Capítulo XVII

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Alma se aproximou devagar da mesa espaçosa, talhada em madeira avermelhada, onde se sentava Luana Ferreira - a secretária de Álvaro. Vestida em uma refinada saia tubinho, os cabelos louros de Luana prendiam-se em um coque sofisticado, e um par de óculos evidentemente sem qualquer grau repousavam sobre seu nariz afilado.

"Boa tarde, senhorita. Em que posso ajudá-la?" Luana digitava em seu computador compulsivamente, apenas erguendo os pequenos olhos castanho-acobreados de tempos em tempos.

"Boa tarde, Luana" Alma leu o nome no crachá apregoado à blusa da moça. "Você poderia avisar a Álvaro Garcia que Alma Moretti está aqui para vê-lo? Por favor... Diga que é urgente, se puder."

Luana, apoiando os dedos franzinos sobre os óculos, discou um número qualquer no telefone cinza que tinha à sua frente, sendo logo atendida por uma voz masculina, já muito familiar a Alma. Luana então prosseguiu em um tom de voz mais baixo, fitando Alma o tempo todo com um sorriso evidente em seu rosto.

"Senhor Garcia, Alma Moretti está aqui para vê-lo. Disse que é urgente. Peço que entre em seu escritório ou peço a ela para aguardar?"

"Por favor, Luana, peça a ela que suba imediatamente."

Alma subiu sem se demorar. Abriu a larga porta de madeira mogno que dava acesso à sala de Álvaro. Ao vê-lo sentado à sua sofisticada mesa de vidro, o sorriso em seus lábios como sempre banhado em charme, Alma não buscou disfarçar em seu semblante a cólera que sentia.

"Você não vale nada." disse sem pensar, os olhos de súbito úmidos. Álvaro, tomado por uma expressão de quem não compreendia o que estava acontecendo, ergueu-se de sua cadeira acolchoada e segurou-a pelos braços, o toque de suas mãos leve, porém indesejado por Alma naquele instante.

"Ei, Alma! O que é isto? Respire fundo antes de mais nada, e depois me explique por que está tão transtornada." Ele disse ao passear com as pontas de seus dedos pelos cabelos de Alma, encaixando delicadamente uma mexa atrás de sua orelha.

Alma semicerrou seus olhos, fitando-o incessantemente, incrédula com tudo o que estava acontecendo.

"Como você teve a coragem de me apresentar assim, de bandeja, um dos meus maiores sonhos, só para depois retirá-lo do meu alcance sem qualquer remorso?"

Álvaro então olhou para cima, um sorriso que por fim denotava entendimento se espalhando por seus lábios.

"Por Deus, Alma, então é isso? É isso o que a está aborrecendo?"

Alma, ao notar o sorriso que se abrira no rosto de Álvaro, também sorriu, mas o fez de modo debochado.

"Então você está tentando me comunicar que isso não tem a menor importância para você? Você arrancou de mim minha melhor chance de galgar qualquer degrau em minha vida profissional, Álvaro. Você tem alguma noção do que é que trabalhar para Manoel Ferraz representaria para mim como profissional?" Ela o olhou fixamente, aguardando que ele dissesse algo, mas Álvaro manteve-se em silêncio, apenas abaixando seus olhos ao chão. "Lembra-se do dia em que me falou que se renegamos nossos desejos renegamos nós mesmos? Você me renegou, Álvaro."

Ele por fim arregalou seus olhos claros, erguendo-os do chão e finalmente fitando Alma com uma expressão assustada.

"Alma, você me contou algo muito sério naquela madrugada em que estávamos conversando em sua sala. Você me contou algo que sem a menor sombra de dúvida afetará sua vida profissional, a respeito da qual tanto fala. Precisei alertar Manoel Ferraz a respeito do que sabia. Não podia ser eu o associado a apresentar ao dono do Empire Building um possível fracasso, você me entende, não? Você não faz ideia de como Ferraz pode ser temperamental. Isso poderia me prejudicar. Prejudicar minha firma, fundada sob tanto suor. O que você queria que eu fizesse, me diga, por favor? Apresente a mim qualquer alternativa, e então eu peço desculpas, eu o procuro e converso com ele nesse exato instante." Álvaro, em uma tentativa desesperada de convencê-la, segurava-a pelos ombros com ambas as mãos.

Alma segurou aquelas mãos com seus dedos delgados. Deus, como estavam quentes e seguras. A sensação de agarrá-las era a mesma de pisar sobre os cascalhos em frente à cabana de seu pai, aquecidos pelo sol escaldante de um domingo. Ela desejava poder abraçá-lo forte naquele instante, repousar a testa na nuca do homem à sua frente e sentir de perto aquele perfume amadeirado que ele sempre exalava. Senhor, ela estava perdidamente apaixonada. Mas não, não podia. Ou melhor, não mais se permitiria. Não depois do que ele havia feito.

"Não me telefone novamente, Álvaro. Não vá mais ao meu apartamento. Por favor, só... Só me esqueça, é tudo que eu peço."

Alma então afastou lentamente o toque de Álvaro de si, e nada mais disse. Esforçou-se para não olhá-lo nos olhos. Ela sabia que ver a reação aos seus pedidos no semblante de Álvaro a enfraqueceria. Alma então apenas se afastou, deixando transparecer em seu caminhar uma reiteração de sua decisão, mas sentindo veladamente o calor de suas lágrimas nas bochechas repentinamente rubras.

O verde nos teus olhosWhere stories live. Discover now