"Tenho um plano." Leon se arremessou no lado esquerdo da cama de Alma, fazendo o corpo miúdo dela saltar e recostando sua cabeça no travesseiro branco. "Vamos sair hoje, eu e você."
Alma fechou o livro de capa dura que lia, marcando-o na página em que parara, e olhou incrédula para Leon.
"Sair, Leon?" Havia uma ironia quase corpórea em seu tom de voz. "Olhe para mim, eu estou oficialmente doente. Acabou. Tenho que repensar minha vida, minha rotina, tudo."
"Alma, meu amor, escute o que eu tenho para te dizer." Ele se ajoelhou mais perto dela, tomando suas mãos. "Nós podemos pedalar até o parque do Lago Rúbeo. Lá nós fazemos uma caminhada até a beira do lago, e então nadamos um pouco."
Alma retorcia o nariz mais e mais a cada palavra. Era verdade que ela andava um pouco prostrada após a cirurgia mal sucedida, mas no fundo ela sabia que a ideia de Leon podia ser boa. Amália e Eunice haviam dito a ela que certos exercícios poderiam diminuir os sintomas do Parkinson. E ela andava topando qualquer coisa que a livrasse ao menos de parte daquela tormenta. Leon rolou o corpo para cima dela em um instante, apoiando o peso nos antebraços.
"Vamos lá, meu amor. Isso vai te ajudar. Eu quero tanto ver você bem... E feliz. Isso vai nos deixar feliz. Confie em mim." Ele disse ao enchê-la de beijos breves, enquanto ela soltava uma gargalhada nervosa.
"Você sempre consegue me convencer, Leon. E que bom que consegue." Ela emaranhou os dedos nos cabelos bagunçados dele.
Alma rapidamente se aprontou para saírem. Vestiu uma calça legging, uma blusa regata folgada e prendeu os cabelos em um coque. Não tinha muitas roupas para exercícios físicos. Afinal, não estava acostumada a praticar qualquer atividade que envolvesse mover o corpo. Teve que revirar sua gaveta por alguns minutos demorados.
Será que me lembro como andar de bicicleta?, Alma se indagava ao segurar firmemente o guidom. Leon estava visivelmente radiante. E Alma deveria saber que nunca se esquece algo como andar de bicicleta.
O vento sibilante banhava seu rosto, a pele de seus braços e de seu colo, os pelos que a encobriam por completo eriçados. Daquela sentimento ela se lembrava bem, mas ainda assim era como se fosse a primeira vez que ela saboreava aquela sensação – de plena liberdade.
Durante a caminhada um silêncio imperava entre os dois – mas não era um silêncio constrangedor, e sim um silêncio ameno. E então ela avistou ao lado o lago Rúbeo, as águas tranquilas e negras. Estavam apenas os dois por lá – e Alma agradeceu ao se despir de suas roupas, vestindo apenas um biquíni de cor verde musgo ao encostar as pontas dos pés na superfície da água.
"Já ouviu falar sobre a história da serpente que vive em lagos e arrasta suas vítimas para o fundo?" Leon perguntou ao passear com as palmas de suas mãos por uma extensão das águas escuras.
Alma balançou a cabeça negativamente em resposta, encolhendo instintivamente suas pernas.
"Bem, é uma história muito comum entre pessoas que vivem nas beiradas dos lagos mundo afora." Leon começou a contar, colocando sua voz em um tom mais grave. "É uma serpente de tamanho enorme, e existem inúmeras histórias de pessoas que desapareceram ao entrar em lagos, e seus corpos nunca mais foram encontrados."
Alma deu de ombros e revirou de leve os olhos ao ouvir aquela narrativa.
"Ah, Leon, espero sinceramente que você não esteja acreditando nisso, porque essa história toda não passa de uma lenda. E lendas não são histórias reais."
Alma sentiu então algo – provavelmente um pedaço de um tronco de árvore – roçar em seu calcanhar. Ela involuntariamente soltou um grito, arremessando-se contra o corpo do namorado e enroscando as pernas em sua cintura com toda força, os músculos contraídos e os olhos cerrados. Agarrada a Leon como quem se agarra para salvar a vida, ela começou a soltar uma gargalhada nervosa.
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O verde nos teus olhos
General FictionAlma é uma jovem pintora repleta de amor por sua arte, capaz de enfrentar a todos para seguir seu sonho profissional. Todavia, a descoberta de uma doença a fará temer não mais poder pintar os seus quadros. Ao descobrir com quem pode de fato contar...