Com certeza ter uma droga de banda de garagem no auge dos meus vinte e quatro anos nunca foi o sonho da minha vida. E com certeza beber igual um condenado todas as noites não estava em meus planos antigos.
Quando eu era criança e me imaginava com aquela idade, os planos existentes em minha cabeça eram outros. Eu achava que seria alguma merda de homem bem sucedido, sei lá. Um advogado, talvez? Contudo, um advogado é um homem da lei e o que posso fazer se estou do lado oposto?A ressaca me bateu forte quando acordei e quis gritar para os filhos da puta calarem a boca, por que a voz de Thiago e Felipe estava enchendo a merda do meu saco. Aqueles canalhas eram imunes ao álcool? Levantei do sofá, passando as mãos pelo rosto e pelo meu cabelo que gritava desesperadamente por um corte. Ainda estava usando a calça jeans da noite anterior e fui em direção à cozinha onde os dois conversavam com Luna, a irmã mais nova de Felipe, os ouvindo parecendo entediada. Abri a geladeira e peguei a garrafa de água, bebendo o líquido ali mesmo, sem me preocupar em colocar num copo.
— Caralho. – reclamei. – Por que vocês estão gralhando às oito da manhã?
— Eles sequer dormiram. – Luna acabou denunciando em um sussurro.A garota estava encolhida em uma cadeira, usando um moletom maior que ela e com uma enorme xícara de café em mãos. Os cabelos de tom enferrujado estavam presos no alto da cabeça em um coque, mas minha atenção estava em suas mãos. Minha boca salivou pelo líquido preto fumegante. A menina revirou os olhos diante do meu olhar para a sua xícara.
— Para de desejar meu café, seu mané. – ela murmurou.
— É por isso que Luna compõe as músicas dessa banda, ela rima tudo. – Thiago disse achando que aquela porcaria era engraçada, fazendo tanto ele quanto Felipe gargalharem.
— Cala a boca. – a menina disse chateada. – Tem café na garrafa, Lucas. – avisou, levantando. – Vou para o meu quarto, se vira com esses drogados.
— Ah, qual é... – eu reclamei. Mas ela já estava longe das minhas vistas. – Tudo bem. – olhei para os dois. – Banho e cama! – anunciei.
— Tá bom, mamãe. – Felipe levantou-se, cambaleando. – Cara, eu comi uma mina tão gata ontem...
— Você sempre come uma mina gata, Felipe. Quando vamos ver, só Deus para ter piedade.
— Caralho, é verdade. – Thiago estava gralhando novamente. Puta merda.
— Andem logo, seus fodidos. – os empurrei.Eles tomaram banho e foram para o quarto de Felipe, onde adormeceram. Cocaína deixava os desgraçados ligados demais, era sempre assim. Degradante, para não dizer o mínimo. Por isso, eu preferia a minha boa e velha maconha de sempre.
Enchi uma xícara de café e tomei para ver se a maldita dor de cabeça aliviava. Comi algumas bolachas e resolvi tomar um banho, eu ainda estava imundo do show da noite anterior. Os pós-shows eram sempre mais loucos e onde extravasávamos. Morávamos os quatro em uma casa e nos dávamos bem, até mesmo Luna com apenas dezessete anos. Eu e os garotos possuíamos uma banda de rock, tocávamos pela região e era o que nos fazia ganhar algum dinheiro, mas nossa renda principal vinha de alguns bicos. Bicos errados, por assim dizer.
Saí do banho e fui para o quarto, que dividia com Thiago, me vestir. Tomei um analgésico e resolvi voltar a deitar, para dormir. A casa já estava silenciosa e a paz reinava, apaguei em algum momento.~~
— Acorda, bastardo! – senti o soco no braço ao ouvir a voz de Thiago me tirar do sono profundo.
— Vai à merda! – me virei.
— A gente vai estar na merda mesmo se você não levantar, idiota. – me sacudiu. – Precisamos ensaiar. Luna descolou um show no Pub do Jackson essa noite, vamos ensaiar.
— Você está vivo, Thiago? – perguntei, sentando.
— Claro que estou, novinho em folha.
— Vocês vão ficar sem o septo nasal de tanto cheirar aquela porcaria. – lhe avisei, pegando uma camisa qualquer no armário.
— Vai tomar no cu e vamos logo. – me empurrou.A casa que dividíamos possuía três quartos, uma sala, uma cozinha, dois banheiros, uma varanda, um quintal e uma garagem, ali era nosso estúdio de ensaio. A casa pertencia a Luna e Felipe.
Quando cheguei à garagem, tudo já estava montado. Felipe estava sentado em seu posto na bateria, Thiago correu para a guitarra e eu tomei meu lugar no microfone. Luna estava sentada no banco a nossa frente com um papel em mãos.— Já fiz a playlist dessa noite. – a garota avisou. – Então se vocês seguirem, vão agradar ao publico, teremos gorjetas, além do pagamento. E eu estou louca para comprar uma mochila nova, então toquem direito!
— O que faríamos sem você, Luninha? – Thiago perguntou, quando ela levantou, entregando-lhe o papel.
— Eu não quero nem imaginar. – a menina disse desdenhosa e virou as costas. – Vou colocar meus fones agora e tentar ler, para não escutar essa merda aqui.
— Qual foi, maninha, você é nossa maior fã! – Felipe falou rindo.
— A presidente do fã clube. – eu continuei.Ela estirou o dedo do meio, de costas para nós e saiu da garagem, deixando nós três às gargalhadas. Luna era basicamente o cérebro da banda e a pessoa que conseguia shows para nós, certamente sem ela seríamos três fodidos mesmo. Era a mais nova naquela casa e com certeza a única com a cabeça no lugar.
A playlist que ela nos entregou era boa e começamos a ensaiar as músicas. Fazíamos covers de bandas nacionais e internacionais, atualmente estávamos arriscando com canções autorais, mas eram mínimas. Os covers eram nosso forte, com certeza.Ensaiamos por algumas horas e já era noite quando nós quatro fomos nos preparar para o show da noite. Começaríamos a tocar às dez, por isso saímos de casa duas horas antes, na van branca com o logotipo da banda abastecida com os instrumentos e tudo mais que necessitávamos para o show. Seguimos para o pub, onde ficamos dando um tempo até a hora que iniciaríamos o trabalho.
Nossa banda era conhecida na região. Éramos realmente bons e sempre estávamos sendo chamados para tocar, principalmente nas festas universitárias. Luna se encarregava de sempre manter atualizada nossas redes sociais.
Thiago e Felipe já estavam sondando o lugar, enquanto tomavam suas doses de alguma coisa alcoólica e eu resolvi ficar na água, pelo menos naquele instante. Eu sabia que os dois estavam em busca da vítima deles daquela noite e eu ainda não estava exatamente a fim. Era assim que chamávamos nossas conquistas, éramos três fodidos, eu sabia e não me importava.Em algum momento fomos montar nossos instrumentos, testamos o som e quando estava tudo ok, iniciamos.
— Boa noite, nós somos a Destruction e estamos prontos para deixar a noite em ruínas. – eu apresentei e ouvi alguns gritinhos.
Os acordes de Otherside de Red Hot Chili Peppers começou a soar e logo minha voz preencheu o local. O Jack’s, o Pub que estávamos tocando naquela noite, estava relativamente cheio e eu estava feliz por isso. Ainda que fosse uma apresentação de última hora, queria acreditar que as pessoas poderiam estar ali por nossa causa.
Do palco era mais fácil olhar as garotas do lugar, era por isso que eu sempre aguardava o momento certo. E sorri satisfeito quando vi a garota de longos cabelos castanhos, sentada no bar, olhando para mim. O sorriso era lindo e o olhar, incrivelmente marcante.
Bum!
Era ela.
Havia encontrado a minha vítima perfeita.Hello babys!!!!
Voltei ❤
Espero que gostem do capítulo, ansiosa por um feedback de vcs!
Big beijos mores
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Perfeitamente Errados
RomanceAs escolhas de hoje, definem o amanhã. Melina tinha dezessete anos quando conheceu os efeitos de um coração partido. Impulsiva e totalmente sem rumo, ela decidiu ir embora de Florianópolis, deixando tudo para trás, em uma tentativa de esquecer o que...