8. A Esperança

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Sinos

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Sinos. Ele escutou os sinos.

O púrpuro da noite se derramava pela floresta. No silêncio, mesmo os grilos estavam surrando sua canção para a névoa calorífica da madrugada, as estrelas do céu cada vez mais escondidas atrás das nuvens. Onde Bogeis havia decretado que eles fariam seu acampamento ainda tinha alguns resquícios de verde tomando a vegetação, embora os vermelhos já tivessem começado a pipocar. Toda a natureza daquele lugar, pelo menos ao que parecia, era rubra, como se ele sangrasse eternamente. De um jeito ou de outro, na noite todas as cores eram a do crepúsculo.

Petris ainda estava acordado.

Ele se virou para o lado e viu que Fíbia roncava com a cabeça repousada na bolsa. Dormia despojada, com os braços e pernas abertos e a baba escorrendo da boca. Parecia quase... inofensiva.

O garoto se sentou, passando as mãos sobre os olhos, ainda que estivesse bem desperto. Virou o rosto para a direita e então o viu. Um sorriso rasgou em seus lábios.

Do jeitinho que tinha dito, Bogeis passava aquela madrugada acordado, de vigia, as costas viradas para as crianças e uma mão firme no cabo de uma espada. Estava sentado perto da fogueira, cuja luz bruxuelante criava contornos ferozes em sua já intimidadora silhueta. Mantinha-se quieto, sem se mexer muito e até parecia estar dormindo, mas Petris sabia muito bem que esse não seria o caso. Quando Bogeis dizia que mataria um boi, eles podiam esperar que no dia seguinte haveria a cabeça de um sobre a mesa.

O menino se levantou em silêncio e se abaixou para pegar um objeto que a irmã tinha deixado no chão.

Ele continuava escutando os sinos.

Com dificuldade, tirou a espada da bainha e foi até onde estava o tutor. Bogeis ergueu a cabeça para o garoto assim que o viu se aproximando. Petris reparou que seus olhos estavam protuberantes.

— Que que é isso? — perguntou o homem, no que o menino mordeu o lábio.

— A Fi pegou a espada de Sibom Ternura, senhor. — Petris ergueu a arma com as duas mãos, trazendo-a para a luz. A lâmina, que podia ser de espelho, refletia as poucas estrelas do céu. — Tu pediu pra que ela num fizesse isso, mas ela foi lá e fez mesmo assim.

O sujeito observou a espada por alguns instantes e depois se virou para o garoto. As sobrancelhas eram retas e mal chegavam a preencher a testa.

— Que que isso quer dizer? — perguntou.

Suor escorria pela nuca do menino.

— Ela... ela num respeita o senhor — respondeu, falhando em olhar nos olhos de Bogeis. Nunca conseguia. — Mesmo que o senhor ordene uma coisa, ela num tá nem aí. Olha.

Bogeis deixou a própria espada no chão e pegou a outra, avaliando-a. Petris se afastou um passo e ficou assistindo.

— Por que tu tá me contando isso agora? — quis saber o homem, olhando o garoto de soslaio.

O Presságio do Sineiro: Rastro de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora