Capítulo XXV

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Os barulhos distantes dos carros que circulavam pelas ruas da cidade invadiam o quarto de Alma. Leon se encontrava sentado em uma pequena cadeira acolchoada em um canto, estudando um texto de sua faculdade, um marca-textos em mãos e uma luz de lanterna servindo de iluminação.

Depois de sua discussão com Ananda, Alma se viu chorando. Havia um misto insuportável de sentimentos a corroendo, como uma comichão. As palavras rudes que tinha dito à amiga, as que tinha ouvido da irmã. E então ela o chamou. Era apenas para conversar, ela disse por telefone. Não poderia permanecer sozinha em seu apartamento após tudo aquilo, tendo seu gato como única companhia. E Leon a entendeu.

Logo ela se espreguiçou, as mãos apalpando a cabeceira de madeira de sua cama. Além dos barulhos distantes dos automóveis, as luzes de suas lanternas e dos postes que preenchiam a cidade também entravam constantemente em seu quarto, iluminando quase imperceptivelmente as paredes claras. Ela inspecionou o cômodo, repousando sem demora os olhos em Leon e abrindo um largo sorriso de satisfação.

"Que sensação boa, acordar à meia noite e encontrar um homem alto e muito bonito, sensualmente sentado em um canto do meu quarto."

Leon soltou uma risada baixa e grave, erguendo-se do tamborete ao largar o bolo de papeis e esgueirando-se na cama bagunçada de Alma.

"Imagine então como eu estava, sentado em um canto de um quarto escurecido e admirando uma mulher muito linda e atraente, charmosamente deitada em uma cama. Você acha que foi algo fácil, manter a concentração em minha leitura? Como eu queria largar meus papeis de lado e te acordar entre muitos beijos."

Ela riu alto enquanto ele a enchia de beijos breves no ombro, e abraçou-o com força assim que ele se deitou e se alongou ao seu lado, sentindo sua pele quente, vigorosa e ao mesmo tempo aveludada. Leon notou que havia uma inquietude disfarçada nos gestos de Alma, e então passou a acariciar e massagear seus ombros tensos.

"Ainda não está bem, não é, meu amor?"

Ela inspirou fundo antes de respondê-lo, expirando todo o ar em um suspiro profundo.

"Estou inquieta com tantas coisas, Leon. Estou com tanto medo do que vai acontecer comigo quanto à minha doença. Mas o que mais está me perturbando agora é Ananda. Eu disse coisas duras a ela, e agora preciso pedir desculpas, ter certeza de que ela não está mais chateada comigo, e aí toda essa gastura que estou sentindo agora vai acabar de vez."

"Fique tranquila, meu amor. Amanhã, assim que você acordar, você telefona para ela. Chame ela para vir até aqui, ou saia com ela para tomarem um sorvete. Mas agora precisa relaxar. O que quer que eu faça por você, Alma? Posso preparar um café ou um chá, posso fazer um cafuné em você. É só me dizer."

"Um chá cairia bem." Ela gemeu ao aproximar-se de Leon. "Mas é claro que não farei nenhum descaso de um bom cafuné." Eles riram, gastando mais alguns segundos deitados e abraçados um ao outro antes de se dirigirem à cozinha.

Leon adicionava folhas de hortelã à agua fervente quando um som ressoou pela casa – alguém batia à porta. Alma e Leon se entreolharam. Ela franziu as sobrancelhas, virando-se para verificar o horário no pequeno relógio que tiquetaqueava sobre sua geladeira. Já passava da meia noite. Quem estaria batendo à sua porta naquele horário?

Alma vestiu rapidamente a calça de um moletom, correndo para receber quem batia à sua porta. Era um homem, uma barba cobrindo boa parte de seu rosto, vestindo um uniforme azulado da polícia. Ao vê-lo ali, aquela expressão no rosto, Alma sentiu uma sensação estranha em seu estômago.

"A senhorita deve ser Alma Moretti, estou certo?" Ele perguntou, uma caderneta e uma caneta azul em mãos. Alma o encarava confusa.

"Sim, senhor. Posso saber o que está acontecendo?"

O verde nos teus olhosWhere stories live. Discover now