornos lilases, refletindo a auréola das nuvens. Uma brisa gostosa soprava do leste, balançando as vestes do garoto. Ele permitiu que um suspiro deixasse seus pulmões e escapasse pelos lábios, cerrando o punho. Do outro lado do lago, nas margens, havia um vilarejo.

— Eu sabia que o encontraria aqui, alteza. — A voz de Cipriano sobressaltou o príncipe. Danúvio viu o professor descendo os últimos degraus da encosta, a bengala batucando no chão.

Os ombros do rapaz caíram.

— Hoje completam treze anos — ele murmurou, ressabiado. — Ando pensativo esses dias...

O homenzinho fez um sorriso atrevido.

Ele se aproximou do garoto e pendurou a bengala no guarda-corpo; depois, fez uma careta: era tão baixinho que precisava esticar o pescoço para conseguir enxergar o lago.

— Taí algo que muito me surpreende, alteza. — Ele deu de ombros, desistindo de observar a paisagem, e se virou para Danúvio, erguendo uma sobrancelha. — O senhor não é muito de pensar, se me permite dizer.

O rapaz deu um risinho.

— É. O senhor tem razão. Não sei o que tá acontecendo comigo. — Fez um muxoxo, balançando a cabeça. — Eu fico pensando no que aconteceu treze anos atrás...

— Dônico faz uma falta enorme para todos nós. — O senhorzinho sorriu. — Era um grande rei e, acima de tudo, um grande homem. Por isso, somos sortudos de termos a vossa alteza e ao seu irmão. Afinal, são os filhos dele... Os maiores legados de um rei.

Danúvio desviou o olhar, tornando a encarar a paisagem. Pássaros subiam a partir do horizonte, indo para o oeste. Aquela calmaria o dava nos nervos.

— Às vezes eu queria sentir essa falta do meu pai também — confessou ele, mordendo o lábio. — Mas eu sequer lembro dele direito. E todo mundo sempre está falando sobre como ele foi um grande homem, que um dia eu hei de me tornar um também. — Suspirou. — "Grande homem". Não sei o que isso significa.

Cipriano virou-se para a encosta, apoiando-se na barreira do guarda-corpo com as costas.

— Bem, infelizmente, sinto dizer que não sou eu quem terá de revelar o significado disso para você.

Danúvio resmungou:

— Eu não estava perguntando... Com todo respeito.

O professor riu.

O Presságio do Sineiro: Rastro de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora