19. Ingenuidade

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— Quem é essa menina? — A voz dela saiu áspera pelos lábios, repleta de desconfiança

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— Quem é essa menina? — A voz dela saiu áspera pelos lábios, repleta de desconfiança.

O silêncio desconfortável da floresta penetrava os ouvidos das três crianças, ainda cativas do círculo de Rastro de Fogo na pequena clareira, o calor e a viscosidade do ar fazendo gotículas de suor brotarem de suas testas e nucas. Petris, os ombros curvados e o peito acanhado, olhou para a irmã — cujo corpo dormente lutava para se colocar de pé, ainda um pouco entorpecido após a emboscada da Floresta Carnívora — e depois para a outra garota, a recém conhecida Someralda, e aqueles olhos verdes faiscantes repletos de acidez.

Fíbia, típica orgulhosa, empurrou o irmão quando ele tentou ajudá-la a colocar-se de pé, arrumando-se nas próprias roupas e erguendo o queixo arredondado, as bochechas fartas viscosas com uma fina camada de suor. A garota buscou pela espada, olhos ávidos e velozes, e, ao encontrá-la no chão, distante de seus dedos, largada junto ao arco-e-flechas de Petris, fez uma careta em sua cara de lagarta, cerrando os punhos. Ela rapidamente puxou o irmão pela gola da camisa, posicionando-o atrás dela feito o pudesse proteger somente com a força das próprias garras e de sua própria convicção.

A garota ruiva ergueu a sobrancelha, parecendo entediada.

— Olá pr'ocê também. Meu nome é Someralda. Pelo que parece, 'ocês conhece a minha mãe.

Fíbia olhou para Petris com a testa franzida.

O menino saiu de detrás dela e ficou entre as duas garotas, coçando a nuca.

— Olha, Fi. E-essa aqui é a filha da dona Somelina, lembra? Aquela que acabou fugindo. — Um sorriso tímido se abriu em seus lábios quando ele disse: — Foi a Someralda que salvou a gente.

Fíbia colocou as mãos na cintura, ainda tensa. Uma das sobrancelhas subia alto na testa.

— Num sei, maninho. Achei que a filha da Somelina tivesse morrido.

— Quem morreu foi a irmã dela, Fi. Que... que também se chamava Someralda.

Ela revirou os olhos.

— Então tem duas Someraldas? Agora que eu fiquei ainda mais confusa. — Perscrutou a ruiva. — E por que que ela tá aqui no meio da floresta, hein?

Someralda ajeitou a trouxa sobre o ombro, o rosto sério e compenetrado.

— Eu já expliquei tudo pro seu irmãozinho, pode ficar tranquila. É melhor a gente ir andando antes que escureça, viu?

Fíbia semicerrou os olhos. Então, percebendo a distração da outra menina, que terminava de se aprontar para partir, a cara-de-lagarta mordeu o lábio e se jogou no chão, conseguindo rolar até onde estava sua espada, recuperando-a com os dedos vorazes. Colocando-se de pé num pulo, pôde empunhar a lâmina e apontou-a em direção à ruiva, um semissorriso rasgando os lábios.

— Andando pra onde, hein? Acha que nós é teu prisioneiro, princesa?

Petris balançou a cabeça.

— Não, Fi. Num é isso! E-ela tá ajudando a gente. — Ele ergueu as mãos e se colocou entre as duas mais uma vez. Com calma, segurou o braço da irmã e devagar a fez abaixar a espada novamente, os olhos escuros e sem vida tremendo sob o escrutínio dela. — Pra gente conseguir sair da floresta.

O Presságio do Sineiro: Rastro de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora