| CINCO ANOS ANTES |
— Quem diria. Melina namorando um pobretão. – a afirmação cruel vinda do outro lado da mesa, doeu. O tom de deboche foi como um soco no meu estômago e as risadinhas provenientes do que fora dito apertou meu peito.
Eu queria levantar e jogar um copo na sua cara. Queria revidar, usar o mesmo tom de deboche e ser ainda mais cruel. Mas as palavras não vieram, morreram na minha garganta que ardia e apertava. Eu estava sufocando lentamente, dia após dia.
— Calada, Camile. – a voz do meu pai soou autoritária, após a troca de olhares com mamãe que não passou despercebida por mim. Ele sequer me encarava.
— Desculpa, pai. – ela pediu num tom melodioso que não condizia com seus trinta e poucos anos. – É só que eu nunca imaginaria isso...
— Eu sei, querida. – ele rebateu, condizente. – Eu também não, mas não quero lembrar que tua irmã praticamente manchou nosso nome e reputação. – e então me olhou, eu podia sentir, mesmo que não estivesse realmente vendo a cena.
Encarava o meu prato e engoli em seco o pedaço de carne que mastigava, sentindo aquilo rasgar a minha garganta. Eu não era mais eu. Não tinha mais forças para ser.
— Antes fosse lésbica. – Camile provocou novamente, arrancando um suspiro dos meus pais.
— Preciso concordar. – a voz de Caio soou pela primeira vez.
— Seria menos vergonhoso. – a outra completou.
Imaginei se ela demoraria muito para morrer caso eu a sufocasse com minhas próprias mãos. Aquele pescoço fino não duraria muito diante da força da raiva que eclodia dentro de mim. Fantasiei aquele corpo magro por causa de tanta dieta desfalecendo em meus braços e o que senti foi uma enorme satisfação.
Contudo, não fiz nada disso. Ir para a cadeia não estava em meus planos.
— Eu já acabei. – falei repousando os talheres ao lado do prato e finalmente levantei a minha cabeça, vendo quatro pares de olhos em cima de mim. – Posso me retirar?
Meu pai só assentiu e eu levantei, andando o mais rápido possível até meu quarto. Fechei a porta e me joguei na cama, sufocando o grito que crescia mais e mais nas minhas entranhas, em meu travesseiro, enquanto sentia as lágrimas quentes escorrendo dos meus olhos. Céus, como tudo isso era terrível. Como doía de uma maneira inimaginável. Como eu queria abrir um zíper em minhas costas e sair de mim por alguns instantes, só para não ser eu durante algum tempo. Só para não sentir daquela forma.
Era ainda mais difícil estar naquela casa.
Insuportavelmente difícil.
Quando você nasce em uma família tradicional e muito rica, desde cedo aprende bons modos e regras de etiqueta. Desde o berço você está no meio da alta sociedade, sob holofotes, em uma vida de luxo e prestígio.
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Perfeitamente Errados
RomanceAs escolhas de hoje, definem o amanhã. Melina tinha dezessete anos quando conheceu os efeitos de um coração partido. Impulsiva e totalmente sem rumo, ela decidiu ir embora de Florianópolis, deixando tudo para trás, em uma tentativa de esquecer o que...