2010 💎 (Seungyoun)

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“Onde Seungyoun e Madu caíram na rotina.”

A vida real é tediosa. 

Um fato. Não um tópico para discussão ou interpelação. É só um fato. A vida é uma troca de rotinas tediosas, dias facilmente esquecíveis e alguns míseros acontecimentos marcantes que se tornam flashes mal delineados em nossas memórias. Justamente pelo fato da vida ser tão tediosa é que nos pegamos, muitas vezes, divagando sobre como seria se uma determinada coisa acontecesse em um desses dias comuns.

Eu fazia muito disso em 2010. Quando eu ainda era bem novinha, escutava Jonas Brothers, Paramore e Taylor Swift e fazia de cada uma daquelas canções a trilha sonora dos meus sonhos lúcidos. E, como qualquer adolescente, eu usava o romance como o gênero principal dos mesmos.

Agora, depois de adulta, não consigo mais divagar sobre um romance fofo de vídeo clipe, já que os sonhos de me formar e ter um emprego decente acabaram roubando o lugar dos sonhos de adolescente. Já que, conforme o tempo foi passando, a vida foi me ensinando que nada é tão simples e bonito assim. Já que eu namoro há quase cinco anos e percebi que, depois de um tempo, aquele sentimento ondulante a caloroso do início de um relacionamento acaba se mesclando ao tom cinzento e tedioso da rotina.

A vida real é tediosa.

É uma sexta-feira gelada. Eu estou há mais de quase vinte quatro horas acordada após virar a quinta-feira estudando para uma das provas finais. Consegui cochilar algumas horas antes de acordar para o estágio e sinto que a qualquer momento o meu corpo pode dar logoff, independente de onde eu estiver.

Paro na barraca de cachorro-quente e peço ao Seu Enéias um completo. O gelo do ar me faz sentir um arranhão na garganta e eu tusso, tentando tirar o pigarro chato. Ainda assim, peço um guaraná gelado. Quando pago e volto a caminhar, em direção ao ponto de ônibus e vejo Seungyoun lá, quase dou meia volto e vou correndo a outro ponto. Mas eu sei que é inútil fugir. Já estou fugindo há muito tempo. Respiro fundo e continuo andando, tentando aplacar a ansiedade.

Ele está até bonito. Os cabelos meio bagunçados, o moletom azul do Capitão América que lhe dei no aniversário passado, os jeans rasgados que já deveriam ter ido pro lixo há anos. A simplicidade deixa ele mais bonito e disso eu sempre soube.

“Eu te mandei mensagem.”, ele diz, sem dar oi. Sem esperar eu estar perto dele o suficiente para escutá-lo sem ele precisar levantar a voz. “Disse que ia te buscar, mas você não respondeu. Então vim pro ponto.”

Suspiro e dou um beijo rápido nele, sem muito motivo. Só um costume. Tudo o que eu noto é o quão gelados estão os lábios dele. 

“Eu não queria te tirar de casa com um frio desses.”

“Foi bem na prova?”

“Acho que sim.”, ergo o lanche. “Quer?”

Ele o pega de minha mão e dá uma mordida grande demais. Torço um pouco o nariz, um tanto chateada por ter menos do lanche para comer mas dou de ombros.

“Você vai dormir lá em casa?”, ele pergunta, com a boca ainda cheia. “Queria assistir aquele filme novo do Noah Centineo.”

É estranho, mas Seungyoun é realmente muito fã dos filmes do Noah Centineo, tanto que depois de O date perfeito, cheguei a perguntar se ele gostava dos gêneros dos filmes ou do ator e, quando ele admitiu ser do ator, perguntei se ele era bissexual e não havia me contado.

“Acho que não. Ou sim, talvez, mas nunca fiquei com um cara pra saber se sou mesmo. Eu meio que devia tentar.”

Foi a primeira vez que ele me fez rir pra valer depois de meses. 

Night Ways [One Shots]Onde histórias criam vida. Descubra agora