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Giordana

- O que? - Eu disse paralisada. - Para de brincar Gabriel. Não têm graça. - Meus olhos já estavam lacrimejando.

- O que aconteceu, Gio? - Ouvi Eduardo me perguntar enquanto sentia as lágrimas descerem.

- Não é brincadeira! Eu não ia brincar com isso. - Gabriel disse do outro lado da linha.

Eu só conseguia chorar e pensar o quão trouxa eu fui por deixar ela ir sozinha para Maresias. Pensar que eu queria matar o Gabriel por não ter ficado colado nela a cada passo.

Comecei a lembrar de todos os risos, brincadeiras, fotos, duas alegres, conselhos. Porque quando a desgraça acontece a gente só lembra dos melhores momentos?

- Giordana, me fala agora o que aconteceu! - Eduardo segurou meu rosto entre suas mãos. Eu estava em choque enquanto chorava. Deixei o telefone cair e comecei a chorar, chorar como um bebê.

Encostei minha cabeça no peito do Eduardo sentindo sua mão afagar meu cabelo. Eu não conseguia parar de chorar.
Eu sabia que algo ruim estava para acontecer, mas nunca esperaria por isso.

Eu e o Eduardo estavamos dormindo no meu apartamento. Não, não tínhamos feito nada além dos beijos ainda. Ele me respeitava e isso me fazia pegar mais confiança nele.
Meus pais precisaram viajar e as meninas estariam ocupadas nessa noite, então Eduardo se ofereceu para posar comigo, eu não gosto de dormir sozinha em casa, ok?

Era quase uma da manhã quando recebi uma ligação do Medina, ele disse que a Gabi tinha sido estuprada e seu corpo tinha sido achado em um beco. E
Eu podia jurar que ele estava brincando e queria que ele estivesse brincando, mas não estava.

- Uma das minhas melhores amigas está internada em outro estado e eu não estava nem perto quando pior aconteceu. Eu sou um lixo, Eduardo, um lixo! - Eu falei enquanto chorava.

- Tu não é um lixo, tu não ia poder mudar as coisas, meu bem. Aconteceu e a culpa não é de ninguém além de quem cometeu esse crime! - Eduardo disse e beijou o topo da minha cabeça. Estávamos sentados na minha cama.

- Eu não posso ficar parada, eu vou agora pra Maresias! - Eu levantei, ainda chorando. Ouvi a campainha e fui direto para a porta, olhei pelo olho mágico e vi que eram as meninas. Aquele embuste de merda deve ter contado pra ti elas também.

Abri a porta e nos abraçamos. Choramos. Choramos muito. Gabriela era nossa quarta parte. Nós sempre estaríamos incompletas sem ela. Ela precisava ficar bem.

(...)

Eduardo nos levou até o aeroporto. Compramos as passagens e sairíamos em algumas horas.

Tudo estava em completo silêncio. Du já tinha noção do que acontecia por dedução porque nenhuma de nós teve a capacidade/coragem de falar "Gabriela foi estuprada, por isso estamos saindo que nem doidas daqui." Estávamos em silêncio sentados em uma lanchonete dali. Vitória e Llyanna bebiam um café, Pepê havia pedido um sanduíche e um suco de laranja e eu não tinha nada. Eu não tinha vontade de comer ou beber nada.

- Gio... Você precisa comer alguma coisa. - Ele disse suave enquanto passava o braço pelas minhas costas. - Você vai viajar por, no mínimo, uma hora e meia de avião. Precisa se... - interrompi ele.

- Alguém avisou o tio Heitor? - Eu olhei para as meninas e elas negaram. Bato com a mão na testa. Faltava uma hora para o vôo sair. Talvez ele conseguisse chegar a tempo, levando em conta que a casa deles ficava a uns cinco minutos daqui.  - Du, me leva lá?!

- Come alguma coisa e eu levo. - Chantageou e eu mordi um pedaço de seu sanduíche vendo ele bufar e levantar.

- Já volto, ok?! -As meninas concordaram e sai correndo com Pepê em meu encalço.

- Onde fica? - Ele disse abrindo o Waze. Expliquei como chegar e disse a rua. Fomos direto.

Mas eu fiquei pensando: Como eu iria dizer para um pai que a filha dele havia sido abusada em estado diferente?

Assim que chegamos sai correndo do carro de encontro ao portão de entrada da casa do tio Heitor.

Gabriela morava com o pai desde os cinco anos. A mãe dela, Maria, se separou dele(s) após  estar seis anos casada com tio Heitor. Elas se viam de vez em quando mas não era a relação perfeita ao contrário da relação com o pai. Ela ajudava a cuidar do irmão mais novo, ajudava com a casa, com tudo. Ela é uma guria tão boa e...

Comecei a chorar de novo e senti Pepê me abraçar. Ele tocou o interfone algumas vezes enquanto eu normalizava o meu estado, ou tentava.

- Quem é? - Ouvi a voz do tio Heitor meio embargada. Ele estava dormindo, claro, eram quase 3:00 da manhã.

- Tio, desce aqui, por favor. - Soltei com a voz embargada.

Ele desceu, me ouviu e primeiro brigou achando que eu estava brincando e logo depois chorou quando viu que era sério. 
Me disse que não tinha com quem deixar o Diego, irmão de Gabi, o menino tinha 14 anos na cara e não podia ficar sozinho?

Dei aquela olhada para o Eduardo que só revirou os olhos e concordou.

Tio Heitor iria de tarde para Maresias enquanto nós iríamos agora. Eduardo combinou com ele e em dois dias, no máximo, Diego iria passar uns dias com a mãe. Eduardo concordou e disse que não tinha problema.

(...)

- Não importa o que aconteça, ou o que tu achar de ti mesma... Eu te amo e tenho certeza que tu é uma pessoa justa e obviamente não teve culpa nisso, ok? Eu só não vou junto por não ter como. - Eduardo disse assim que estacionou o carro e viu que estava próximo de eu embarcar com as meninas.

- Eu te amo. - Sorri. - Obrigada.

- Espera.. - Fez uma pausa debochada eu ri. - Você o que?

- Não vou repetir. - Deixem um selinho nele e fui de encontro as meninas, para embarcarmos.

𝙸𝚗𝚜𝚝𝚊𝚐𝚛𝚊𝚖 | 𝙴.𝙰 (𝙿𝚎𝚙𝚎)⁽ᶠᶦⁿᵃˡᶦᶻᵃᵈᵃ⁾Onde histórias criam vida. Descubra agora