Love in the lost Island 🍓🍓 (Mingyu)

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"Onde Mingyu e Pryanka se perdem em uma ilha misteriosa."

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Minha avó, certa vez, me contou uma antiga lenda. Ela amava me contar lendas sobre os deuses. Mas, de todas as que ela me contou, a do deus Brahma e os antigos poderes perdidos era a minha favorita.

No passado, os homens tinham dons poderosos. Eram quase deuses também. O deus maior, em uma tentativa de punir os humanos poderosos por mal uso de seus dons divinos, os retirou e os escondeu em um lugar misterioso. O maior desafio, desta história foi, justamente, ele decidir aonde os esconderia.

Os deuses deram sugestões boas, mas por fim, Brahma os escondeu dentro dos próprios homens, pois sabia que eles procurariam por tais poderes até nos confins da Terra, mas jamais suspeitariam de que tal poder estava ali, o tempo todo, dentro de suas almas.

Mas, minha lenda indiana favorita só se tornou favorita mesmo depois que eu me vi vivendo nos limites de tudo o que eu sou. Quando eu experimentei medo, perigo, adrenalina e paixão, de uma forma que jamais imaginei sentir um dia em minha vida monótona. Foi quando eu descobri que existia magia na Terra.

Foi quando meu navio naufragou.

Nos anos 80, não era fácil ser asiático. Sem a globalização que estreita laços de hoje, qualquer oportunidade de crescimento existia fora de qualquer lugar próximo ao que chamávamos de lar. Então, quando meu pai viu uma oportunidade de me unir com uma boa família, que vivesse sem as limitações de nosso país, ele a aproveitou. Por mais que ser mulher, nesta época, significasse viver em função de uma figura masculina por toda a vida, meu pai queria que, de uma forma ou de outra, essa vida de dependência fosse a melhor possível para mim.

Foi este desejo que me colocou em um navio de metal retorcido e fedor pútrido de gente amontoada indo para a América. Meu pai conseguiu uma proposta de dote com velhos amigos da minha família, que tinham um pequeno negócio na cidade de Nova York. Mas, como a maioria das pessoas na minha cidade, eles não tinham dinheiro para pagar uma viagem decente. Então, com dor no coração, me deixaram totalmente sozinha no navio amontoado de outros indianos, chineses, coreanos, vietnamitas e outros estrangeiros que buscavam uma chance de ser alguém na terra das promessas.

Não tenho lembranças dos primeiros três dias que passei ali, além do gosto ruim da comida, o curto espaço entre as beliches e as náuseas que senti com o balanço do mar. Nem mesmo tenho clara em minha mente a lembrança do naufrágio. Me lembro do mundo desabando. No barulho alto, de água e gritos. Ainda não sei como aconteceu. Nos jornais dizem que foi a explosão de alguma parte do motor, que estava podre como a alma de um assassino.

Mas eu não esqueci de nenhum dia sequer na ilha.

***

Acordei sentindo meus pulmões, garganta e nariz ardendo como se pegassem fogo por horas e, estranhamente, não tivessem queimado. O fluxo de água esguichou de minha garganta e a tosse veio logo em seguida, fazendo a ardência se intensificar. Depois de inúmeras tosses, consegui, enfim, abrir os meus olhos. O céu estava acizentado, quase negro, dando a entender que uma tempestade estava por vir, ou uma que já havia acabado. Meu cabelo e meu sári estavam encharcados e minha cabeça doía como a força de mil bigornas sobre ela.

Com relutância e gemendo, me levantei e olhei ao redor. Esqueletos de metal retorcido, corpos sobre a areia e, além de tudo isso, um vasto mar à minha frente. Demorou longos dois minutos para que eu me desse conta do que aconteceu. Para que as lembranças enchessem minha mente e eu percebesse a situação em que eu me encontrava.

Night Ways [One Shots]Onde histórias criam vida. Descubra agora